Visto em DVD em 30-SET-2010, Quinta-feira
Quem gostou de Persona, que foi filmado um pouco antes, vai definitivamente se sentir em casa em A Hora do Lobo, considerado por várias fontes como o único filme de horror de Ingmar Bergman. Isso não é bem verdade, pois muitas das psicoses mostradas na história não são mais tenebrosas que os devaneios concebidos no próprio Persona ou em obras anteriores como O Silêncio. A tal hora do lobo, como o filme mesmo a define, é aquele momento que antecede a aurora, quando ainda é noite, a maioria das pessoas morre ou nasce e os pesadelos e medos mais profundos de alguém vêm à tona. A vítima deste tormento é um pintor (Max von Sydow) que se retirou para uma casa de campo com a esposa grávida (Liv Ullmann). Ela é quem narra a história trágica do marido, recapitulada a partir de memórias e de um diário. Bergman borra com a classe característica todas as fronteiras entre realidade e sonho/psicose, partindo de traumas e tormentos nunca claros o suficiente para que tenhamos certeza do que está de fato acontecendo. As interpretações para o conto são muitas, inclusive a tese de que Johan, o pintor, jamais existiu fora da imaginação de Alma, a esposa. Independente de quantas vezes terei que revê-lo para tentar compreender tudo, o que mais me impressionou em A Hora do Lobo é a presença de um ator chamado Georg Rydeberg, que é a cara escarrada de Bela Lugosi. Se isso foi intencional por parte de Bergman eu não sei, mas até mesmo o modo como ele o filma remete a uma certa homenagem à silhueta sinistra de Lugosi, de um modo como o próprio Lugosi jamais chegou a ser retratado nos inúmeros filmes de horror que realizou. Admiradores de Lynch, sintam-se em casa para degustar mais um precursor nato de sua árida filmografia.
O DVD tem como extras um valioso making-of de quase meia hora, entrevistas curtas com Liv Ullmann e Erland Josephson, o trailer do filme e também os trailers de O Ovo da Serpente, Através de um Espelho, Luz de Inverno, O Silêncio, O Sétimo Selo, Persona e Sonata de Outono.