Thriller - En Grym Film (Bo Arne Vibenius, 1974)
Com: Christina Lindberg, Heinz Hopf, Despina Tomazani, Per-Axel Arosenius, Solveig Andersson
A.K.A. Thriller - A Cruel Picture ou Hooker's Revenge – Estandarte dos filmes de vingança da década de 70, estrelado pela musa underground Christina Lindberg e notório por algumas breves inserções pornográficas, Thriller tenta com bastante afinco caracterizar a motivação para a violência perpetrada por sua protagonista em seu terço final, uma espécie de exagero em câmera lenta que leva a influência de Sam Peckinpah às últimas conseqüências. Econômico em diálogos (Lindberg não profere uma única palavra o filme inteiro) e heróico ao não enveredar pelo exploitation puro no que se refere ao sofrimento da protagonista, o roteiro tem vários furos e o filme pena com os sofríveis valores de produção (parece que todas as cenas externas foram filmadas no mesmo bosque). A história é simples e os acontecimentos se desdobram a partir daí: adolescente traumatizada na infância é raptada por um marginal e forçada a se prostituir, enquanto um desejo de vingança vai se acumulando de forma perigosa e imprevisível.
No balanço geral e apesar de todas as suas limitações, percebe-se que existe um genuíno valor cult nesta obra, tanto pela presença voluptuosa de Lindberg quanto por algumas cenas que são logo de cara antológicas. A perfuração REAL de um olho é uma delas, e a vingança final contra o vilão – Heinz Hopf, uma espécie de ascendente distante de Cillian Murphy – é um achado, terminando a catarse de violência em grande estilo.
10.000 A.C. (Roland Emmerich, 2008)
Com: Steven Strait, Camilla Belle, Cliff Curtis, Joel Virgel, Affif Ben Badra
Atenção papais e mamães que assistiram a Apocalypto e ficaram com receio de que seus filhos também fossem vê-lo e ficassem expostos à violência orquestrada pelo Sr. Mel Gibson. Eis que chega a versão light, intitulada 10.000 A.C. e orquestrada por Roland Emmerich, que curiosamente dirigira Gibson em O Patriota. A história dos dois filmes é praticamente idêntica: tribo malvada rapta e escraviza a tribo boazinha, e um herói relutante se erguerá contra os malvados para resgatar seus entes queridos. A diferença crucial é que a obra de Emmerich é uma colagem historicamente indecente de várias épocas, que se aproveita gratuitamente do punch no nome 10.000 A.C. para se vender. É quase como uma Sessão da Tarde em sua temática heróica, clichezenta e rasa, não fossem os efeitos especiais acachapantes que dão vida a mamutes, tigres dentes-de-sabre e avestruzes carnívoras com a mesma naturalidade com que compõem cenários grandiosos de pirâmides sendo construídas no deserto. A pergunta crucial neste caso é: se é para gastar tanto dinheiro, por que não fazer algo com um mínimo de inovação?
No mais, talvez desligando o deconfiômetro histórico a palhaçada até passe como uma aventura descerebrada.
O Monstro da Lagoa Negra (Jack Arnold, 1954)
Com: Richard Carlson, Julie Adams, Richard Denning, Antonio Moreno, Nestor Paiva
Provavelmente o filme de monstro mais clássico da década de 50, O Monstro da Lagoa Negra de fato merece uma certa reputação cult. Principalmente para nós, brasileiros, já que o filme se passa na selva amazônica e, assim, oficialmente faz com que a criatura seja tupiniquim!
Quando um fóssil estranho surge nas escavações de um cientista em plena selva amazônica, ele reúne um grupo de exploradores para procurar o resto de seu esqueleto, embrenhando rio e selva adentro até se deparar com um ser humanóide que vive submerso na tal “lagoa negra”. Hoje a história e o tema parecem batidos devido a muitas porcarias que surgiram desde então. Porém, para a época, o filme trazia cenas sub-aquáticas muito bem filmadas, além de proporcionar um irrepreensível deleite trash com a roupa da criatura e o estridente tema musical que sempre acompanha a sua aparição. Os mais atentos também não deixarão de perceber características que ecoam em Tubarão (Steven Spielberg, 1975), tanto no tratamento da presença do monstro quanto na música. O conceito da bela e da fera que surge no trecho final do filme – envolvendo a bonita Julie Adams – não ficou muito bem caracterizado, mas também não atrapalha o seu desfecho, visivelmente projetado para possibilitar o lançamento das eventuais continuações.
Jumper (Doug Liman, 2008)
Com: Hayden Christensen, Samuel L. Jackson, Jamie Bell, Rachel Bilson, Diane Lane
Para os antenados em cinema mainstream, Doug Liman é sinônimo de cool. O que se deve esperar, portanto, de um filme de sua autoria que traz um jovem capaz de se teleportar para onde quiser no mundo, mas depois de algum tempo descobre que está sendo caçado por uma patrulha inimiga que quer exterminá-lo? Uma estética de super-herói em escala global? E se os principais personagens desta história fossem Anakin Skywalker e Mace Windu? Infelizmente, as altas expectivas são frustradas por um roteiro que não se preocupa em dignificar seu herói, que atravessa o filme como um moleque mal crescido sem qualquer noção de responsabilidade – o que pode muito bem incitar uma antipatia subliminar. Rachel Bilson continua sendo um colírio para os olhos, mas não passa de muleta para o conflito carregado de efeitos especiais e absurdos gigantescos. No final, um emaranhado de pontas soltas permanece para possibilitar a provavelmente inevitável continuação... Por enquanto, Jumper só é indicado mesmo para três categorias de cinéfilos: os que não perdem uma variação do tema de super-heróis, os fãs de Rachel Bilson e os órfãos dos cavaleiros jedi.
O Imperador e a Padeira (Ernst Marischka, 1955)
Com: Romy Schneider, Siegfried Breuer Jr., Magda Schneider, Josef Meinrad, Gunther Philipp
Antes de protagonizar os filmes da trilogia Sissi, Romy Schneider ensaiou seu carisma nesta estréia dirigida pelo mesmo Ernst Marischka. Parte do elenco de Sissi também a acompanha aqui, como Magda Schneider, sua mãe na vida real, que nesta história interpreta sua tia. Romy é a garota do interior que viaja até Viena para visitá-la e aprender a trabalhar em sua famosa confeitaria. Tudo o que uma cartomante a tinha dito que aconteceria começa a se suceder, como o fato dela conhecer dois pretendentes, um fidalgo e um artista. O título em português do filme prejudica a obra de duas formas: além do óbvio duplo sentido libidinoso (ah, essa nossa cultura), ele engana quem acha que a moçoila vai se engraçar com alguém da realeza. Além disso, a ênfase aqui não está no romance – como em Sissi – e sim na comédia. É uma pena que a linha narrativa do conde iludido (Gunther Philipp) morra sem um desenvolvimento mais aprofundado, mas a sua ausência em cena é compensada pelo sempre ótimo e subestimado Josef Meinrad, aqui como o interesse amoroso da tia confeiteira. Daí vem a constatação de que a melhor coisa do longa são os coadjuvantes, que ofuscam o par central graças à inanição do mocinho (Siegfried Breuer Jr.). Ainda assim, uma diversão leve, diferenciada e com pelo menos um belo número musical no repertório, a canção aos namorados cantada por Gretl Schörg.
Imagens do Além (Masayuki Ochiai, 2008)
Com: Joshua Jackson, Rachael Taylor, Megumi Okina, David Denman, John Hensley
Lembro-me de quando assisti a Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado pela última vez. Lembro-me de ficar sabendo que uma refilmagem americana estava a caminho, e mais uma vez me contorci de desgosto com mais um monte de dólares jogados fora por nada dentro do meu gênero favorito. Agora, esse Imagens do Além concretizou meu medo.
Não perca seu tempo se você assistiu ao original. O novo não passa de uma cópia-carbono com uma nuance diferente aqui ou ali dentro da história, como o fato dos protagonistas serem americanos chegando ao Japão. Não adianta terem contratado um diretor japonês, não adianta o fato do filme ser tecnicamente decente, e também não adianta o fato dele ter Rachael Taylor, bonita e aparentemente boa atriz. Imagens do Além não bomba porque foi calcado em algo que já havia sido feito com competência. Porém, é redundante ao extremo e não acrescenta nada a quem teve o prazer de assistir ao original tailandês.
Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001)
Com: Naomi Watts, Laura Harring, Justin Theroux, Ann Miller, Dan Hedaya
Obra-prima moderna do surrealismo que melhora a cada revisão, este filme é a culminação de todas as qualidades de David Lynch como cineasta. Num nível espetacular de envolvimento, Lynch suga o espectador numa jornada de descobrimento quando uma atriz ingênua (Naomi Watts) chega a Los Angeles para realizar seus sonhos e conhece uma beldade desmemoriada (Laura Harring), passando a ajudá-la a descobrir quem é e porque ela leva consigo uma bolsa carregada de dinheiro. Mas nem tudo é o que parece. A trilha sonora de Angelo Badalamenti, colaborador habitual de Lynch, é simplesmente fantástica, e amplifica a tensão e a atmosfera de deslocamento surreal de tudo o que se passa na tela. Laura Harring é um espetáculo de mulher, mas é Naomi Watts quem arrasa em sua performance, justificando completamente o sucesso um pouco tardio do qual ela passou a desfrutar depois que fez este trabalho.
Pouco importa o fato de que este filme deveria ter sido na verdade uma série, que teria sido cancelada na última hora e reeditada como um longa-metragem (o que fica evidente devido a inserções narrativas como a do rapaz com ataque de nervos na lanchonete). Esse é provalmente um dos maiores exemplos de que há males que vêm para bem no mundo do cinema. O resultado ficou perfeito: um enigma para muitos indecifrável, ou uma bagunça extensa que não faz sentido algum? Faz sentido sim, digo eu. Ou pelo menos faz um pouco mais de sentido a cada nova revisão. Eu, por exemplo, já tenho uma interpretação pessoal dos fatos – deveras simplória – mas que pode ser lida clicando-se [spoilers à vista] aquiCidade dos Sonhos é um filme que deve ser assistido com a percepção à flor da pele e atenção redobrada aos mais mínimos detalhes. Como na abertura, por exemplo. A seqüência de dança ao ritmo dos anos 60 culmina num dissolve que mostra a personagem de Naomi Watts sorrindo em êxtase ao lado dos dois velhinhos misteriosos. A seguir, um pan conduz a câmera até o que parece ser uma cama, ou um corpo: justamente o corpo de Diane Selwyn, ou Betty, vivida por Naomi Watts, que está morta. Todo o primeiro trecho do filme, até o momento em que Rita olha para dentro da caixa azul, é um devaneio de Diane, cuja obsessão pela amante a levou a matá-la e a se consumir em culpa, numa tragédia que culmina com sua loucura e posterior suicídio, mostrado de forma perturbadora no final do filme. Tal qual nossos sonhos, a narrativa na primeira hora e meia é uma alegoria erguida com base naquilo que vimos e vivenciamos, o que nem sempre faz sentido mas é quase exatamente aquilo que desejamos que aconteça. Embutida em tudo isso está uma crítica mordaz à indústria do cinema, particularmente Hollywood, que pode ser nada menos que um monstro que destrói sonhos numa freqüência exponencialmente maior que aquela com que constrói mitos.
O Exterminador do Futuro (James Cameron, 1984)
Com: Arnold Schwarzenegger, Michael Biehn, Linda Hamilton, Lance Henriksen, Paul Winfield
O conceito de viagem no tempo é um dos pilares das histórias de ficção científica. Neste filme, trata-se da base para todo o conflito, mas a viagem aqui é de uma via apenas, do futuro para o presente, e os viajantes são um andróide assassino (Arnold Schwarzenegger) e um combatente despachado para evitar que o robô cumpra sua missão (Michael Biehn). A missão do exterminador é simples e uma só: pipocar a mãe daquele que será o líder da resistência rebelde num futuro onde as máquinas terão dominado o planeta e os humanos são caçados e chacinados como se fossem ervas daninhas.
Com uma idéia extraordinária em mente, James Cameron carimbou aqui seu passaporte para o time de grandes nomes dentro do gênero. O Exterminador do Futuro é um triunfo de execução quando em comparação com seu orçamento reduzido, e tira água de pedra graças, em sua maior parte e com toda justiça, a um nome apenas: Schwarzenegger, o homem que nasceu para viver o exterminador. Ou seria o exterminador o papel que Schwarzenegger nasceu para interpretar?
Narrativamente falando, o filme não envelheceu absolutamente nada. A tensão não desvaneceu, e os conceitos são tão atuais quanto o eram na década de 80. Tecnicamente, no entanto, as limitações dos efeitos de maquiagem são mais do que evidentes, e este é talvez o ponto mais fraco do filme. Hoje inconfundível, o tema musical de Brad Fiedel é sensacional, e tem grande importância dentro do estabelecimento do clima geral da história. Esta, emocionante e visionária, mereceu as continuações que teve e influenciou toda uma geração de filmes e cineastas. Eis aqui um neo-clássico, com certeza.
Divagações postadas por Kollision de 24 a 25 de Abril de 2008