Surgido no meio do século XX no fértil meio das histórias em quadrinhos, o homem de aço foi um sucesso instantâneo desde o início, vindo a se tornar com o tempo parte integrante da cultura americana. Impulsionado desde seu surgimento por séries televisivas (estreladas por Kirk Alyn e George Reeves nas décadas de 40 e 50), e continuamente divulgado por desenhos animados e pelas próprias HQs, era uma questão de tempo até que o alienígena do planeta Krypton alçasse vôo nas telas de cinema. Eis que, em 1978, o projeto decolou e surpreendeu o mundo com uma aventura que, sim, fazia acreditar que um homem era capaz de voar.
A história do mito é por demais conhecida. O Super-Homem é em sua identidade secreta o repórter Clark Kent, que trabalha no jornal Planeta Diário e é apaixonado pela colega também repórter Lois Lane. Ele vive em Metrópolis, e defende os fracos e oprimidos de inúmeros perigos. Ele é indestrutível, voa, enxerga através das paredes, tem visão de calor, pode se locomover a velocidades incríveis e possui uma força descomunal. Quem poderia fazer frente a tal poder? Gente como seu arqui-inimigo Lex Luthor, a maior mente criminosa do mundo. Superman é o único sobrevivente do extinto planeta Krypton, e sua única fraqueza é a kryptonita, a única substância que pode de fato matá-lo.
A essa mitologia acrescenta-se, no filme de Richard Donner, a gênese no planeta Kryton, quando Jor-el (Marlon Brando) envia seu único filho para a Terra antes que seu próprio planeta entre em colapso. Kal-el, a criança, cai em algum lugar na Terra e é adotado pelo casal Kent. Já adulto, ele vai trabalhar no Planeta Diário, e o resto todo mundo já conhece. Clark se apaixonará por Lois Lane (Margot Kidder) e enfrentará os planos maléficos de Lex Luthor (Gene Hackman), que pretende destruir a Califórnia com 2 mísseis nucleares.
Como o próprio Donner declara nos extras do DVD de Superman, a palavra de ordem no set de filmagens era "verossimilhança". Assumindo o projeto depois da desistência do diretor Guy Hamilton, Donner comandou a reformulação de todo o roteiro, para evitar que o filme se tornasse outra adaptação de super-heróis idiota como a série do Batman estrelada por Adam West. Donner queria seriedade e, acima de tudo, ele queria que a platéia acreditasse que um homem poderia voar. Quando o projeto ganhou força com a contratação dos pesos-pesados Brando e Hackman, a chegada do desconhecido Christopher Reeve alavancou a produção, que envolvia ainda as filmagens simultâneas da seqüência, Superman II. Com efeitos especiais revolucionários para a época, uma história pé-no-chão (ainda que contendo muitos elementos de HQs) e uma mágica própria que perdura até os dias de hoje e emociona platéias de todas as idades, Superman foi um sucesso estrondoso, tornando-se referência obrigatória para qualquer produção que se baseie em personagens de histórias em quadrinhos.
O design de produção do filme é espetacular, o que é facilmente notado durante a seqüência inicial, que mostra o planeta Krypton e o julgamento dos três vilões que retornarão na segunda parte da série. Nem é preciso dizer nada acerca da trilha sonora de John Williams, hoje clássica e imediatamente assoviável depois de uma simples audição de qualquer trecho do filme. A índole megalomaníaca e as tiradas cômicas do Lex Luthor de Gene Hackman são geniais, mas seus planos soam hoje ingênuos e malucos. No entanto, há de se admitir que eles eram perfeitamente adequados dentro do contexto cartunesco característico dos anos 70. E é difícil pensar em outro ator que não Christopher Reeve na pele do homem de aço. Falecido aos 52 anos após o acidente eqüestre que o deixou tetraplégico, Reeve escreveu seu nome na história do cinema com sua performance como o Super-Homem, personagem que ele viria a repetir em mais três filmes.
As únicas coisas negativas que saltam um pouco aos olhos são mesmo as pequenas forçadas do roteiro, que estão todas de acordo com o universo quadrinhístico do herói e são, assim, plenamente aceitáveis. O final do filme, por exemplo, é pura HQ, e nem adianta tentar encontrar senso nele. Outro exemplo é a fictícia cidade de Metrópolis, que é nenhuma outra senão Nova York. E, fora o fato dos kryptonianos falarem um inglês empolado, a rasgação de seda acerca dos Estados Unidos e do sonho americano pode causar um pouco de desconforto.
O DVD de Superman é recheado de excelentes extras. Três documentários de cerca de meia hora cada detalham as fases de pré-produção, produção e efeitos especiais do filme. Lá é possível perceber a dificuldade da equipe, por exemplo, em fazer os efeitos de vôo. E nota-se que alguns deles, ainda hoje, são perfeitos. Há ainda 8 cenas adicionais (que neste DVD foram todas inseridas dentro do filme, aumentando sua duração em cerca de 8 minutos) e uma cena excluída (da prisão de Lex Luthor no final, hilária mas realmente um pouco forçada). Há testes de cena interessantíssimos de Christopher Reeve e das atrizes que disputaram o papel de Lois Lane (nomes como Anne Archer, Lesley Ann Warren, Stockard Channing e Susan Blakely, entre outras) e da vilã Ursa (Sarah Douglas). Completam o pacote dois trailers e um spot de TV.
Texto postado por Kollision em 20/Outubro/2004