Joshuu 701-gô - Sasori (Shunya Ito, 1972)
Com: Meiko Kaji, Rie Yokoyama, Isao Natsuyagi, Fumio Watanabe, Yayoi Watanabe
A.K.A. Female Prisoner #701 - Scorpion — Pontapé inicial de uma série de quatro longas, esta primeira aparição da inabalável Matsushima Sasori (Meiko Kaji) é uma aventura completa em sua origem underground, ou seja, trata-se de um drama prisional marcado por uma boa dose de sexploitation pink (o que o coloca imediatamente como representante legítimo dos filmes WIP, ou women in prison). O que tira esta obra do lugar-comum é a abordagem feita pelo diretor Shunya Ito, que em sua estréia abusa de recursos pouco usuais para o gênero, como o uso variado de luzes e cores e as várias abstrações narrativas de cunho quase surreal. A personagem central é uma moça traída pelo namorado policial corrupto, que acaba numa prisão feminina nada convencional e é humilhada e torturada de todas as formas possíveis. Ela permanece impassível e consegue se vingar dos desafetos aos poucos, reservando a maior parte de seu ódio para aqueles que a colocaram ali dentro. A imagem de Meiko Kaji em seu uniforme e chapéu pretos é icônica e antecipa de forma inconfundível trabalhos derivados como o Kill Bill de Quentin Tarantino. O detalhe mais marcante, contudo, é o olhar incisivo da moça. Tenho certeza que ninguém em sã consciência gostaria de ser vítima de um olhar como o dela!
Dia dos Namorados Macabro (Patrick Lussier, 2009)
Com: Jensen Ackles, Kerr Smith, Jaime King, Edi Gathegi, Megan Boone
Refilmagem de um filme que já era uma cópia obscura e descarada de Sexta-feira 13 e em alguns cinemas foi exibido em 3D, este Dia dos Namorados Macabro tinha tudo para ser ótimo. Em muitas coisas ele acerta em cheio, como no nível de violência e gore, nos ótimos créditos de abertura, no abuso de cenas que se aproveitam do efeito 3D (aquelas em que os objetos teoricamente devem "sair" de dentro da tela) e na fantástica seqüência da piriguete nua em pêlo (Betsy Rue) que é perseguida pelo assassino, um minerador mascarado cuja marca registrada é uma picareta sanguinária. O mistério sobre quem é ele deve ser resolvido pelo xerife da cidadezinha (Kerr Smith), que vê seu relacionamento com a esposa (Jaime King) ser ameaçado pelo retorno de um antigo desafeto (Jensen Ackles), todos eles sobreviventes do massacre perpetrado pelo psicopata 10 anos atrás. A coisa toda pode ter sido tecnicamente bem feita, mas não há justificativa que salve a história do desfecho telegrafado que ninguém mais suporta nesses thrillers metidos a espertos. Ainda assim, esta baboseira violenta passa como diversão a dois – afinal, que dia dos namorados é completo se você não estiver acompanhado, mesmo numa sessão como esta?
Watchmen - O Filme (Zack Snyder, 2009)
Com: Jackie Earle Haley, Patrick Wilson, Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode
Estreando depois de um longo período de gestação que, acredito eu, fez bem à transposição cinematográfica, Watchmen é uma bela adaptação da graphic novel de Alan Moore e Dave Gibbons. Ela é fiel à história original, desde a caracterização dos personagens até o elevado nível de violência, que nem era assim tão explícita ou realista nos traços oitentistas de Gibbons.
Por outro lado, a mesma característica que atesta o bom trabalho do diretor Zack Snyder é também responsável pela sensação deslocada que tenho por alguns momentos quando penso no filme. E isso porque eu li a revista, pois acredito que para quem nunca pôs os olhos nela a sensação é ainda maior. Os Watchmen são um grupo de heróis mascarados que surgiu na década de 50: pessoas normais, algumas encapuzadas e outras não, que decidiram combater o crime em equipe. Alguns morreram, alguns se aposentaram e outros tiveram filhos que continuaram o legado dos pais. A ação propriamente dita ocorre nos anos 80, quando eles estão fora de circulação por força de lei e o assassinato do mais violento e canalha deles (Jeffrey Dean Morgan) inicia uma série de eventos que os trará de volta à ativa, enquanto os Estados Unidos e a União Soviética se engajam numa provável Terceira Guerra Mundial. Ou seja, temos aqui uma realidade alternativa, em alguns pontos muito parecida com a nossa e em outros radicalmente diferente. Repleta de flashbacks e personagens que aparecem somente de relance, a história é complexa e corre muito o risco de não se conectar à plateia, principalmente quando o roteiro se detém demais em um ou outro herói (como na recapitulação da origem do Dr. Manhattan).
O importante, no entanto, é que os cinéfilos de mente aberta com certeza apreciarão o filme como um todo. Mal feito ele não é, e não são mazelas como a edição global que vão maculá-lo. Malin Akerman nunca esteve tão gata quanto em Watchmen, e só isso já é crédito suficiente para parabenizar Snyder. O restante do elenco também foi muito bem escolhido, os efeitos especiais são ótimos, a atmosfera de heroísmo realista está bem implementada e o excesso de canções referenciais no início do filme é amenizado quando a história engrena. Se o principal problema de quem não gosta de filmes de super-heróis é a tal falta de "realismo", Watchmen tenta suprir esse nicho e, no meu entendimento, cumpre seu papel de forma bastante decente.
Joshuu Sasori - Dai-41 Zakkyo-bô (Shunya Ito, 1972)
Com: Meiko Kaji, Fumio Watanabe, Kayoko Shiraishi, Yukie Kagawa, Hiroko Isayama
A.K.A. Female Convict Scorpion - Jailhouse 41 — Dada a cena que encerra o filme anterior, ficava difícil saber se aquilo se tratava de mais uma abstração da protagonista ou não. O início deste Jailhouse 41 nem faz rodeios, ele começa com Sasori/Scorpion (Meiko Kaji) mais uma vez de volta à prisão, sob a guarda ainda mais sádica do mesmo inspetor de sempre (Fumio Watanabe). Depois de passar por violência ainda pior que antes, ela e algumas companheiras de prisão escapam e passam a ser alvo de uma perseguição nada convencional através da desolação rural e urbana das imediações. Desta vez sem praticamente nenhum traço de sexploitation, o diretor Shunya Ito mantém o tom aventureiro-onírico que tanto marcou o longa original, que se faz presente em várias passagens do filme. Há alguns picos de humor negro e gore que espantam pelo modo como são inadvertidamente introduzidos e, se bem me lembro, Meiko Kaji diz apenas uma frase durante toda a história, mais ou menos quando a duração passa dos 70 minutos. A falta de lascívia underground é sentida e a consistência narrativa pode não estar no mesmo nível de antes, mas o filme agrada a quem gostou da estética originalmente adotada por Ito.
O Leitor (Stephen Daldry, 2008)
Com: Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Bruno Ganz, Lena Olin
O Leitor foi um dos candidatos a melhor longa-metragem na cerimônia do Oscar de 2009. Isso coloca o diretor Stephen Daldry numa categoria à parte em relação aos seus pares, já que seus dois outros filmes também receberam a honra da indicação (Billy Elliot e As Horas). Este aqui é um drama em dois atos sobre um adolescente (David Kross) que na década de 50 tem um caso com uma mulher mais velha (Kate Winslet) e anos mais tarde (já na pele de Ralph Fiennes) a reencontra no banco dos réus, acusada de participação no assassinato de 300 judeus em Auschwitz. O detalhe mais importante da trama é que os carinhos da mulher eram de certa forma trocados pelas leituras que o rapaz lhe fazia à cama. Há uma serenidade que permeia toda a história, com uma grande parcela de emoção sendo transferida pelas atuações contidas e, na maior parte do tempo, silenciosas do elenco. Fiennes não ficou bem caracterizado, mas o rapaz e Winslet brilham na primeira metade da história. Foi com este papel que ela finalmente conquistou o Oscar de melhor atriz, um prêmio justo para um trabalho de respeito, num filme muito interessante que só peca um pouco por algumas inofensivas gorduras narrativas. Como nas cenas que envolvem a filha do protagonista Michael, que não passam de uma válvula de escape para a pressão interior que o abate no desfecho do filme.
O Lutador (Darren Aronofsky, 2008)
Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Mark Margolis, Todd Barry
O fascínio que certas atividades de entretenimento de massa exercem sobre algumas culturas muitas vezes está além de qualquer compreensão para quem não está inserido no meio. Um dos maiores exemplos disso é a luta livre, um esporte (?) que não passa de espetáculo encenado e que, sinceramente, eu jamais conseguiria levar a sério. Por isso minha estranheza em constatar que, em O Lutador, Darren Aronofsky utiliza esta realidade para construir um excelente drama sobre um ex-wrestler (Mickey Rourke) que, ao final da vida, luta para conciliar o seu desejo de permanecer no ringue com problemas de saúde e com a solidão. O cara é rejeitado pela filha (Evan Rachel Wood) e tem como única amiga uma stripper (Marisa Tomei, gatíssima e sexy como nunca a vi antes, uau!). É difícil ficar impassível diante do paralelo entre a história de Randy "The Ram" Robinson e a própria carreira de Rourke como ator e pugilista. Enquanto ele entrega uma ótima performance, Aronofsky acerta a mão na narrativa e compõe mais uma inestimável janela para a alma humana – extremamente rica em realizações, esperanças e decepções – e também verdadeiramente digna para com o universo que escolheu representar. Em tempo: não gostei muito do enaltecimento à Paixão de Cristo de Mel Gibson, mas adorei o modo como colocaram Kurt Cobain em seu devido lugar.
Alma Perdida (David S. Goyer, 2009)
Com: Odette Yustman, Meagan Good, Cam Gigandet, Jane Alexander, Gary Oldman
Provavelmente sabendo o tamanho da bomba que tinha em mãos, pode-se dizer que o estúdio foi deveras esperto ao compor o chamativo cartaz deste filme, que traz a apetitosa protagonista Odette Yustman em pose extremamente agradável aos olhos. Para os mais entendidos, o nome do diretor David Goyer também seria um indicativo de algo que prestasse, mas infelizmente o cara continua a decepcionar e demonstrar que só deveria mesmo se restringir a escrever roteiros. Alma Perdida é uma bagunça, uma história que começa sendo de fantasmas, evolui para possessão demoníaca e se encerra com um dos finais mais estúpidos já vistos num filme de horror moderno. Yustman é a moça que certo dia passa a ser assombrada pela imagem de um menino cadavérico. Ainda atormentada pelo suicídio da mãe (Carla Gugino), ela começa a procurar respostas e encontra várias pessoas estranhas pelo caminho, entre elas um rabino feito por Gary Oldman. Os sustos são previsíveis, alguns diálogos são tenebrosos e certos personagens, como o pai da moça, são colocados e retirados da trama como se fossem lixo. Existe algum valor nos efeitos especiais e na maquiagem de determinadas passagens, mas no geral essa é uma amostra muito, muito ruim do que o cinema norte-americano pode fazer em matéria de filmes de horror.
O Ataque das Vespas Mutantes (Paul Ziller, 2005)
Com: Michael Shanks, Carol Alt, Richard Chevolleau, Tim Thomerson, Maria Brooks
Mais uma baboseira produzida para a TV que insulta o mundo animal e a comunidade cinéfila de todas as formas possíveis, O Ataque das Vespas Mutantes convida o espectador para mais uma experiência estúpida de padrão inferior a reprise de Super Cine em fim de semana modorrento. As pobres vespas da espécie "jaqueta amarela" são os portadores do mal, originado em laboratório e espalhado por uma única vespinha que escapa do necrotério após sair do corpo de uma vítima. Compondo a equipe anti-inseto está o cientista que criou a vespa mutante (Michael Shanks), uma entomologista (Carol Alt) e um dedetizador atrapalhado (Richard Chevolleau). Com uma contagem de corpos pífia e quase completa ausência de gore (todas as vítimas só ficam com a cara empolada, com exceção do prefeito), o filme conta com um roteiro coalhado de situações imbecis, ao ponto em que fica difícil saber se tal inaptidão era intencional ou não. O que dizer, por exemplo, de uma assessora retardada que quer matar um inseto com uma espingarda de cano duplo?! A edição também é uma vergonha, aproveitando várias cenas mais de uma vez. Bem que aquela bela repórter enxerida (Maria Brooks) poderia ter tido uma participação mais polpuda na história, que deve ser um sarro ainda maior quando se assiste ao filme bêbado.
Sim Senhor (Peyton Reed, 2008)
Com: Jim Carrey, Zooey Deschanel, Bradley Cooper, Rhys Darby, Terence Stamp
Pode até parecer mas não, Jim Carrey não está aliado novamente a Tom Shadyac para mais uma de suas emblemáticas e características comédias. O comando desta vez ficou a cargo de um diretor diferente, e isso é facilmente percebido na história, que partilha semelhanças óbvias com O Mentiroso – o maior sucesso da dupla Carrey/Shadyac. Tirando a jogada fantástica e o moralismo meio infantilizado de Shadyac, o personagem principal bem que poderia ser o mesmo. Carrey agora é um bancário negativo e entediado, que evita os amigos e vive enfurnado dentro de casa se remoendo por causa de um casamento desfeito. Certo dia ele é convencido por um conhecido a participar de uma palestra onde um guru (Terence Stamp) lhe fala sobre os milagres que a palavra "sim" pode fazer à sua vida. E é seguindo essa doutrina que ele vem a conhecer a energética Allison (Zooey Deschanel), o que de fato mudará sua rotina para sempre. Sim Senhor tenta desesperadamente fugir dos clichês, apesar de preso a um roteiro que releva demais os efeitos colaterais da radical política do SIM, e consegue arrancar boas gargalhadas ao longo do processo, muitas delas com o desempenho sempre exagerado – e neste caso adequado – de Jim Carrey. Zooey Deschanel, bem, é Zooey Deschanel, e continua a fazer valer todos os filmes onde apareça, enquanto participações hilárias de gente como a veterana Fionnula Flanagan e o também exagerado Rhys Darby, no papel do chefe Norman, colaboram para distribuir as risadas quando Carrey não está em cena. Bom filme, com mensagem que pode até ser válida em nosso cotidiano desde que aplicada com o devido bom senso.
Divagações postadas por Kollision de 26 a 31 de Março de 2009