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Filmes Vistos em Maio - Parte 2

Sudojo Lucia - Kegasu (Koyu Ohara, 1978) 4/10

Com: Yuki Nohira, Rei Okamoto, Rumi Tama, Tamaki Katsura

A.K.A. Sins of Sister Lucia — Jovem rebelde e safada (Yuki Nohira) é enviada pelo pai para ser disciplinada num convento onde as freiras transformam a sua clausura num caldeirão de lascívia reprimida. O óbvio não demora a acontecer: a novata, então rebatizada como irmã Lucia, passa a inspirar todas as outras nos pecados da carne. Mais um nunsploitation típico da escola japonesa, cortesia do mesmo diretor que cometeu Wet & Rope, Sins of Sister Lucia é generoso na dose de erotismo softcore e não tem vergonha nenhuma de ser aquilo que é: um pastiche sem qualquer preocupação moral, prato cheio para os cinéfilos de espírito hedonista dispostos a desligar o cérebro por pouco mais de uma hora. Estrela destes dois filmes de Ohara, Yuki Nohira tem um rosto bastante fotogênico apesar de não ser nenhum estouro de mulher. Um lado engraçado de Sins of Sister Lucia é notar que, depois da metade do filme, ela passa o tempo todo comendo uma maçã que não acaba nunca (metáfora óbvia e insistente), enquanto olha o convento ir para o beleléu e o circo pegar fogo à sua volta.

Anjos e Demônios (Ron Howard, 2009) 7/10

Com: Tom Hanks, Ayelet Zurer, Ewan McGregor, Stellan Skarsgård, Armin Mueller-Stahl

Respondendo ao sucesso de público de O Código Da Vinci, Ron Howard e Tom Hanks continuam com sua visão cinematográfica para os best-sellers de Dan Brown (que eu, obviamente, nunca li e nem tenho a intenção de ler). O estilo de thriller investigativo continua nesta sequência, que se passa após os eventos do filme anterior (ao contrário dos livros) e leva o simbologista Robert Langdon (Hanks) a tentar decifrar quem está por trás do rapto dos pretendentes a papa após a morte súbita do atual sumo-pontífice. Em paralelo corre uma ameaça terrorista que ameaça mandar o Vaticano pelos ares, motivo pelo qual Langdon se une à física Vittoria Vetra (Ayelet Zurer) em sua frenética busca pela verdade a partir das pistas deixadas por um comunicado dos Illuminati, enquanto o curador do Vaticano (Ewan McGregor) faz o possível para administrar a passagem pacífica do manto papal. A produção ambiciosa é restrita a praticamente um ambiente apenas, e a ação enxuta quase consegue abafar alguns momentos de tédio que existem em mais de duas horas de filme. Eu sei que vai soar estranho mas, como um Indiana Jones menos físico, Tom Hanks chega a lembrar Brandon Fraser nos filmes da série A Múmia. Nos finalmentes, Anjos e Demônios fica mais ou menos no mesmo nível do filme anterior.

Maldição (Courtney Solomon, 2005) 5/10

Com: Rachel Hurd-Wood, Donald Sutherland, Sissy Spacek, James D'Arcy, Gaye Brown

Minha fascinação por este filme, um terror mediano que dificilmente se sobressai em meio a tantos outros que costumam tomar as salas de cinema todos os anos, tem um rosto e um nome apenas: Rachel Hurd-Wood. Que atriz linda, meu Deus do céu! Tomara que ela não desista de fazer cinema tão cedo, e que permaneça tão bela quanto está neste Maldição, em que faz o papel de uma adolescente vitimada por uma assombração agressiva no início do século 19. Os valores de produção são ótimos (as locações principais foram filmadas na Romênia), porém não dá para levar a sério um roteiro que não desenvolve os personagens a contento e que traça um paralelo muito distante e desconexo entre eventos passados e atuais. A grande verdade – e o que me levou a adquirir o DVD – é que a srta. Hurd-Wood é um dos melhores colírios que os olhos cansados de um cinéfilo podem vislumbrar ao final de um dia de exaustiva realidade. Minha esperança é que algum dia o talento da moça se eleve ao nível de sua beleza.

Mo (Chih-Hung Kwei, 1983) 4/10

Com: Phillip Ko, Somjai Boomsong, Xiaoyen Lin, Bolo Yeung, Jiawen Wei

A.K.A. The Boxer's Omen — Na história do cinema de Hong Kong, nenhum outro estúdio foi tão proeminente quando o dos irmãos Shaw (Shaw Brothers), que está na ativa desde antes da 2ª Guerra Mundial. Especializado em filmes de artes marciais, houve ainda um breve período em que o estúdio se dedicou a obras de horror, coincidentemente ao final de seu primeiro período de vida, no início dos anos 80. The Boxer's Omen foi minha introdução a este universo algo obscuro, caótico e insanamente bizarro. Uma mistura não muito homogênea de artes marciais com terror, o filme é feito de colagens narrativas ligadas por fiapos de história, que de alguma forma interligam a vingança de um lutador chinês (Phillip Ko) contra o boxeador tailandês (Bolo Yeung) que aleijou seu irmão à epopeia que o cara empreende para combater um bruxo que ameaça seu bem-estar e o do seu irmão reencarnado, um monge morto-vivo em decomposição. Muito poucas vezes assisti a um filme que alternasse de forma tão brutal passagens brilhantes em sua intensidade cênica com longos períodos de tédio quase insuportável. Um pouco mais de senso de ritmo teria feito maravilhas aqui, ainda mais quando se percebe a total falta de intimidade entre plateias ocidentais e a cultura budista mostrada na história. Ainda assim, é perfeitamente possível se divertir com as bizarrices, com os hilários (d)efeitos especiais e com as inúmeras cenas carregadas de um alto teor de choque - algumas delas muito bem-feitas e verdadeiros testamentos do conceito mais extremo de criatividade cinematográfica.

Encontrando Forrester (Gus Van Sant, 2000) 8/10

Com: Sean Connery, Rob Brown, F. Murray Abraham, Anna Paquin, Busta Rhymes

A eterna história de mestre e aprendiz ganha nova versão neste filme, que usa como pano de fundo a literatura. Sean Connery é um escritor recluso e ranzinza, famoso por ter lançado apenas um livro de muito sucesso no passado. Morando no Bronx, não tarda para que certas circunstâncias acabem por colocá-lo em contato com Jamal (Rob Brown), um adolescente negro de 16 anos, jovem brilhante, que se dá tão bem dentro das quadras de basquete quanto escrevendo. Os paralelos com Gênio Indomável, também de Gus Van Sant, são inevitáveis. Encontrando Forrester, no entanto, utiliza uma abordagem mais sutil e ancorada na realidade, com atuações contidas e eficientes (em especial de Sean Connery, num papel parcialmente inspirado em J.D. Salinger). F. Murray Abraham aparece mais uma vez estigmatizado como o algoz invejoso, e Anna Paquin dá as caras como um provável interesse amoroso do jovem protagonista. Van Sant é um diretor bom o suficiente para imprimir um olhar interessante à história algo batida, o que fica evidente em como não se percebe a passagem do tempo em mais de duas horas de filme. O resultado é um trabalho de elevada carga inspiradora, indicado especialmente para aspirantes a escritores.

O Rito (Ingmar Bergman, 1969) 7/10

Com: Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand, Anders Ek, Erik Hell, Ingmar Bergman

Ingmar Bergman sempre alternou seus esforços entre o cinema e a televisão. A curta duração de O Rito atesta sua origem televisiva, mas a produção não deve nada em matéria de conteúdo emocional quando comparada às obras de cinema feitas pelo cineasta sueco na mesma época (Persona e Gritos e Sussurros, por exemplo). Ingrid Thulin e Gunnar Björnstrand, dois dos coloboradores habituais mais famosos do diretor, se unem a Anders Ek como um trio de artistas que são investigados por um oficial ardiloso (Erik Hell), em entrevistas tensas cujo objetivo é esclarecer o conteúdo misterioso de um de seus números teatrais. A intimidade dos personagens é então desnudada em cenas que se alternam entre o escritório de interrogação e a rotina dos artistas. O que termina por diferenciar esta obra menor de Bergman das outras é a surpreendente cena final, que confere ao filme seu título e coroa a aura de "obscena" levemente evocada pelo investigador durante toda a história. Não consegui capturar o significado exato do desfecho (se é que ele existe), mas fica pelo menos evidente a paulada crítica desferida contra todas as formas de censura provavelmente vigentes à época em que o filme foi produzido.

Divã (José Alvarenga Jr., 2009) 6/10

Com: Lília Cabral, José Mayer, Alexandra Richter, Reynaldo Gianecchini, Cauã Reymond

Se um filme lançado sem grande alarde consegue ficar mais de quatro semanas em cartaz, com certeza ele merece a atenção de quem frequenta as salas de cinema, especialmente se estamos falando de um filme nacional. Foi assim, portanto, que me convenci a sair de casa no Domingo frio para ir assistir a Divã.

Divã tem como protagonista a veterana global Lília Cabral, que em toda sua carreira jamais deve ter tido um papel de tanto destaque num filme (ou mesmo novela). A seu favor Lília pode ficar orgulhosa por carregar o filme nas costas, tornando-se assim o maior trunfo de uma comédia um pouco verborrágica (mal recorrente das comédias brazucas) e que se esforça para fugir dos clichês. Ela é Mercedes, mulher casada de meia idade que passa a ir ao analista e assim descobre uma nova vida ao seu redor, tanto em seu relacionamento com o marido (José Mayer) quanto com um jovem galanteador (Reynaldo Gianecchini). O roteiro faz bem em atribuir o devido valor a cada um dos personagens coadjuvantes, contando com pelo menos um par de cenas hilariantes e uma mão pesada no drama sério já na reta final do filme. O padrão geral é o mesmo das demais produções da Globo Filmes e, se não revoluciona o cinema de entretenimento brasileiro, pelo menos não faz feio e põe um sorriso real na cara da plateia assim que os créditos começam a subir (real no sentido de "calcado na realidade", não no sentido de "engraçado").

Divagações postadas por Kollision de 29-MAI a 1-JUN de 2009