Cinema

Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado

Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado
Título original: Shutter
Ano: 2004
País: Tailândia
Duração: 97 min.
Gênero: Terror
Diretor: Banjong Pisanthanakun, Parkpoom Wongpoom (Espíritos 2 - Você Nunca Está Sozinho)
Trilha Sonora: Chartchai Pongprapapan
Elenco: Ananda Everingham, Natthaweeranuch Thongmee, Achita Sikamana, Unnop Chanpaibool, Achita Wuthinounsurasit, Sivagorn Muttamara
Distribuidora do DVD: Playarte
Avaliação: 8

Revisto em DVD em 28-JUL-2007, Sábado

Filme tailandês que soa derivativo do hoje já batido cinema de horror japonês, mas que ainda assim possui um "algo a mais" que o diferencia do resto da safra de seguidores de Hideo Nakata e Takashi Shimizu. Esta revisão serviu mais para ratificar suas qualidades do que dirimir suas fraquezas. Mesmo perdendo um pouco do impacto quando visto em DVD, ele permanece como um dos bons longas do gênero a contar com um final surpresa. Para quem acredita em, ou se deixa influenciar por conceitos espíritas, a história consegue até mesmo fornecer algo importante para se pensar.

Se os americanos ousarem mesmo concluir uma refilmagem desta pérola, tomara que seus espíritos – e os de seus descendentes – sejam assombrados por muitos e muitos anos.

O DVD tem como extras um making-of rápido de 8 minutos, 2 minutos de entrevistas com os diretores e o elenco principal, 3 trailers e os trailers de Vem Dançar, Escuridão, Desejos Mortais e Premonição 3.

Texto postado por Kollision em 7/Abril/2006 –

Certo dia, após participar de uma reunião de amigos de faculdade, o jovem fotógrafo Tun (Ananda Everingham) e sua namorada Jane (Natthaweeranuch Thongmee) dirigem de volta para casa e, no meio do caminho, atropelam uma jovem por acidente. Assustados, os dois abandonam o local sem prestar socorro à vítima. Alguns dias depois, ambos começam a ser assombrados pela culpa e por terríveis pesadelos envolvendo uma moça fantasmagórica. Além disso, estranhas luzes e vultos passam a aparecer nas fotografias de Tun, que inicialmente acredita que o problema não passa de dupla exposição do filme ou coisa parecida. Como os dois vêem a descobrir assim que começam a investigar o que aconteceu com a garota atropelada, algo muito sinistro pode estar à espreita, tanto deles quanto de seus amigos mais próximos.

O tema dos espíritos e sinais estranhos que aparecem em fotos e filmagens não é novidade, mas a verdade é que talvez ele jamais tenha sido explorado no cinema com tamanho enfoque. Um dos casos famosos é a presença da figura de um garotinho numa das cenas da comédia Três Solteirões e um Bebê (Leonard Nimoy, 1987), que acreditava-se ser o espírito de um menino que havia morado no apartamento onde o filme fôra rodado. Por mais intrigante que o caso fosse, foi mais tarde explicado que tudo não passou do erro de um contra-regra, que esqueceu de retirar do set um pôster que, por coincidência, tinha uma foto que remetia à imagem do garoto. Obviamente, também há muitas histórias de casos ainda não-explicados, ou fotografias que nem mesmo os peritos conseguem afirmar que são de fato montagens.

Antes de aportar nos cinemas brasileiros, Espíritos teve uma carreira de extremo sucesso no exterior, seguindo o rastro um pouco duvidoso aberto pelo sensacional terror japonês Ringu (Hideo Nakata, 1998), seu remake americano e suas várias derivações e cópias. O filme tailandês se aproveita mesmo dos trabalhos e da mitologia japonesa, seja como inspiração ou como cópia descarada em determinados momentos, mas é evidente que ele consegue imprimir seus próprios méritos em mais uma história de fantasmas capaz de deixar marmanjo pensando sozinho por dias a fio. O fantasma da garota atropelada, perturbadoramente personificada em lembranças pela atriz Achita Sikamana, é um amálgama das assombrações que muitos filmes de horror japoneses recentes já apresentaram. A diferença, neste caso, está no roteiro original, que apesar de uma ou outra passagem forçada é bastante fluido e lança mão de algumas boas reviravoltas entre um susto e outro.

Infelizmente, o ponto tecnicamente mais forte da película é também o responsável por um excesso que peca ao destruir uma sutileza que seria, em minha opinião, mais útil à narrativa: a edição de som do filme é primorosa e caprichada, mas exagera no áudio abrupto e quase ensurdecedor nos momentos em que, supostamente, a platéia deveria pular da poltrona. O truque é barato, e não é nenhum pouco necessário em muitas das passagens mais tensas do filme, mas ninguém pode dizer que não funciona. E como funciona! Palmas também para a climática trilha sonora, coalhada de evoluções tenebrosas e grande aliada dos momentos mais tétricos do longa.

Como um trabalho de terror, este filme garante seu lugar no panteão dos grandes contos de fantasma. Outro dos pontos fortes da história é que a motivação do espírito que aparece nas fotos de Tun é muito bem fundamentada, o que de certa forma humaniza o crescente desespero de seu protagonista. O elenco, por sinal, faz um trabalho extremamente decente. O roteiro fecha-se em si mesmo, deixando pouca coisa para qualquer eventual reaproveitamento. E o final, um dos mais surpreendentes do recente cinema de horror, dá uma nova definição à idéia que as pessoas têm do mal invisível comumente conhecido como "encosto".