A Origem (Christopher Nolan, 2010)
Com: Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Tom Hardy, Ken Watanabe
Com raríssimas exceções, sonhos nunca são delineados como a realidade, nunca te deixam perceber a totalidade dos detalhes ou mesmo das pessoas que neles habitam. A realidade do sonho é asbtrata e enevoada, e quando há algo próximo do concreto a situação é geralmente subvertida por algo fora do comum. É por isso que a nitidez cortante do universo onírico concebido por Christopher Nolan em A Origem me incomoda. As regras são muito rígidas, e até mesmo a física da realidade "interfere" no modo como os sonhos se desenvolvem. Se você está caindo na vida real, por exemplo, o seu eu onírico também estará caindo dentro do sonho – nunca na minha vida passei por experiência similar, a não ser em momentos de febre intensa em que algo no sonho poderia me cozinhar vivo devido à alta temperatura corporal. Dito isso, tenho que admitir que O Origem pede demais do espectador. Os lampejos de emoção são fragmentados e sempre acompanhados de alguma das aparições magnéticas de Marion Cotillard. No final, a distância entre sonho e realidade é transposta de forma abrupta. Numa sequência que já não estava muito condizente com a própria lógica criada até então, o desfecho se converte num estratagema apressado para criar polêmica. Nesse sentido, minha interpretação não é das melhores: o protagonista está morto.
Hellraiser 2 - Renascido das Trevas (Tony Randel, 1988)
Com: Ashley Laurence, Kenneth Cranham, Clare Higgins, Imogen Boorman, William Hope
Continuando de onde terminou o primeiro filme, esta sequência começa logo mostrando a origem do mais famoso cenobita de todos, Pinhead (Doug Bradley), para depois recapitular os eventos da história original. Kirsty (Ashley Laurence) sobreviveu ao confronto com as criaturas do inferno e foi parar num sanatório, onde é interrogada pela polícia e pelo sinistro médico-chefe (Kenneth Cranham). Ninguém acredita nela, só que o médico secretamente anseia obter os segredos do quebra-cabeças do mal, e não demora para que ele ressuscite a madrasta da moça (Clare Higgins). Apesar de contar com o mesmo ambiente sanguinolento, Hellraiser 2 não consegue se sustentar tão bem quanto o original devido ao roteiro mal concebido, que não aproveita os personagens como deve e cria situações que pedem por soluções narrativas apressadas e insatisfatórias. Um exemplo é o policial da introdução, que depois não dá as caras pelo resto do filme. Outro é o conjunto de regras que regem a passagem entre a nossa realidade e o inferno, que em nenhum momento são explicadas a contento. A melhor coisa do filme é o destino do Dr. Channard, que traz os únicos momentos onde a história realmente brilha em seu esplendor macabro, incluindo aí um bem-feito trabalho de efeitos especiais em stop-motion.
Flashdance (Adrian Lyne, 1983)
Com: Jennifer Beals, Michael Nouri, Sunny Johnson, Kyle T. Heffner, Lilia Skala
Há algumas semanas atrás estava eu a estudar em meu computador, no meu quarto, quando notei que alguém estava a escutar What a Feeling na rua. Imediatamente fui ao Youtube pesquisar o videoclipe da música, que deve ter tocado umas 5 vezes seguidas naquela noite. E aquela coceirinha de vontade de ver o filme bateu durante dias, até que não resisti e catei o DVD numa Lojas Americanas da vida. E tem gente que ainda diz que não somos influenciados pelo meio em que vivemos...
What a Feeling é provavelmente a canção que mais simboliza a cultura pop dos anos 80. Ganhou merecidamente o Oscar da categoria, impulsionando o sucesso da trilha sonora de Flashdance e, com isso, o sucesso do filme. A outra grande responsável por esse sucesso responde pelo nome de Jennifer Beals. Ela é o corpo e a alma de um longa que tinha tudo para chafurdar na lama do esquecimento, como muitos outros semelhantes. Simples, a história se limita a mostrar a rotina da moça como soldadora de uma indústria durante o dia e dançarina de boate à noite. Estonteante, observadora, sonhadora e impulsiva, a moça deseja entrar para uma renomada escola de dança, mas carece de capacitação formal e só pode contar com sua própria experiência de vida. Flashdance é um conto de fadas urbano e completamente irreal, estruturado em sequências de videoclipe e pontuado por bolhas de pieguice romântica. É aqui também que encontramos aquela que é considerada por alguns a cena mais implicitamente erótica da história do cinema (Beals e o namorado no restaurante). Historicamente, o filme é importante por representar a primeira parceria entre os produtores Don Simpson e Jerry Bruckheimer, estabelecendo muito da estética oitentista que dominaria o cinemão de Hollywood pelo resto da década. Bobo? Sim, mas ao mesmo tempo um colírio para olhos cansados e um alimento rasteiro para a alma, especialmente se você sabe o que Irene Cara está cantando na letra de What a Feeling.
Por falar nisso, clique aqui para ver uma performance fantástica da Sra. Cara, gravada em 2006 na Austrália.
Eu Sou o Número Quatro (D.J. Caruso, 2011)
Com: Alex Pettyfer, Timothy Olyphant, Dianna Agron, Callan McAuliffe, Teresa Palmer
Por algum motivo qualquer, eu tinha em mente que Eu Sou o Número Quatro seria mais ou menos como o equivocado Jumper. Há similaridades, assim como algumas inevitáveis comparações foram feitas entre o filme e a saga Crepúsculo. A verdade é que o longa de D. J. Caruso é uma diversão mais coesa que os dois trabalhos citados como referência, e mesmo que não consiga atingir um status mais nobre, consegue ser uma diversão de ficção científica razoável com ecos puros de X-Men. O tal número quatro é um rapaz que na verdade é um alienígena (Alex Pettyfer), escondido na Terra para se proteger de uma raça de exterminadores galácticos que vêm matando os seus conterrâneos sobreviventes, que não chegam a dez. O filme começa com a morte do número três, sendo ele o próximo da lista. Ajudado por um protetor (Timothy Olyphant), o cara viaja de cidade em cidade até se enamorar de uma garota (Dianna Agron) e mandar tudo às favas, mais ou menos quando começa a demonstrar possuir poderes fantásticos. A aura rasteira de romance escolar passa um pouco da conta, mas percebe-se um cuidado maior por parte do roteiro em estabelecer bem os personagens. O que incomoda é a ausência de qualquer explicação para o motivo do protagonista ser o quarto de uma lista hipotética sem qualquer cunho prático do ponto de vista dos aliens malvados. Por outro lado, a produção de Michael Bay e Steven Spielberg garante a excelência dos efeitos especiais.
Rio (Carlos Saldanha, 2011)
Vozes: Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Jemaine Clement, Leslie Mann, Rodrigo Santoro
Blu (voz original de Jesse Eisenberg) é uma arara azul de uma espécie raríssima, tão rara que ele é o último da espécie e nunca se preocupou em aprender a voar, morando na caipira Minnesota desde praticamente o nascimento. Até o dia em que um cientista brasileiro (voz original e dublada de Rodrigo Santoro) chega e revela à sua dona (voz original de Leslie Mann) que há uma arara fêmea da mesma espécie de Blu no Rio de Janeiro, o que representa a oportunidade ideal para a perpetuação da espécie. No Brasil, Blu irá descobrir que, ao contrário dele, Jewel/Jade (voz original de Anne Hathaway) é bem independente e ama a liberdade. Quando os dois são raptados por uma gangue de traficantes de animais, a fauna local se une para ajudá-los a escapar.
Para os brasileiros, Rio tem um significado mais que especial pelo fato de seu diretor, Carlos Saldanha, ser carioca nativo. Poderia-se dizer que Rio é seu filho, numa escala bem maior que os capítulos de A Era do Gelo que foram dirigidos por ele. O que Rio tem de melhor é o uso fantástico de cores e da tecnologia 3D, além do humor já característico das animações da Blue Sky. Apesar de previsível, a história é enriquecida por uma ênfase na música e pela caracterização abrangente do Rio de Janeiro, das praias às favelas, passando pelo carnaval e pelos mais famosos pontos turísticos da cidade. O resultado é muito bom e bem divertido, sem exageros ou estereótipos abusivos.
Sobrenatural (James Wan, 2011)
Com: Patrick Wilson, Rose Byrne, Lin Shaye, Leigh Whannell, Angus Sampson
Pelo trailer, achei que Sobrenatural (título ridículo da gota) seria uma das já inevitáveis cópias de Atividade Paranormal, mas logo que os créditos iniciais apareceram meu ânimo melhorou. Afinal, quem está por trás do filme é a equipe responsável pela criação da série Jogos Mortais. Outro bom sinal foi a trilha sonora estridente da abertura, que remete ao estilo clássico de filmes de assombração e da qual sinto falta em longas de terror atuais. A história começa quando o filho primogênito de uma família que acaba de se mudar para uma nova casa cai no sono certa noite e se recusa a despertar no outro dia. A mãe (Rose Byrne) passa a ouvir vozes e ver vultos estranhos pela casa, enquanto o ceticismo do pai (Patrick Wilson) não permite que ele enxergue o que está acontecendo com a esposa. O mistério se afunila e acaba trazendo outras pessoas para dentro do conflito, cuja natureza pode não ser aquela a que todos os espectadores estão acostumados nesse tipo de trabalho. Sem sangue e com sustos genuínos, Sobrenatural chama a atenção pela ambientação sinistra, que perde um pouco a força devido a alguns saltos narrativos que poderiam ser melhor trabalhados. Mesmo assim, o efeito macabro é suficiente para garantir a diversão para quem curte uma boa história de fantasmas.
Revelação (Robert Zemeckis, 2000)
Com: Michelle Pfeiffer, Harrison Ford, Diana Scarwid, James Remar, Miranda Otto
Na maior parte do tempo um suspense classudo e atraente, Revelação conta a história de uma ex-música (Michelle Pfeiffer) que passa a morar sozinha com o novo marido (Harrison Ford) depois que a filha única parte para fazer faculdade. Renomado pesquisador científico, ele não está muito presente quando ela começa a suspeitar que sua vizinha pode ter sido assassinada pelo próprio marido, o que coincide com aparições estranhas de uma moça em sua própria casa. A transição entre o suspense hitchcockiano e o suspense sobrenatural é o que há de melhor no filme, cujo roteiro só desliza quando tenta explicar um lance estranho de amnésia de um dos personagens. Pfeiffer e Ford estão perfeitos em seus respectivos papeis, e apesar dela ser a protagonista é ele quem acaba se mostrando a maior surpresa do longa. O ritmo cadenciado é deliberadamente lento em determinados momentos, e funciona em prol da construção de uma situação aterradora, amparada por bons sustos e marcada por uma cinematografia inspirada, repleta de sutilezas. Uma delas é a face que aparece na neve do cemitério, na última cena do filme. Foi só nesta revisão que eu a percebi, e até mesmo retrocedi alguns segundos para ter certeza de que ela estava lá.
Inseticida (Jeffery Lando, 2005)
Com: Meghan Heffern, Rhonda Dent, Samantha McLeod, Shawn Bachynski, Anna Amoroso
Quando a pobreza narrativa é entregue logo de cara pelo material de divulgação do filme, é impossível assisti-lo com qualquer propósito que não seja o de tirar sarro da ruindade do começo ao fim. Da própria descrição na capa do DVD: "os atores são meio amadores, a maquiagem dá na cara e os insetos – que ficaram gigantes depois de uma experiência – foram desenvolvidos por computadores". Talvez se a ênfase tivesse sido no pastelão descarado o resultado tivesse sido menos parecido com uma filmagem de garagem sem muita inspiração. É por isso que Inseticida falha até mesmo como diversão trash, sem conseguir chegar ao status, por exemplo, de algo como As Strippers Zumbi. Além de ser ridícula, a história é achincalhada várias vezes com situações que vão além do aceitável mesmo em palhaçadas dessa estirpe, e a presença de várias garotas seminuas não chega a compensar a pobreza geral como deveria. Mas engraçado mesmo é ver gente atravessando o filme todo tentando manter uma cara séria em meio ao desastre. Para ver com alto nível etílico no sangue.
Texto postado por Edward em 5 de Maio de 2011