Cinema

Cidade dos Sonhos

Cidade dos Sonhos
Título original: Mulholland Dr.
Ano: 2001
País: Estados Unidos
Duração: 141 min.
Gênero: Suspense
Diretor: David Lynch (Império dos Sonhos, Twin Peaks - O Mistério)
Trilha Sonora: Angelo Badalamenti (O Flagelo dos Céus, Auto Focus, Cabana do Inferno)
Elenco: Naomi Watts, Laura Harring, Justin Theroux, Ann Miller, Dan Hedaya, Melissa George, Brent Briscoe, Robert Forster, Katharine Towne, Lee Grant, Scott Coffey, Billy Ray Cyrus, Chad Everett, Rita Taggart, James Karen, Lori Heuring, Angelo Badalamenti, Michael J. Anderson
Distribuidora do DVD: Europa Filmes
Avaliação: 10/10

Revisto em DVD em 17-ABR-2008, Quinta-feira

Obra-prima moderna do surrealismo que melhora a cada revisão, este filme é a culminação de todas as qualidades de David Lynch como cineasta. Num nível espetacular de envolvimento, Lynch suga o espectador numa jornada de descobrimento quando uma atriz ingênua (Naomi Watts) chega a Los Angeles para realizar seus sonhos e conhece uma beldade desmemoriada (Laura Harring), passando a ajudá-la a descobrir quem é e porque ela leva consigo uma bolsa carregada de dinheiro. Mas nem tudo é o que parece. A trilha sonora de Angelo Badalamenti, colaborador habitual de Lynch, é simplesmente fantástica, e amplifica a tensão e a atmosfera de deslocamento surreal de tudo o que se passa na tela. Laura Harring é um espetáculo de mulher, mas é Naomi Watts quem arrasa em sua performance, justificando completamente o sucesso um pouco tardio do qual ela passou a desfrutar depois que fez este trabalho.

Pouco importa o fato de que este filme deveria ter sido na verdade uma série, que teria sido cancelada na última hora e reeditada como um longa-metragem (o que fica evidente devido a inserções narrativas como a do rapaz com ataque de nervos na lanchonete). Esse é provalmente um dos maiores exemplos de que há males que vêm para bem no mundo do cinema. O resultado ficou perfeito: um enigma para muitos indecifrável, ou uma bagunça extensa que não faz sentido algum? Faz sentido sim, digo eu. Ou pelo menos faz um pouco mais de sentido a cada nova revisão. Eu, por exemplo, já tenho uma interpretação pessoal dos fatos – deveras simplória – mas que pode ser lida clicando-se [spoilers à vista] aquiCidade dos Sonhos é um filme que deve ser assistido com a percepção à flor da pele e atenção redobrada aos mais mínimos detalhes. Como na abertura, por exemplo. A seqüência de dança ao ritmo dos anos 60 culmina num dissolve que mostra a personagem de Naomi Watts sorrindo em êxtase ao lado dos dois velhinhos misteriosos. A seguir, um pan conduz a câmera até o que parece ser uma cama, ou um corpo: justamente o corpo de Diane Selwyn, ou Betty, vivida por Naomi Watts, que está morta. Todo o primeiro trecho do filme, até o momento em que Rita olha para dentro da caixa azul, é um devaneio de Diane, cuja obsessão pela amante a levou a matá-la e a se consumir em culpa, numa tragédia que culmina com sua loucura e posterior suicídio, mostrado de forma perturbadora no final do filme. Tal qual nossos sonhos, a narrativa na primeira hora e meia é uma alegoria erguida com base naquilo que vimos e vivenciamos, o que nem sempre faz sentido mas é quase exatamente aquilo que desejamos que aconteça. Embutida em tudo isso está uma crítica mordaz à indústria do cinema, particularmente Hollywood, que pode ser nada menos que um monstro que destrói sonhos numa freqüência exponencialmente maior que aquela com que constrói mitos.

O DVD possui como extras biografias e entrevistas curtas com o diretor e o elenco principal, seis minutos de cenas de bastidores, trailer e também os trailers de Amores Brutos, O Hotel de um Milhão de Dólares e Réquiem para um Sonho.