Cinema

Superman - O Retorno

Superman - O Retorno
Título original: Superman Returns
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 154 min.
Gênero: Ficção Científica
Diretor: Bryan Singer (Operação Valquíria, Jack - O Caçador de Gigantes, X-Men - Dias de um Futuro Esquecido)
Trilha Sonora: John Williams, John Ottman (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado)
Elenco: Brandon Routh, Kevin Spacey, Kate Bosworth, James Marsden, Parker Posey, Frank Langella, Sam Huntington, Eva Marie Saint, Tristan Lake Leabu, Kal Penn, David Fabrizio, Ian Roberts, Noel Neill, Stephan Bender
Avaliação: 8

Considerando todos os reveses pelos quais este filme passou para ser realizado, é praticamente um milagre que ele tenha visto a luz do dia com tamanha antecipação otimista pela crítica e, mais importante, pelos fanáticos por Superman. O que era impensável há alguns anos antes de seu lançamento ocorreu: com um currículo relativamente raso mas consistente, o diretor Bryan Singer agarrou o projeto com unhas e dentes, deixando órfãos os fãs de outra franquia que ele também ajudou a construir no cinema (X-Men). A consistência e o bom senso de seu estilo são o que mais se nota no retorno do Homem de Aço às telas, após um intervalo de mais de 20 anos. Singer e seus colaboradores habituais na elaboração do roteiro descartaram os dois últimos filmes da série iniciada por Richard Donner (Superman III e Superman IV - Em Busca da Paz), ambientando a aventura logo após os eventos do fantástico Superman II. O que não faz lá muita diferença, no final das contas.

Passaram-se cinco anos desde que o Superman (Brandon Routh) foi visto pela última vez. O auto-exílio logo ganha uma explicação, pois o herói partira à procura de seu planeta natal Krypton ao saber que astrônomos haviam detectado estilhaços seus no espaço sideral. Após retornar à Terra, ele reencontra sua mãe adotiva (Eva Marie Saint), reassume sua identidade secreta de Clark Kente e retoma seu emprego de repórter no Planeta Diário. A maior mudança que ele tem que enfrentar é o fato da amada Lois Lane (Kate Bosworth) ter um filho já crescidinho e estar noiva de Richard White (James Marsden), filho do dono do jornal Perry (Frank Langella). Como o bem nunca vem desacompanhado do mal, eis que seu arqui-inimigo Lex Luthor (Kevin Spacey) sai da cadeia e prepara um novo plano de dominação mundial, usando para isso a própria tecnologia kryptoniana do Superman.

Louvável é o mínimo que se pode dizer da atitude de Bryan Singer, que demonstra um grande respeito pelo que já havia sido feito com o personagem há quase 30 anos atrás. Mais louvável ainda foi a decisão de preservar a canção-tema do herói, composta por John Williams e absolutamente inconfundível, indissociável de qualquer cena relacionada ao Superman. John Ottman, colaborador habitual de Singer, só teve o trabalho de variar suas composições em torno do tema principal, que abrilhanta a seqüência de abertura com os créditos tridimensionais apresentados no mesmo estilo do lendário Superman - O Filme. É uma introdução em grande estilo, que provoca pontadas nostálgicas nos fãs antigos e prepara o clima para os novos.

Desde já uma das produções mais caras de sua geração, O Retorno apresenta uma história que não deixa de vir com algumas inconsistências algo graves. A primeira delas é a conciliação do retorno do Superman com o retorno de seu alter-ego Clark Kent. Será que todos os personagens que trabalham no planeta Diário são retardados? Também há uma incômoda vista grossa relacionada às indagações naturais (principalmente por parte do próprio Superman) sobre quem seria o pai do filho de Lois Lane. Dá para curtir o filme tranqüilamente, pois ele é muito bem conduzido, de modo que quase não se percebe sua longa duração passar, mas não é fácil deixar de lado os pormenores mencionados. Para os fãs mais ardorosos, certas cenas feitas para eles podem causar um certo alvoroço de emoção, como a transposição exata da primeira capa da história das HQs onde o Superman apareceu, em que o herói segura um carro sobre a cabeça.

Agora quanto à grande questão: Brandon Routh é ou não digno do legado de Christopher Reeve? Talvez sim. Talvez não. Melhor que Reeve ele não é, isso é fato. Os dois atores quase se equivalem fisicamente, mas Routh não encontra espaço suficiente para demonstrar uma gama tão grande de emoções quanto o trabalho de Reeve no primeiro Superman, que ia do pateta ao galante com maestria ímpar, e do heroísmo ao desespero com inestimável inspiração. Talvez seja uma questão de saudosismo e conflito de gerações, mas para mim o Superman pelo qual o cinema sempre será lembrado permanece sendo Christopher Reeve. Já o vilão personificado por Kevin Spacey se equivale ao Lex Luthor de Gene Hackman, principalmente nos cacoetes cômicos, assimilados com o necessário tom megalomaníaco por seu novo intérprete. Até mesmo a voluptuosa senhorita Teschmacher é trazida de volta, só que na figura um pouco mais longilínea de Parker Posey.

Afirmar que a história traz paralelos com a figura do salvador da humanidade não deixa de ser redundante, assim como se nota que, sob qualquer ângulo, a essência do roteiro é basicamente a mesma do filme de 1978 dirigido por Richard Donner, principalmente no que diz respeito às ações maquiavélicas de Lex Luthor. Há algo nos efeitos especiais de toda a seqüência do clímax que incomoda pela artificialidade exagerada. A história de amor e o conflito materializado no triângulo formado por Lois, Richard e o Superman é uma das melhores coisas do filme mas, para os padrões de produção e efeitos do novo milênio, o conjunto todo é bem capaz de frustrar as expectativas de quem esperava um confronto mais bombástico e apocalíptico entre o Superman e as ameaças por ele enfrentadas.

Baixando-se as expectativas, é possível ver em Superman - O Retorno um excelente filme. Que, por sua vez, abre uma nova era de oportunidades para futuras aventuras do mais nobre filho de Krypton.

Texto postado por Kollision em 21/Julho/2006