É interessante notar a força que um filme pode adquirir ao longo dos anos, e a aura de obra-prima que transcende as fronteiras da arte conhecida como cinema. Afinal, mesmo quem nunca assistiu ao filme ou quem nem mesmo tem afinidade com a sétima arte, sabe ou já ouviu falar da "obra-prima" chamada O Poderoso Chefão. Sobre como, lá pelos idos da década de 70, um tal de Marlon Brando personificou um mafioso que seria modelo durante o resto da história do cinema, num filme longo e que aparece em todos os "Top 10" de melhores obras cinematográficas de todos os tempos.
O mafioso de Brando é Don Vito Corleone, patriarca de uma família de imigrantes italianos na Nova York pós-Segunda Guerra. Ele é também o "padrinho" de inúmeros "afilhados", sortudos incluídos em sua redoma de proteção numa cidade cada vez mais dominada pela corrupção e pelo crime, onde políticos, juízes e todo tipo de gente proeminente na sociedade "deve algum favor" ao Don. Quando algo novo desponta no horizonte do submundo e os negócios dos Corleone, que sempre estiveram associados ao jogo e à bebida, tornam-se ameaçados pela nova onda que começa a surgir entre aqueles que controlam as atividades ilícitas (o tráfico de drogas), o poderoso chefão se vê forçado a tomar certas decisões que conflitarão com os interesses de outras famílias, o que acabará levando o submundo do crime a uma guerra sem precedentes.
A rotina da família ítalo-americana é muito bem documentada na primeira meia hora do filme, que mostra o casamento da filha de Don Corleone e apresenta todos os personagens. No decorrer da história, os três filhos do Don serão postos à prova sobre quem será o sucessor do chefão. Inicialmente rejeitado pelos estúdios, foi só com a insistência de Coppola que Al Pacino foi contratado para viver Michael Corleone, o filho mais novo do Don. Pacino, James Caan (Sonny Corleone) e Robert Duvall, como o consiglieri Tom Hagen, foram inclusive indicados ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Brando levou o Oscar de melhor ator mas, na noite da festa, não compareceu para receber o prêmio. Enviou uma atriz que se fez passar por uma índia, em protesto à discriminação feita pelo governo e por Hollywood aos índios americanos.
Tudo no filme dá certo. O estilo do diretor casa perfeitamente com a história, cujo roteiro foi escrito pelo próprio autor do livro, Mario Puzo, e por Coppola. Uma adaptação fiel, poderosa e acertada como poucas adaptações em toda a história do cinema. Um trabalho fenomenal de fotografia e edição, com seqüências que nasceram antológicas e personagens imortalizados por interpretações magníficas. A trilha sonora de Nino Rota é um show, e "Love Theme from Godfather" permanece uma das canções inesquecíveis de todos os tempos.
O impacto do filme se mantém o mesmo ainda hoje, e sua excelência só cresceu com o passar do tempo. Porém, a saga dos Corleone não termina aqui, e as seqüências de O Poderoso Chefão, igualmente grandiosas, devem ser obrigatoriamente assistidas após uma sessão deste filme, o que seguramente completará uma das melhores experiências cinematográficas pela qual alguém pode passar.
Texto postado por Kollision em 18/Julho/2004