Para os fãs dos (s)exploitation movies, as obras vindas do Japão são o que há de mais diferenciado e inesperado, geralmente indo onde nenhum outro filme do ocidente ousaria ir. Combinar a estética do horror e do sexo como os japoneses são capazes de fazer, mesmo com as rígidas regras de uma censura que só foi cair por terra nos anos 90, é um dos motivos de porque coisas absurdamente malucas como Shojo No Harawata e Bijo No Harawata (sua continuação) continuam a encontrar público mundo afora. Entrails of a Virgin, obviamente, é um título que incorpora todas as expectativas dos fanáticos pelo cinema obscuro (algo como "As Tripas de uma Virgem"). É uma viagem tão doentia que chega a perder o apelo macabro, sendo o principal culpado disso tudo a enorme carga de sexo softcore que domina boa parte do filme. Uma característica anula o que a outra tem de melhor, transforma a obra numa comédia de humor negro e desmente em parte o impacto inicialmente suscitado, por exemplo, pela apelativa capa do DVD.
A história é inexistente, para todos os efeitos. Basta saber que uma equipe de fotógrafos e modelos, viajando pelas montanhas, é surpreendida por um nevoeiro espesso e é obrigada a procurar abrigo numa casa abandonada. Dois dos homens são tarados sem escrúpulos, e logo seduzem duas das moças durante a noite. A terceira garota, amante rejeitada do fotógrafo, é humilhada até pelo contra-regra, e algum parafuso se solta na sua cabeça. Enquanto isso, um maníaco coberto de lama permanece à espreita para atacar, estuprando sem piedade e matando qualquer um que encontra pelo caminho com indescritíveis requintes de crueldade.
O diretor Kazuo 'Gaira' Komizu pode declarar que não aprecia os filmes de horror americanos do tipo Sexta-feira 13, mas o que ele faz aqui é exatamente dar ao espectador tudo o que ele espera de Jason Voorhees quando o monstro se depara com uma adolescente boboca dando sopa na floresta. E não é somente a machadada de sempre na cabeça, sem quaisquer preliminares... Percebe-se também alguma influência de outras obras ocidentais que discorrem sobre o tema básico dos "manés perdidos numa cabana", como A Morte do Demônio (Sam Raimi, 1981). Tais influências só aparecem mesmo na segunda metade do filme, já que a primeira não sai da estrutura de cenas entrecortadas de sexo simulado e do grupelho interagindo nas montanhas, no carro, na cabana, com muitos pedaços de frame borrados para driblar a proibição contra a exibição de genitálias. Isso significa, obviamente, que o filme acaba sendo um pastiche softcore com algum horror, e não um horror com algum pastiche softcore. Capisce?
O filme, portanto, não é para todos os gostos. Tecnicamente, ele fica devendo em matéria de iluminação nas cenas noturnas. As cenas de sexo simulado podem se tornar repetitivas depois de algum tempo, mas a violência misógina exacerbada da narrativa exclui completamente as mulheres da platéia. O gore não é um primor, mas tem lá suas qualidades. Porém, tudo descamba para o escrachado no momento em que o maníaco decide mandar ver e cata as moçoilas que ficam andando nuas ao redor da casa. Quando ele fala, sua voz distorcida é motivo de riso, mas não seus atos. Nem os de uma moça no cio que precisa se aliviar DE QUALQUER JEITO, nem que para isso precise usar o braço decepado de um colega morto! Enfim, tudo trilha uma linha bem tênue entre o aspecto doentio típico deste tipo de filme e o simples mau gosto.
Estejam avisados. Be warned. Seid vorsichtig.
O DVD Região 0 da Synapse Films disponibiliza o filme com áudio original em japonês e legendagem em inglês. A seção de extras vem com o trailer e com uma entrevista de 15 minutos com o diretor, onde ele passa a impressão de ser um idiota completo.
Visto em DVD em 10-MAR-2007, Sábado - Texto postado por Kollision em 15-MAR-2007