As Strippers Zumbi (Jay Lee, 2008)
Com: Robert Englund, Jenna Jameson, Carmit Levité, Joey Medina, Calvin Green
Que um filme como esse tenha conseguido tamanha exposição e eventualmente um lançamento comercial decente é motivo para comemoração efusiva por parte de todos os fãs dos longas bizarros de baixo orçamento. Se pensarmos bem podemos concluir que o diretor faz-tudo foi bem esperto, ou seja, colocou num mesmo filme strippers e zumbis, tratando de escalar no elenco dois ícones de cada "ramo": Robert Englund (o velho e ainda insuperável Freddy Krueger original), como o dono da casa noturna onde se passa a história, e Jenna Jameson, ex-musa da indústria pornográfica que aqui faz o papel de líder das strippers. Ela é a primeira a ser contaminada pelo vírus que escapa de uma instalação militar graças à incompetência da equipe de elite responsável por erradicar as criaturas comedoras de carne. Contrariando as expectativas, as moças zumbificadas fazem mais sucesso na boate que as moças normais, e é aí que começa a sangueira desenfreada. Ponto mais do que positivo em As Strippers Zumbi, o gore e o trabalho de maquiagem são feitos de forma sublime e não deixam nada a desejar às produções de maior calibre, sustentando a palhaçada com bastante eficácia. O nível de qualidade e o desfile de mulher pelada é generoso, mas não há nenhuma ousadia a mais no âmbito sexual. Em meio à canastrice do todo, aos erros grosseiros de continuidade e à atrocidade de alguns diálogos, é possível se divertir de verdade se você estiver disposto a entrar no clima. Meu voto é que o filme adquira logo a categoria de cult, ele merece.
Drive-thru - Fastfood da Morte (Brendan Cowles e Shane Kuhn, 2007)
Com: Leighton Meester, Nicholas D'Agosto, Melora Hardin, Lola Glaudini, Larry Joe Campbell
Como fã de coisas bizarras, tenho que admitir que um título como Drive-thru - Fastfood da Morte é simplesmente irresistível, por todas as razões que todos nós amamos sobre estes filmes esquecidos pelo mainstream. Infelizmente, este aqui fica muito abaixo da média, seja por conta da história completamente sem noção e estúpida ou pela direção absolutamente inepta dos pais da criança. O tal do drive-thru é uma lanchonete tipo McDonald's cujo palhaço-símbolo certo dia começa a matar jovens a esmo. O bicho aparece do nada, onde quer, e manda ver das formas mais variadas possíveis. A adolescente Mackenzie (Leighton Meester) acaba se tornando a principal personagem da história por ser a única capaz de "entender" o motivo por trás da selvageria do palhaço assassino. Como slasher o filme não surpreende ninguém, mas ele peca mesmo por chamar a plateia de imbecil, principalmente no desfecho porco, daqueles em que o roteirista ficou sem saber o que fazer e terminou de qualquer jeito pra receber a grana do contrato. Não adianta nada colocar cinco minutos (!) de erros de gravação depois dos créditos finais, mas sabem qual é o pior de tudo? Uma sequência está a caminho! Medo, muito medo.
O Anti-cristo (Richard Friedman, 2007)
Com: Alison Brie, Eddie Velez, Kane Hodder, Denise Crosby, Joan Severance
Depois de passar por um fenômeno maluco durante o enterro da mãe e aparecer subitamente grávida sem nunca ter feito sexo na vida, a adolescente Mary (Alison Brie) começa a ser vítima de uma dupla personalidade que a força a matar e consumir o sangue das vítimas. Seu pai e sua irmã mais velha (Denise Crosby), uma religiosa fanática, fazem de tudo para que a estranha gravidez seja conduzida da forma mais normal possível, enquanto um padre justiceiro (Eddie Velez) e um demônio que quer voltar a ser humano (Kane Hodder) estão esperando ansiosos pelo nascimento do bebê. Sim, este é mais um horror apocalíptico de pobre (leia-se: valores de produção vergonhosos), que com certeza ganha notoriedade junto aos fanáticos devido à presença no elenco de alguns medalhões do gênero. Descontando a temática exaurida até a última linha de roteiro e a presença de alguns efeitos especiais desastrosos, principalmente aqueles que mostram a "criança" na barriga da mãe, é preciso dar um pouco de crédito à performance da protagonista, ao gore bem dosado e à nudez barata que permeia o filme. Infelizmente é difícil relevar a ruindade do todo, mesmo mantendo as expectativas baixas e não se deixando enganar pelo título pretensioso com o qual o filme foi rebatizado no Brasil.
Os Mercenários (Sylvester Stallone, 2010)
Com: Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Eric Roberts, Giselle Itié
Revendo e reapreciando, desta vez pude acompanhar com mais atenção algumas coisas em Os Mercenários. Uma delas é a questão levantada sobre a cena que reúne o trio Planet Hollywood: Stallone, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger. Minha conclusão é que, num mundo onde as câmeras ainda são responsáveis por tudo que é mostrado em cena, os três realmente estiveram no mesmo lugar ao mesmo tempo, ou seja, filmaram a cena juntos. Digo isso porque houve alguma especulação sobre a edição espertinha e a possibilidade de Schwarzenegger ou Willis terem gravado suas cenas separadamente. Agora, se estamos considerando um mundo onde os efeitos especiais imperam, tendência iniciada pra valer por George Lucas em Star Wars Episódio I, nada impede que os três atores tenham sido perfeitamente colocados juntos por meio de computação gráfica. Se este for o caso, daqui a algum tempo vai ter ator fazendo o trabalho sem sair de casa, diante de uma parede verde gigante, enquanto degusta um whisky com gelo de 10 em 10 minutos.
Resident Evil 3 - A Extinção (Russell Mulcahy, 2007)
Com: Milla Jovovich, Oded Fehr, Ali Larter, Iain Glen, Mike Epps
Neste terceiro filme, o motivo da longevidade da franquia cinematográfica de Resident Evil fica bem claro. Não se trata dos zumbis, não se trata da competência dos cineastas e também não se trata das histórias. O que segura todos os filmes é Milla Jovovich. É ela quem justifica os milhões gastos e os outros milhões garantidos em bilheteria, e hoje soa meio estranho pensar que um dia eu já a considerei uma atriz sem relevância alguma (culpa do insuportável O Quinto Elemento). Em A Extinção, a ausência inexplicada da heroína original Jill Valentine (Sienna Guillory) é meio que compensada pela introdução da personagem de Ali Larter, que entra para o grupo com uma grande responsabilidade, principalmente diante dos fãs do vídeo-game, mas passa o filme todo em branco porque é eclipsada por Jovovich. Mesmo assim, continuo a apreciar o estilão chupado de Mad Max e o fato de personagens morrerem às pencas ao longo da história, que obviamente ruma para um conflito de escala global no seu desfecho.
Diavolo in Corpo (Marco Bellocchio, 1986)
Com: Maruschka Detmers, Federico Pitzalis, Anita Laurenzi, Alberto Di Stasio, Riccardo De Torrebruna
A.K.A. Devil in the Flesh — Com o noivo mafioso preso por motivos que nunca são claramente mostrados, a belíssima Giulia (Maruschka Detmers) acaba atraindo a atenção de um estudante (Federico Pitzalis), se entregando a uma relação que não tem perspectiva alguma de durar. O pai do garoto alerta para o fato dela ser mentalmente instável e propensa a imprevisíveis ataques de raiva, mas quem consegue pôr juízo na cabeça de um rapaz de 18 anos num momento desses? Todas as evidências apontam para um grande furor causado na Itália durante o lançamento deste filme, um dos primeiros exemplos do cinema contemporâneo em que uma atriz estabelecida e conhecida protagoniza uma cena explícita de sexo (fonte: imdb). Tirando essa única cena, o restante do longa traz um belo olhar contemplativo sobre a improvável história de amor. E se há uma coisa que o diretor Bellocchio faz bem é aproveitar a silhueta estonteante de Maruschka Detmers, uma atriz irresistível, de sorriso contagiante. Ele só foi longe demais na cena polêmica, que tal qual o apelativo título do filme não acrescenta nada à história além de uma desnecessária camada de censura.
Shou xing xin ren lei (Man Kei Chin, 2000)
Com: Sammuel Leung, Sophie Ngan Chin Man, Gwennie Tam
A.K.A. Naked Poison — Para a sua dose rotineira de esquizofrenia cinematográfica, nada como mais um dos infames pastiches CAT III de Hong Kong! Esse Naked Poison não foge à regra, e é provavelmente mais anormal que os produtos geralmente associados a essa categoria tão marginalizada. Afinal, o filme flui sem qualquer sutileza entre a comédia adolescente, a pornochanchada, o thriller e o horror urbano, com resultados não muito satisfatórios. Chi (Sammuel Leung) é um jovem tímido, porém altamente perturbado. O rapaz passa o dia todo se masturbando, espionando a vizinha e tirando fotos de garotas às escondidas. No trabalho, é ridicularizado pelo chefe e por sua secretária. Quando seu avô morre ele herda do velho a sua farmácia, incluindo uma série de venenos e poções milagrosas que o cara usa para transformar mulheres em ninfomaníacas e para escravizar os desafetos. Será que a única garota que se interessa genuinamente por ele (a bela Gwennie Tam) será capaz de colocar juízo em sua cabeça?
Às vezes divertido e às vezes simplesmente bizarro, o filme é cruel por tentar fazer a plateia simpatizar com um protagonista que lentamente se converte num vilão da pior espécie. Além desse tipo de anomalia temática, coisas como o policial abertamente gay e o desfecho gosmento garantem a espiada que o filme merece junto aos fãs dos filmes obscuros de Hong Kong. Só faltou mesmo Gwennie Tam se juntar às demais atrizes em matéria de desinibição, se é que vocês me entendem.
Resident Evil 4 - Recomeço (Paul W.S. Anderson, 2010)
Com: Milla Jovovich, Ali Larter, Wentworth Miller, Shawn Roberts, Boris Kodjoe
Seguindo exatamente o que havia sido sugerido ao final de Resident Evil 3, a heroína Alice (Milla Jovovich) decide acabar de uma vez por todas com a sede da corporação Umbrella no Japão com a ajuda de suas inúmeras clones. As coisas não saem bem como o planejado, e ela decide ir atrás dos amigos no Alaska. Depois de reencontrar uma Claire (Ali Larter) desmemoriada, as duas perambulam e se deparam com um novo grupo de sobreviventes, entre eles o irmão perdido de Claire (Wentworth Miller, no papel do principal personagem dos vídeo-games). Como esperado, os zumbis continuam a dominar o planeta, só que desta vez eles evoluíram para criaturas ainda mais mortíferas graças a algumas mutações misteriosas. Retornando à direção da franquia que criou, Paul Anderson faz o diabo com a tecnologia 3D, concebendo sequências de ação altamente elaboradas e abusando de efeitos bullet time e de câmera lenta. Aliás, a contagem de cenas em câmera lenta chega a ser absurda – ela não é de todo ruim, mas incomoda um pouco. Felizmente, o material é denso o suficiente para justificar a continuidade da série. A cena inicial, por exemplo, é puro deleite e faz a alegria de fãs de mangás japoneses e de coisas altamente escapistas como Akira.
O Último Exorcismo (Daniel Stamm, 2010)
Com: Patrick Fabian, Ashley Bell, Iris Bahr, Louis Herthum, Caleb Landry Jones
Quase desanimei quando O Último Exorcismo começou, porque fiquei com medo de um tema tão batido ser desperdiçado em mais um daqueles filmes de tons documentais derivados do seminal A Bruxa de Blair. Quase dormi, até. Felizmente, o filme consegue pegar no tranco quando revela que o tal pastor fervoroso (feito por Patrick Fabian, que tem a cara e o jeito de Woody Harrelson) na verdade perdeu a fé e se converteu num charlatão que vive de fazer exorcismos de fachada. Disposto a documentar com detalhes aquele que será seu "último" trabalho e desmistificar a falsidade por trás do fenômeno, o cara se junta a dois amigos e parte para sua última missão: exorcizar uma jovem de 16 anos (Ashley Bell) que foi possuída no descampado rural da Louisiana. Não é preciso dizer que ele vai, pela primeira vez na vida, encarar seu primeiro desafio verdadeiro contra os enviados do capeta. A ambientação é boa: Louisiana + cenário rural desolador + família desestruturada + muita merda varrida para debaixo do tapete = história que ao menos vale a pena ser vista. Patrick Fabian tem o mérito de manter a coesão do filme, que conta com um final completamente sinistro e anti-hollywoodiano.
O Retorno dos Tomates Assassinos (John De Bello, 1988)
Com: Anthony Starke, George Clooney, Karen Waldron, John Astin, Steve Lundquist
Dez anos se passaram desde que a ameaça dos tomates foi vencida e os tenebrosos vegetais erradicados da face da terra. Seu comércio ficou restrito ao tráfico ilegal, e os cardápios de todas as culinárias extirparam os tomates de suas receitas. Como no caso da pizzaria de Wilbur Finletter (J. Stephen Peace), herói do filme anterior que agora faz pizzas sem molho de tomate. Ironicamente, seu sobrinho Chad (Anthony Starke) acaba atraindo a atenção de uma loiraça (Karen Waldron) que é na verdade uma mulher-tomate desgarrada dos laboratórios do cientista louco Gangreen (John Astin), que secretamente prepara o retorno triunfante dos tomates assassinos.
Pérola absoluta dos filmes classe B, O Retorno dos Tomates Assassinos é provavelmente uma das mais subestimadas comédias de todos os tempos. Pode ser que em meio à competição na época de seu lançamento o filme tenha caído da sacola dos genéricos, mas assisti-lo hoje é nada menos que um deleite raro. Por ter sido realizado no final dos anos 80, é de se esperar que o filme satirize (sutilmente ou não) as produções mais famosas da época, de Rambo a Um Tira da Pesada, abusando de atuações exageradas, pastelão, nonsense e metalinguagem como nenhum outro talvez o tenha feito. Além disso, a presença de um então desconhecido George Clooney como um dos protagonistas praticamente triplica o valor histórico do filme, que apresenta um humor mais direto e acessível que o original enquanto se mantém fiel às suas raízes mais absurdas - como demonstra o retorno do time responsável pela primeira derrota dos tomates.
O filme é definitivamente imperdível para qualquer fã de comédias realmente inusitadas.
A Hora do Lobo (Ingmar Bergman, 1968)
Com: Max von Sydow, Liv Ullmann, Ulf Johansson, Erland Josephson, Ingrid Thulin
Quem gostou de Persona, que foi filmado um pouco antes, vai definitivamente se sentir em casa em A Hora do Lobo, considerado por várias fontes como o único filme de horror de Ingmar Bergman. Isso não é bem verdade, pois muitas das psicoses mostradas na história não são mais tenebrosas que os devaneios concebidos no próprio Persona ou em obras anteriores como O Silêncio. A tal hora do lobo, como o filme mesmo a define, é aquele momento que antecede a aurora, quando ainda é noite, a maioria das pessoas morre ou nasce e os pesadelos e medos mais profundos de alguém vêm à tona. A vítima deste tormento é um pintor (Max von Sydow) que se retirou para uma casa de campo com a esposa grávida (Liv Ullmann). Ela é quem narra a história trágica do marido, recapitulada a partir de memórias e de um diário. Bergman borra com a classe característica todas as fronteiras entre realidade e sonho/psicose, partindo de traumas e tormentos nunca claros o suficiente para que tenhamos certeza do que está de fato acontecendo. As interpretações para o conto são muitas, inclusive a tese de que Johan, o pintor, jamais existiu fora da imaginação de Alma, a esposa. Independente de quantas vezes terei que revê-lo para tentar compreender tudo, o que mais me impressionou em A Hora do Lobo é a presença de um ator chamado Georg Rydeberg, que é a cara escarrada de Bela Lugosi. Se isso foi intencional por parte de Bergman eu não sei, mas até mesmo o modo como ele o filma remete a uma certa homenagem à silhueta sinistra de Lugosi, de um modo como o próprio Lugosi jamais chegou a ser retratado nos inúmeros filmes de horror que realizou. Admiradores de Lynch, sintam-se em casa para degustar mais um precursor nato de sua árida filmografia.
Divagações postadas por Edward de 28-SET a 1-OUT de 2010