Visto em DVD em 24-JAN-2009, Sábado
Vocês estão vendo a cara da Laura Dern na capa do DVD brasileiro de Império dos Sonhos? Imaginem então a minha cara tentando entender o filme depois que ele terminou, já que ela é que é praticamente idêntica à da Sra. Dern! “Mas que diabos!” é a expressão mais aplicável, e quem é familiarizado com o trabalho de David Lynch faz uma boa noção do porquê desta minha reação.
Linearmente falando, pelo menos até o ponto em que a redoma surreal não cobriu toda a história, Império dos Sonhos conta o episódio em que a atriz Nikki (Laura Dern) começa a trabalhar num longa-metragem. Depois de saber por seu diretor (Jeremy Irons) que trata-se da refilmagem de um filme polonês inacabado porque os atores foram assassinados durante a produção, Nikki se envolve com seu colega de cena (Justin Theroux) e começa a confundir realidade com ficção. Como a história se passa em Los Angeles, e muito do estilo remete ao anterior Cidade dos Sonhos, Império pode ser encarado como uma espécie de continuação deste último. A principal diferença é que Império foi todo filmado em meio digital, resultando em imagens bem mais escuras que o normal (esteja atento para aumentar o ajuste de brilho da TV em pelo menos 20%).
Dito isso, declaro que não consegui interpretar o filme de forma satisfatória. Talvez o que mais tenha feito sentido para mim seja a ideia de que o termo Inland Empire defina, de fato, o drama de sua protagonista.
Tanto você quanto eu sabemos que o cinema de Lynch não é para qualquer um. Eu mesmo admito que a reação mais comum e plausível neste caso é revolta, pois são afinal nada menos que três horas assistindo a uma aparente colagem de cenas desconexas que por coincidência têm alguns atores/atrizes que aparecem na maioria delas. O maior anacronismo, no entanto, ocorre um dia depois que você assistiu ao filme. Você se pega pensando naquilo que viu, talvez até inconscientemente esteja tentando juntar as peças do quebra-cabeças. Então você lê alguma coisa que escreveram sobre ele em algum lugar. Assiste aos extras do DVD. E se vê irremediavelmente fisgado, pelos motivos mais improváveis possíveis, por um trabalho que aparentemente não fazia sentido algum, mas que por algum motivo inexplicável passou a lhe apetecer artisticamente. E você chega à conclusão de que, algum dia, terá que revê-lo, tendo a certeza de que o nível de compreensão poderá ser então um pouco melhor – não pleno, apenas um pouco melhor.
O segundo disco do DVD duplo vem com mais de 70 minutos de cenas excluídas (eu adoraria se a cena da venda do relógio tivesse permanecido no corte final – Karolina Gruszka... anotem esse nome!), uma galeria de fotos animada de 7 minutos, uma seqüência borrada de 12 minutos de uma dança de balé, 20 minutos com David Lynch preparando sua receita de Quinoa e contando uma história inusitada de uma de suas viagens, uma entrevista de 40 minutos em que o cineasta destila sua fascinação com a nova tecnologia de fazer cinema, meia hora de cenas de bastidores com Lynch e sua equipe em ação e a versão do filme em formato MP4.