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Filmes Vistos em Maio - Parte 1

Guerra ao Terror (Kathryn Bigelow, 2008) 10/10

Com: Jeremy Renner, Anthony Mackie, Brian Geraghty, Christian Camargo, Evangeline Lilly

Guerra ao Terror foi o grande vencedor do Oscar de 2010, e é com grande atraso que finalmente pude assisti-lo. Um filme que tenta capturar o calor da guerra em ambiente inóspito, árido, sujo e, acima de tudo, tenso. O cenário é a ocupação do Iraque, e os protagonistas são um grupo anti-bombas que passa os poucos dias que lhes restam de campanha patrulhando o deserto e respondendo à ameaça mais próxima de atentado iminente. O líder do grupo morre numa ação terrorista e é substituído por um sargento de poucas palavras (Jeremy Renner), um cara enigmático que encara as missões como se estivesse brincando no quintal de casa. O que inicialmente começa como o panorama de uma pessoa extremamente perturbada se transforma no retrato de um líder obstinado, falho e fraco em muitos aspectos, mas ainda assim merecedor da aprovação de sua equipe. Mas isso nunca é fácil, e mesmo quando acontece nunca ocorre sem uma fagulha de tensão. Seguindo a linha imediatista e sem firulas de obras similares como Falcão Negro em Perigo, Guerra ao Terror vai além ao focar as mentes e os medos de seus poucos personagens, fechando-se em si mesmo sob a forma do militar feito por Jeremy Renner - cuja caracterização em determinados momentos me lembrou aquela originalmente idealizada para o icônico Martin Riggs em Máquina Mortífera, obviamente sem a comédia e o exagero. Um excelente filme, que jamais deveria ter sido colocado ao lado de Avatar em qualquer comparação ou disputa. O resultado sempre será injusto, para ambos os lados.

Thor (Kenneth Branagh, 2011) 7/10

Com: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Anthony Hopkins, Stellan Skarsgård

Considerando o tema e a origem do mesmo, a verdade é que Thor representava a prova de fogo para a divisão cinematográfica da Marvel. Numa era dominada pela tecnologia, a noção de que divindades podem caminhar entre seres humanos é uma ideia absurda e extremamente difícil de representar num filme, e é por isso que o fato de Thor funcionar como um longa-metragem soa como uma vitória mais importante do que ela realmente é, garantindo um caminho mais tranquilo para os demais trabalhos que precedem o aguardadíssimo Os Vingadores. O motivo principal do filme funcionar não é a boa caracterização de personagens, nem os efeitos especiais bacanas ou mesmo o bom humor que transparece com adequada sutileza. Trata-se da recusa esperta do roteiro em retratar os deuses de Asgard como divindades que exigem adoração dos terrestres, uma arapuca perigosa que foi devidamente evitada pelo filme pois em nenhum momento isso acontece. Thor (Chris Hemsworth) é enviado à Terra por seu pai Odin (Anthony Hopkins) por ter se comportado mal e criado uma situação de guerra entre os asgardianos e os gigantes do gelo. Ele é encontrado por uma equipe de pesquisadores liderada por Jane Foster (Natalie Portman), e sua aparição não passa despercedida da SHIELD, a mesma organização militar secreta que aparece nos filmes do Homem de Ferro. Tudo o que acontece com Thor, no entanto, é resultado das maquinações vis de seu irmão Loki (Tom Hiddleston), que terão consequências graves tanto para Asgard quanto para a Terra.

Divertido, as únicas coisas que não me agradaram muito no filme foram o início em Asgard, que toma muito tempo e retarda as ações em Midgard (Terra), e a desnecessária cena do beijo entre Thor e Jane. De resto, fãs do personagem e novatos não têm do que reclamar. A ação é intensa, o suspense não faz feio e o elenco não está nada mal.

A Garota da Capa Vermelha (Catherine Hardwicke, 2011) 4/10

Com: Amanda Seyfried, Gary Oldman, Shiloh Fernandez, Max Irons, Billy Burke

Transformar em filme de horror o conto da Chapeuzinho Vermelho é algo que faria mais sentido se estivéssemos falando de uma animação, mas quando o produto sai de Hollywood podemos esperar de tudo. A ideia original do conto é utilizada como mote para mais uma história de lobisomem, desta vez contada com tons whodunnit clássicos e marcada por um romance adolescente que se desenvolve num vilarejo medieval, de aspecto bastante próximo à estética burtoniana de A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Amanda Seyfried é a mocinha apaixonada cuja irmã é misteriosamente assassinada pelo lobisomem que assombra a vila há séculos, o que deflagra uma onda de medo entre os camponeses. Gary Oldman é o padre de métodos nada ortodoxos que chega para dar um fim à criatura, transformando todo mundo em suspeito até prova em contrário. Catherine Hardwicke esgota aqui a nossa reserva de paciência com relação a romances adolescentes de contornos fantásticos (ela fez o primeiro Crepúsculo). A diretora poderia ter se beneficiado de uma melhor escalação de elenco, pois enquanto um dos pretendentes da protagonista esbanja carisma (Max Irons), o outro não consegue um mínimo de química e praticamente afunda o romance (Shiloh Fernandez). O mistério sobre a identidade do lobo pelo menos não é estúpido, com uns sustos amarelos aqui e ali, mas talvez o que mais fique na mente da plateia é a passagem mais famosa do conto, encenada por Amanda Seyfried e um de seus companheiros de cena.

Cão de Briga (Louis Leterrier, 2005) 8/10

Com: Jet Li, Morgan Freeman, Bob Hoskins, Kerry Condon, Vincent Regan

Uma das coisas mais interessantes de Cão de Briga é o elenco. O filme é ótimo, mas ver Jet Li, Morgan Freeman e Bob Hoskins numa mesma história é algo que vai além do que alguém esperaria de um longa de artes marciais. Hoskins é um mafioso cruel que mantém um chinês (Li) em cativeiro desde o seu nascimento, condicionando-o como um animal e usando-o como arma contra seus desafetos. Ele o mantém numa coleira, que se tirada transforma o chinesinho num demônio da Tazmânia que espanca quem o dono manda sem dó nem piedade. Morgan Freeman é o consertador de pianos cego que se aproxima do chinês quando um evento trágico ocorre com seu dono. A história alterna cenas de ação intensas com o processo de redescoberta da humanidade do "cão de briga", o que acaba imprimindo um aspecto estranhamente dramático à trama, afastando-a da categoria dos filmes de ação puramente convencionais. É uma boa oportunidade para Jet Li mostrar uma atuação diferenciada, ainda que mínima e contando com o apoio das ótimas participações de Freeman, Hoskins e Kerry Condon como o óbvio interesse amoroso. Hoskins, por sinal, surpreende completamente no papel de vilão, valorizando um trabalho que padece de um roteiro por demais simplificado, porém executado de forma indefectível.

Conversando com os Mortos (Daniel Myrick, 2008) 7/10

Com: Elisabeth Harnois, Shawn Ashmore, Tyler Hoechlin, Hilarie Burton, Amanda Seyfried

Da já um pouco longínqua era em que A Bruxa de Blair causava polêmica por diversos motivos, uma das coisas que eu mais tinha curiosidade era conhecer algum outro filme realizado pelos diretores do projeto. Conversando com os Mortos aplaca essa curiosidade, já que foi feito por um deles e consiste num horror convencional, sem gracinhas de câmera na mão e jogadas de marketing espertinhas. O título brasileiro do longa, obviamente, é uma infelicidade que deve ser desconsiderada. Na época das festividades juninas da Louisiana, garota que perdeu a irmã gêmea num recente e traumático episódio (Elizabeth Harnois, ótima) decide participar com os amigos da tradicional viagem de campo que eles fazem todos os anos. Ainda sofrendo com os acontecimentos, ela é acometida por uma série de visões e passa a presenciar acontecimentos cada vez bizarros. O mistério se aprofunda quando um rapaz local (Tyler Hoechlin) se junta ao grupo e tenta ajudá-la a estabelecer contato, supostamente, com a irmã falecida. Dan Myrick faz um trabalho bem competente com o filme, que mesmo sem abandonar a inevitável aura adolescente consegue transcender a superficialidade dos personagens, mantendo a atmosfera de suspense até o clímax inesperado. Elogios vão também para o elenco principal, do qual também faz parte Shawn Ashmore, o Homem de Gelo da franquia X-Men, e o sempre sinistro R. Lee Ermey, que aqui está muito parecido com ninguém menos que Boris Karloff.

Sexta-feira 13 - Parte VII: A Matança Continua (John Carl Buechler, 1988) 6/10

Com: Lar Park-Lincoln, Terry Kiser, Susan Blu, Kevin Spirtas, Susan Jennifer Sullivan

O nome Sexta-feira 13 nada mais tem a ver com a data em si, porque obviamente Jason Voorhees não escolhe o dia para matar. Nesta parte VII ele é despertado do fundo do Crystal Lake por uma jovem dotada de dons telecinéticos (Lar Park-Lincoln), que está ali em companhia de seu médico particular (Terry Kiser) para se tratar de um trauma do passado. Livre e solto, Jason inicia mais uma matança, vitimando os adolescentes da vizinhança enquanto a mocinha se desespera em meio a visões dos assassinatos. Apesar dos pesares e da enésima reciclagem da mesma fórmula, A Matança Continua se destaca dentro da série por vários motivos, sendo o principal deles o estabelecimento de um embate de igual para igual entre Jason e a descendente de Carrie e Jean Grey. Os efeitos do clímax são bem-feitos, e o desfecho é até mesmo emocionante em sua ingenuidade. De resto, a diversão fica por conta mais uma vez de torcer para que os personagens mais irritantes morram logo. O dublê Kane Hodder, que seria alçado à fama entre os fãs da série, faz aqui sua estreia na pele de Jason. Só é uma pena que ele tenha chegado um pouco tarde à festa, já que após este capítulo os filmes entram numa espiral de mediocridade de dar medo. Detalhe: a censura da época não permitiu que o diretor John Buechler colocasse todo o gore originalmente desejado.

Jovens Justiceiros (Les Mayfield, 2001) 4/10

Com: Colin Farrell, Scott Caan, Gabriel Macht, Ali Larter, Timothy Dalton

Jesse James foi um bandido norte-americano, assaltante de bancos e trens, que ficou famoso após o fim da Guerra de Secessão. Um folclore muito grande foi criado a seu respeito, incluindo aí a noção de que ele teria sido uma espécie de Robin Hood de sua época. Jovens Justiceiros é uma expansão dessa visão fantasiosa sobre a história do bandido (Colin Farrel), retratando-o como um representante das classes oprimidas que se levanta contra a força opressora e maléfica do progresso, caracterizada como os executivos que querem construir uma ferrovia atravessando as terras do Missouri. Ao redor de Jesse gravitam o seu bando de foras-da-lei, conhecidos como a gangue James-Younger, e aquele que tem a missão de persegui-los (Timothy Dalton). Obviamente inspirado pelo sucesso de Jovens Pistoleiros, o filme do diretor Les Mayfield é equivocado em vários sentidos. Além do óbvio atentado de caracterização histórica (glorificando um bando de assassinos como heróis puro-sangue), a ambientação é moderninha demais para um faroeste. Tudo é muito limpinho, como se os cowboys tivessem serviço de salão 24h entre uma cena e outra do filme. Descartável e barato ao ponto de ser quase insuportável, o filme ainda sofre com alguns problemas de ritmo. No elenco, o único que se salva com alguma dignidade é Gabriel Macht, no papel do irmão mais velho de Jesse James.

Texto postado por Edward em 19 de Maio de 2011