Quem é chegado a bizarrice sem sentido vai se sentir em casa com este filme, um Pink-eiga conhecido no ocidente por Wet & Rope ou Wet Rope Confession. Os japoneses já não são notórios pelo puritanismo com que seus trabalhos mais extremos são feitos, mas a adição de nuances culturais que só lá na terra deles seriam possíveis faz com que qualquer coisa seja apreciável, por pior que seja. É exatamente este o caso de Wet & Rope, um filme praticamente inclassificável que talvez fique confortável somente dentro do gênero do suspense erótico. De qualquer forma, trata-se de uma experiência de estupefação múltipla, seja pela ruindade, pelas bizarrices ou pelo humor desproposital.
A história é impossível, e existe somente como pretexto para o show proporcionado pelo diretor Koyu Ohara. Logo após se casar, noiva (Yuki Nohira) é estuprada por dois bandidos diante do marido em sua noite de núpcias. Deserdada pelo companheiro, ela decide se suicidar mas é salva na última hora por um padre que a orienta a entrar para um convento e dedicar sua vida ao Senhor. Como esperado, ela se torna testemunha de todo o tipo de perversão imaginável e mais um pouco: sexo, lesbianismo, sadismo, chicotadas (parece que é regra em todo nunsploitation japonês!) e devassidão generalizada. Ela se afeiçoa a um malfeitor procurado pela polícia que se esconde no convento, e a seguir é convencida pelo padre a ser a atriz principal de um ritual surpresa realizado pelas freiras.
Carregado com os zooms e os closes típicos da época e do próprio cinema japonês, Wet & Rope poderia ter sido um trabalho pornográfico, tivesse a censura permitido tal empreitada. O diretor leva suas cenas de sexo simulado ao limite, porém sem chegar ao explícito. Como protagonista, Yuki Nohira compensa a falta de voluptuosidade com um semblante de moça pura, mas devido a uma natureza devassa bem camuflada se revela sutilmente safada nas cenas em que é violentada. Como manda a cartilha da safadeza em obras do tipo, primeiro elas gritam para depois demonstrarem mesmo sem querer que estão gostando da coisa. Isso só se aplica a ela, claro, porque o resto das freiras do convento já se entregou à indecência há muito tempo.
Mencionar as passagens bizarras do filme é o que justifica o interesse, já que o roteiro é praticamente um zero. O final, particularmente, trata de compôr um desfecho quase surreal em matéria de deturpação dos valores religiosos, para depois subverter toda a história com um idílio romântico sobre o feno! Seria o cúmulo da ruindade ou a fronteira do brilhantismo crítico-sarcástico? Sacanear a igreja católica desta forma definitivamente não vai de encontro às idéias de quem é religioso e se ofende com tal material. Quem encarar pode se divertir, de novo com a desculpa de que, se um filme é assim tão ruim, mas tão estranho, alguma coisa ele deve ter de bom.
O áudio do DVD é em japonês, acompanhado por legendas em inglês. Por mais que alguém se empolgue num nível mínimo com as baboseiras do filme, é bem provável que a seção de extras se mostre ainda mais interessante. Nela, há o trailer de Wet & Rope e também os trailers de outras obras similares (e melhores): Shiryo No Wana (Evil Dead Trap, 1988), Shiryo No Wana 2: Hideki (Evil Dead Trap 2, 1991), Shojo No Harawata (Entrails of a Virgin, 1986), Bijo No Harawata (Entrails of a Beautiful Woman, 1986) e Dabide No Hoshi: Bishoujo-gari (Beautiful Girl Hunter, 1979).
Visto em DVD em 30-DEZ-2006, Sábado - Texto postado por Kollision em 4-JAN-2007