Visto em DVD em 23-JUL-2009, Quinta-feira
Ver Ingmar Bergman enveredando pelo mainstream é o que mais me surpreendeu em O Ovo da Serpente. A assinatura do mestre está lá, principalmente na direção de atores, e se mescla a valores de produção ousados e muito pouco vistos em seus filmes, cortesia do nome forte de Dino de Laurentiis. David Carradine faz o papel de um trapezista americano na Berlim de Novembro de 1923, um período negro na história da Alemanha. Ele fica completamente sem rumo depois do suicídio do irmão, tendo como única conhecida na cidade a cunhada (Liv Ullmann), dançarina de cabaré que ainda não sentiu os efeitos da degradação social que assola o país.
Através dos problemas dos personagens, Bergman passa um panorama sutil e abrangente do desespero econômico que antecedeu o putsch da cervejaria, como ficou conhecido o golpe militar fracassado de um então desconhecido Adolf Hitler. As sementes do nazismo são entrelaçadas com a triste decadência da sociedade alemã, e é até refrescante perceber como o filme se mantém fiel ao estilo de Bergman sem abrir mão de alguns componentes típicos de filmes de grandes estúdios, como a presença de um vilão ou a inclusão de uma grande revelação no desfecho da história. Nunca tive muito contato com o trabalho de David Carradine, mas aqui dá para se ter uma ideia de que ele foi um bom ator, apesar do aspecto nada redentor de seu personagem em meio à característica carga emocional bergmaniana. O Ovo da Serpente se encerra fazendo jus ao tema que retrata e esfregando na cara do espectador que, apesar deste ser um trabalho mais comercial seu, Bergman não se entregou completamente à máquina de Hollywood. Um belo filme, e ainda por cima uma amarga aula de história.
Os únicos extras do DVD são uma biografia curta de Ingmar Bergman, trailer do filme e também os trailers de Através de um Espelho, Luz de Inverno, O Silêncio, O Sétimo Selo, Persona e Sonata de Outono.