Revisto em DVD em 31-DEZ-2009, Quinta-feira
Com 18 minutos a mais, a versão estendida de O Gângster ratifica o bom trabalho de Ridley Scott e do elenco que dá vida a uma das mais inusitadas histórias reais já adaptadas para a tela grande. Confesso que tinha minhas dúvidas quanto à extraordinária simetria narrativa e ao nível de liberdade poética associado, mas o documentário de making-of do DVD, que mostra as pessoas de verdade nas quais os personagens de Denzel Washington e Russell Crowe (ambos ótimos) se baseiam, não deixa dúvidas sobre a natureza ou a origem das cenas-chave do filme. Existe sim alguma liberdade no tratamento de personagens, mas a essência da relação entre os dois protagonistas é essa mesmo que o longa mostra. Especial menção deve ser feita ao modo como é retratada a corrupção do sistema policial/militar norte-americano da década de 60, e ao exemplo de atitude proporcionado pelo personagem de Crowe. Posso estar sendo piegas, mas num país onde ser correto é um traço social cada dia mais ridicularizado, um trabalho tão intenso e moralmente forte como este deveria ser sessão obrigatória para aspirantes a policiais e também naquelas aulas de ginásio/faculdade onde alunos são obrigados a assistir filmes como forma de aprendizado.
O primeiro disco do DVD duplo vem com as duas versões do filme, a do cinema e a estendida, que possui 18 minutos a mais de duração. A faixa de comentários em áudio de Ridley Scott e do roteirista Steve Zaillian aparece apenas para a versão original, mas é devidamente legendada em português. O segundo disco vem com um making-of de mais de 70 minutos que mostra bastante dos verdadeiros Richie Roberts e Frank Lucas, uma abertura alternativa, uma cena excluída e um especial adicional de 25 minutos que mostra uma reunião de revisão de roteiro, ensaio para a verificação da heroína e a preparação da cena final no prédio residencial.
Visto no cinema em 11-FEV-2008, Segunda-feira, sala 3 do Multiplex Pantanal
Ridley Scott realiza neste filme sua contribuição definitiva ao gênero dos filmes de gângster, inaugurado com o insuperável O Poderoso Chefão (Coppola, 1972). Assim como na obra de Mario Puzo, só que desta vez baseada em fatos reais, a história é centrada na construção de um império do crime liderada por um homem fora do comum. No caso, o negro Frank Lucas (Denzel Washington), um aspirante a mafioso do Harlem que rapidamente galga os degraus do crime de forma sutil, apoiando-se no tráfico de drogas. Russel Crowe faz o papel do único e incorruptível policial que suspeita de Lucas. O filme vai se afunilando até o embate final entre os dois, com um desfecho que, dizem, segue o desfecho da vida real à risca.
O Gângster é excelente não somente pela técnica, mas também pela carga de exemplos que seus protagonistas trazem para a tela. Desde que assisti ao filme, várias foram as vezes em que me deparei pensando na índole e na linha de conduta de Frank Lucas, numa associação não muito distante daquela representada pelo legado de um Don Corleone, por exemplo. Não que a vida no crime deva ser o objetivo de um jovem ambicioso – porém, como Lucas e Corleone atestam, muitos dos melhores modelos de vida podem ser encontrados neste universo.