Avatar (James Cameron, 2009)
Com: Sam Worthington, Zoe Saldana, Sigourney Weaver, Stephen Lang, Michelle Rodriguez
A espera foi extensa, e o nível de detalhes e excelência alardeado pela produção de Avatar apontava tanto para um sucesso estrondoso quanto para um retumbante fracasso. Depois de finalmente poder conferir o longa em 3D – como envisionado por James Cameron – é muito bom constatar que as expectativas são plenamente atendidas, do apuro técnico à história ambiciosa, que prega a revolta da natureza contra a ganância insensata da humanidade. No futuro, as forças militares da Terra patrulham outros planetas em busca de riquezas. Um ex-fuzileiro paraplégico (Sam Worthington) é escolhido para substituir o irmão gêmeo num projeto de exploração em Pandora, onde ele irá controlar um nativo geneticamente cultivado (um "avatar") através de uma conexão mental. Ele se insere na cultura dos extra-terrestres, a tribo dos Omaticaya, e repassa informações tanto ao general do projeto (Stephen Lang) quanto à líder da equipe de cientistas exploradores (Sigourney Weaver), mas chega numa encruzilhada quando os humanos decidem tomar o que querem à força, para isso destruindo o lar dos seres que o aceitaram como um igual.
A história não possui nada de novo ou diferente em relação a tantos outros contos de ficção científica já concebidos para o cinema. Mas ela é, com toda a certeza, executada com extrema competência, enquanto Cameron não se furta a desenvolver os personagens da melhor maneira possível. Confesso que eu tinha receio quanto ao nível de realismo na representação física dos seres azuis, mas tudo é feito com tanto esmero que logo de cara o filme ganha a plateia, independente dos acachapantes efeitos visuais. Sam Worthington consegue mostrar um carisma que eu não achava que ele tinha, liderando um elenco que se mostra à vontade, alguns deles em papéis memoráveis.
Não se enganem, Avatar deve funcionar bem numa tela normal, mas a verdadeira experiência consiste em assisti-lo numa tela grande, em 3D.
Harry Potter e a Ordem da Fênix (David Yates, 2007)
Com: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Michael Gambon
Revisto sem muito esforço, cheguei à conclusão básica de que a Ordem da Fênix (5º episódio) é o capítulo onde tenta-se dar um pouco mais de tridimensionalidade ao protagonista e a alguns personagens coadjuvantes. Até o esquivo Voldemort (Ralph Fiennes) dá as caras no desfecho, um festival de efeitos especiais e poderes mágicos no melhor estilo X-Men de ser.
A nova grande personagem da vez é a professora Dolores Umbridge, o arquétipo da velha coroca e inflexível capaz de te ferrar completamente enquanto sorri com o mais velado e dissimulado escárnio, tão característico dos piores mestres. Imelda Staunton chama a atenção pra si e brilha no papel. No mais, a impressão de que os filmes de Harry Potter melhoram à medida em que a série evolui tem muito a ver com a contínua maturidade do elenco jovem. A história também parece finalmente estar indo para algum lugar, ao invés de simplesmente retratar um episódio isolado deste universo tão conhecido que é hoje Hogwarts – por vezes ficamos na dúvida se ele existe de fato ou não, mérito do tratamento mais pé-no-chão que o filme recebeu.
Harry Potter e o Enigma do Príncipe (David Yates, 2009)
Com: Daniel Radcliffe, Rupert Grint, Emma Watson, Jim Broadbent, Michael Gambon
Graças à manutenção do mesmo diretor, o tom do sexto capítulo da saga de Harry Potter é preservado com algumas ressalvas. Nenhuma delas afeta gravemente o andamento da história, apesar do sumiço de alguns personagens em detrimento de outros incomodar um pouco (onde foi parar Cho Chang, por exemplo?). Tecnicamente, o que imediatamente salta aos olhos – ou aos ouvidos, neste caso – é a trilha sonora tímida de Nicholas Hooper, que em nada lembra a grandiosidade que pontuou, por exemplo, a trilha hoje inconfundível originalmente composta por John Williams. Hooper é, na verdade, colaborador assíduo dos tempos de TV do diretor David Yates. Yates comanda aqui o trecho da saga em que Harry (Daniel Radcliffe) se torna parte essencial dos planos de Albus Dumbledore (Michael Gambon) para tentar conter a ascensão do ressurgido Voldemort, que nem dá as caras no filme. E dá-lhe mais mistério sobre um livro que pertenceu a um tal príncipe mestiço, a natureza cada vez mais vil de Draco Malfoy (Tom Felton) e as nebulosas associações do indecifrável professor Snape (Alan Rickman). Há muito mais gente que participa ativamente da ação, mas não convém mencioná-los aqui. O ritmo do filme é bom, e o estabelecimento da sensação de antecipação para um clímax homérico é louvável. O encerramento da saga me parece promissor se Yates continuar no comando do barco.
A Guerra dos Vampiros (Matthew Hastings, 2005)
Com: Dominic Zamprogna, Natassia Malthe, Joe Lando, Leanne Adachi, Michael Ironside
Pastiches de fim de madrugada são uma categoria à parte em filmes de baixo orçamento, e A Guerra dos Vampiros é um dos mais dignos representantes da categoria. Elenco desconhecido e inepto (porém esforçado), história excessivamente ambiciosa para os valores de produção disponíveis e efeitos especiais que só não fazem feio quando comparados com animações de Playstation 2 são algumas das características que exaltam da tela quando começa a história – sobre um grupo de mercenários que singra o espaço sideral no século 23 com a ingrata missão de exterminar todos os vampiros que encontra pela frente. Os sanguessugas, por sinal, dominaram o espaço e se dividiram nas mais variadas tribos, incluindo uns tais de "Voorhees" e "Leatherfaces" (fiquei esperando ansioso pelos "Kruegers" ou "Myers" mas estes ficaram de fora, sendo guardados talvez para uma continuação...). Michael Ironside, que nunca rejeitou nada que lhe apareceu pela frente, é o nome mais conhecido de um elenco que atravessa todo o filme com um extraordinário semblante de seriedade. O que se salva é o trabalho de maquiagem, que ganha alguns pontinhos apesar de não trazer nenhuma novidade, e o inadvertido senso de humor que na maioria das vezes gira em torno da vampira boazinha que acompanha o grupo (Natassia Malthe).
O Homem-Coisa - A Natureza do Medo (Brett Leonard, 2005)
Com: Matthew Le Nevez, Rachael Taylor, Jack Thompson, Rawiri Paratene, Steve Bastoni
Mesmo na HQ original o tema sempre me pareceu tosco, carecendo de potencial até para uma mini-série, que dirá uma série regular. Afinal, o Homem-Coisa jamais passou de um clone vagabundo do Monstro do Pântano. Transposto para o cinema, o conto da criatura que vive num manguezal e cujo toque "queima" aqueles que dela sentem medo resulta num trabalho derivativo, semimorto e extremamente deficiente mesmo como um longa normal de horror. O já famoso logotipo da Marvel - que abrilhanta pesos-pesados do nível de um Homem-Aranha ou Homem de Ferro - precede o filme e passa uma falsa impressão que morre lá pela metade do filme, mais ou menos quando ele entra num banho-maria interminável e passa a andar em círculos até o desfecho tonto. Não é de se admirar que esta bobagem nunca seja mencionada como parte das tão famosas adaptações de HQs da Marvel, teoricamente fadadas a faturar milhões. Um exemplo do quanto tudo está errado é uma indagação inocente que um usuário do Imdb postou na página do filme: em O Homem-Coisa, por que é que os personagens só entram nos pântanos à noite? O diretor Brett Leonard chegou a ser promessa nos anos 90, falhando miseravelmente em seu retorno aos longas de ficção. Nem Rachael Taylor (Transformers e Imagens do Além), cuja beleza por sinal está irreconhecível, consegue imprimir algum diferencial digno de nota.
16 Quadras (Richard Donner, 2006)
Com: Bruce Willis, Mos Def, David Morse, Jenna Stern, Casey Sander
Mais uma vez recomendo este filme, pois não é todo dia que se encontra pela frente um herói tão tridimensional e falho como Jack Mosley.
Rever 16 Quadras é reafirmar o quanto Richard Donner continua em forma como diretor de longas de puro entretenimento. O cara é imbatível neste quesito, e se todo mundo quiser ver um Os Goonies 2 ou Máquina Mortífera 5 que preste, é bom começar a reforçar a campanha pela sua participação antes que o cara seja impossibilitado de exercer seu trabalho. Outras constatações da revisão: David Morse é o cara – fico imaginando quando é que o público e a crítica em geral vão reconhecê-lo como o ótimo ator que é; o olhar "John McLane" é algo indefectível em se tratando de Bruce Willis – neste filme ele é facilmente reconhecível, correspondendo ao momento em que seu personagem se dá conta de qual é sua missão na história. Vou ficar de olho em outros trabalhos de Willis para identificar algo parecido!
Cloverfield - Monstro (Matt Reeves, 2008)
Com: Michael Stahl-David, Jessica Lucas, Odette Yustman, Lizzy Caplan, T.J. Miller
Para quem não sabe, este é um excelente filme de monstro que passou despercebido nos cinemas. Quem ainda torce o nariz para a estética câmera-na-mão à la A Bruxa de Blair também pode perder os medos e encarar Cloverfield numa boa. A encheção de linguiça (o trecho que mostra a festa no apartamento) passa rápido e logo começa a destruição. O único mistério que ainda permanece, pelo menos para mim, é o motivo do filme – e do monstro – se chamarem "Cloverfield". Clover é uma cidade localizada no estado norte-americano de Carolina do Sul, que por sua vez está bem distante de Nova York...
Do elenco, o aspecto mais interessante que pude notar é que Odette Yustman, que faz a namorada do protagonista, pagaria mico mais tarde no péssimo Alma Perdida (David Goyer, 2009). Com exceção de Mike Vogel, não reconheci nenhum dos outros membros do elenco em coisas recentes, mas seria bom ver Jessica Lucas mais vezes.
Atividade Paranormal (Oren Peli, 2007)
Com: Katie Featherston, Micah Sloat, Mark Fredrichs, Ashley Palmer, Amber Armstrong
Ao rever Atividade Paranormal num outro cinema com minha namorada, parte da diversão foi observar em qual momento do filme ela ficaria mais assustada. Quanto a mim, esperei por um final que fosse diferente daquele que eu já tinha visto, pois a informação que chegou até mim é que existem três finais diferentes para a história do casal assombrado por algo desconhecido em seu próprio quarto. Como o final foi o mesmo, o jeito agora é esperar pelo DVD para conferir o material extra.
Reiterando o que eu já havia dito a algumas pessoas: não há sangue, não há efeitos especiais multicoloridos e não há gritos gratuitos. Ainda assim, a impressão que fica não poderia ser melhor.
Recomendado para ver antes de dormir!
O Gângster (Ridley Scott, 2007)
Com: Denzel Washington, Russell Crowe, Chiwetel Ejiofor, Josh Brolin, Ruby Dee
Com 18 minutos a mais, a versão estendida de O Gângster ratifica o bom trabalho de Ridley Scott e do elenco que dá vida a uma das mais inusitadas histórias reais já adaptadas para a tela grande. Confesso que tinha minhas dúvidas quanto à extraordinária simetria narrativa e ao nível de liberdade poética associado, mas o documentário de making-of do DVD, que mostra as pessoas de verdade nas quais os personagens de Denzel Washington e Russell Crowe (ambos ótimos) se baseiam, não deixa dúvidas sobre a natureza ou a origem das cenas-chave do filme. Existe sim alguma liberdade no tratamento de personagens, mas a essência da relação entre os dois protagonistas é essa mesmo que o longa mostra. Especial menção deve ser feita ao modo como é retratada a corrupção do sistema policial/militar norte-americano da década de 60, e ao exemplo de atitude proporcionado pelo personagem de Crowe. Posso estar sendo piegas, mas num país onde ser correto é um traço social cada dia mais ridicularizado, um trabalho tão intenso e moralmente forte como este deveria ser sessão obrigatória para aspirantes a policiais e também naquelas aulas de ginásio/faculdade onde alunos são obrigados a assistir filmes como forma de aprendizado.
Divagações postadas por Edward em 4 de Janeiro de 2010