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Filmes Vistos em Fevereiro - Parte 2

La Maldición de Frankenstein (Jesus Franco, 1972) 1/10

Com: Howard Vernon, Dennis Price, Alberto Dalbés, Beatriz Savón, Anne Libert

A.K.A. The Rites of Frankenstein — Dando continuidade à mediocridade do também grandemente tosco Drácula Contra Frankenstein, e tendo sido inclusive filmado com mesmo elenco e equipe, essa imensa baboseira de Jesus Franco não consegue sair da estaca zero em matéria de qualidade. Logo depois de criar seu monstro, o dr. Frankenstein (Dennis Price) é atacado e tem sua criatura roubada por uma mulher-pássaro (Anne Libert) a serviço do maligno Cagliostro (Howard Vernon), que lidera uma seita de mortos-vivos e tem intenções malucas para a criatura. A filha de Frankenstein (Beatriz Savón) aparece e decide vingar o pai, com a ajuda de um cientista (Alberto Dalbés) apropriadamente chamado dr. Seward – mas não precisam se preocupar, os vampiros ficaram livres da chacota desta vez! O desleixo de Jesus Franco em alguns de seus filmes é notório, mas aqui ele está simplesmente insuportável. O número absurdo de cenas fora de foco é um exemplo claro, mas Franco também chega ao cúmulo de incluir uma grande parcela de filme com cenas de uma jovem Lina Romay na pele de uma índia que não tem relevância alguma na história! Enterrando o fator diversão, não há qualquer relance de nudez do elenco feminino, que inclui ainda uma saudável Britt Nichols e uma filha de Frankenstein que é a cara de Kate Hudson (!). Que falta fez Soledad Miranda à inspiração de um diretor que tanto prometia...

The Killing Kind (Curtis Harrington, 1973) 9/10

Com: John Savage, Ann Sothern, Ruth Roman, Luana Anders, Cindy Williams

A obscuridade costuma ser cruel com alguns bons filmes, e é por isso que nós, cinéfilos, devemos nos considerar sortudos por vivermos numa época onde trabalhos ignorados como The Killing Kind podem ver a luz do dia. Vou ser logo sincero e escancarar a verdade: este talvez seja o melhor filme sobre um serial killer que eu já assisti. Não pelo virtuosismo cenográfico, pela violência esperada de algo assim ou pelo tratamento dado aos atos hediondos do assassino da vez. Em suma, trata-se do que este filme atinge em matéria de motivação psicológica, do modo como ele lentamente nos mostra porque um jovem não consegue viver socialmente e o que termina por levá-lo a rejeitar de forma extremamente agressiva os instintos de convivência mais básicos do ser humano. A adjacência emocional e a carência afetiva também desempenham papéis cruciais dentro da história, sempre de forma sutil e jamais apelativa.

Do que se trata, afinal? Liberado da cadeia após cumprir uma pena de dois anos por crime de estupro, rapaz (John Savage) retorna à casa da mãe (Ann Sothern), uma senhora super-protetora que gerencia um hotel para idosos. O contínuo isolamento dele com a mãe, a convivência forçada com alguns dos vizinhos e certos fantasmas do passado fazem com que ele exponha sua verdadeira e consolidada natureza. É impressionante como o filme consegue nos fazer ter esperança na recuperação do moço, enquanto ao mesmo tempo reafirma uma certeza que é exposta de forma bastante amarga pela personagem da mãe já na reta final da história. John Savage está muito bem como o rapaz sempre à beira do colapso, mas Ann Sothern tem uma atuação simplesmente brilhante como a mãe, numa performance digna de Oscar. Eles são peças-chave de uma pérola adormecida que merece ser mais conhecida, principalmente por cineastas que desejam filmar histórias similares com eficiência e sinceridade. Aprendam com os mestres do passado!

Viridiana (Luis Buñuel, 1961) 8/10

Com: Silvia Pinal, Francisco Rabal, Fernando Rey, Margarita Lozano, José Calvo

Viridiana (Silvia Pinal) é uma freira dedicada que certo dia deixa o convento para visitar o tio distante (Fernando Rey), que sempre a sustentou e pagou seus estudos. Ele demonstra um pouco mais que afeto familiar para com ela, e o destino faz com que a moça acabe deixando o convento para morar em sua propriedade. Um grande conflito surge então quando ela decide ajudar os pobres do vilarejo, o que vai contra as ideias modernistas de um primo aristocrata recém-chegado que ela não conhecia (Francisco Rabal). Buñuel traça aqui um cenário de contrastes extremamente propício à crítica social e religiosa, escancarando abismos construídos por culturas intransponíveis e alargados por um senso de nobreza vazio em suas conquistas. Há muito o que se pensar a partir da sucessão de imagens, em especial de passagens como aquela que coloca lado a lado mendigos em êxtase religioso e trabalhadores de índole capitalista, ou aquela que reconstrói a cena da última ceia com uma turba de pés-inchados que chafurda na efêmera riqueza de uma noite, como ratos que dão uma festa quando o gato sai para passear. Como sempre nos melhores de seus trabalhos, o cineasta espanhol enriquece seus personagens de forma sutil (atenção ao papel crucial que desempenha a empregada Ramona, interpretada por Margarita Lozano), deixando muito da interpretação final a cargo da platéia. Como no desfecho anti-climático, que consegue ser ao mesmo tempo algo tenso, triste e indiscutivelmente alegre.

Mal Posso Esperar (Harry Elfont e Deborah Kaplan, 1998) 9/10

Com: Ethan Embry, Jennifer Love Hewitt, Charlie Korsmo, Lauren Ambrose, Peter Facinelli

Quando se fala em nostalgia sobre décadas passadas, ainda há pouco a se dizer sobre os anos 90. Quase sempre os recordatórios dizem respeito a tributos à década de 80 ou a décadas anteriores. Apesar de esforços recentes, como as comédias de Judd Apatow e cia. limitada, os fãs das comédias adolescentes são até hoje meio órfãos dos clássicos dirigidos ou produzidos por John Hughes, sendo todos eles a cara dos anos 80. O que quero dizer com isso é que – apesar das aparências – os anos 90 também tiveram, sim, a sua parcela de bons filmes do gênero, dos quais um dos melhores é sem sombra de dúvida o ótimo Mal Posso Esperar.

A ação ocorre toda durante uma noite, aquela da festa após a formatura e antes do início da vida adulta. O núcleo de personagens principais inclui um rapaz sonhador (Ethan Embry) apaixonado pela garota mais bonita e apetitosa do colégio (Jennifer Love-Hewitt), que por sua vez acaba de romper o namoro com o gostosão da escola (Peter Facinelli). Há ainda o nerd (Charlie Korsmo) que deseja se vingar do gostosão por tê-lo humilhado durante anos de escola, a CDF melhor amiga do protagonista (Lauren Ambrose) e o branquelo sem noção que pensa que é negro (Seth Green). O caldeirão de encontros e desencontros ferve enquanto um festival de estereótipos hilários é conduzido e ao mesmo tempo quebrado, ao som de uma fantástica trilha sonora e com um senso de inocência hoje completamente perdido, até mesmo fora de moda. Afinal, tudo o que a garotada quer é se dar bem com o sexo oposto, estando eles apaixonados ou não, e não há qualquer menção ao sempre onipresente consumo de drogas. Creio que a única personagem que fuma é a única adulta presente na história: Jenna Elfman, deliciosa dentro de uma fantasia de anjo e perdida na madrugada.

Além de ser um ótimo filme, o que mais impressiona quando se assiste a ele hoje é reconhecer a enorme quantidade de jovens atores que deslancharam em carreiras sólidas em Hollywood, em maior ou menor escala. Mal Posso Esperar tem provavelmente o elenco mais espetacular já escalado para uma obra do tipo, beneficiando-se também de uma sintonia bastante afinada com a cultura pop da época. Um clássico!

E Se Fosse Verdade (Mark Waters, 2005) 8/10

Com: Reese Witherspoon, Mark Ruffalo, Donal Logue, Dina Waters, Jon Heder

Para os românticos, o apelo de histórias como a deste filme é irresistível. O fato de Mark Waters conseguir suspender a descrença com eficiência é, portanto, o fator-chave de uma experiência que apesar de derivativa continua engraçada e relativamente inspiradora.

Esta revisão atestou as boas qualidades do filme, que não se furta a flertes perigosos com as nuances bregas decorrentes do conflito espiritual do casal central. Apesar disso, quando o roteiro faz tudo certinho e o carisma dos protagonistas se encarrega de garantir a atenção que a história necessita, o que pode dar errado?

E Se Fosse Verdade é facilmente subestimável. Mas não se iluda, trata-se de um bom filme. Ainda mais porque ele tem Ivana Milicevic num papel pequeno, mas absolutamente radiante em sua efêmera exuberância. Se é que vocês me entendem!

Força Sinistra (Tobe Hooper, 1985) 8/10

Com: Steve Railsback, Peter Firth, Frank Finlay, Mathilda May, Patrick Stewart

Adaptado de um livro um pouco árido demais para o meu gosto (tentei lê-lo durante a faculdade mas não consegui), Força Sinistra permanece ainda hoje como uma boa amostra do potencial de Tobe Hooper, um diretor altamente inconstante que de lá pra cá jamais conseguiu repetir o desempenho mostrado neste cruzamento mórbido e sensacional de ficção científica e horror. Tudo começa quando a tripulação espacial do capitão Carlsen (Steve Railsback) se depara com uma nave alienígena escondida na cauda do cometa Halley e decide coletar alguns corpos estranhos lá encontrados, inclusive o de uma garota nua (Mathilda May) mantida numa espécie de animação suspensa. A missão espacial termina em merda e, um mês depois, os seres espaciais são resgatados e levados a Londres, sem qualquer sinal de que os tripulantes originais tenham sobrevivido. É então que a garota nua desperta, iniciando uma onda de terror jamais vista no planeta. Surpreendentemente, a produção padrão da Cannon, dos irmãos Golan+Globus, não consegue estragar o filme com o seu conhecido desleixo. Em suma, trata-se um primor de realização B com excelentes valores de produção, que conta com efeitos especiais de primeira para a época (a cargo de John Dykstra), uma trilha sonora finíssima de Henry Mancini, um bom senso de ritmo e a presença nada desagradável de Mathilda May como uma das vampiras mais espetaculares já vistas numa tela de cinema. Patrick Stewart aparece para pagar mico numa participação rápida e o final é algo previsível, mas ainda assim o filme permanece como um marco do gênero na década de 80.

Operação Valquíria (Bryan Singer, 2008) 7/10

Com: Tom Cruise, Bill Nighy, Tom Wilkinson, Terence Stamp, Kenneth Branagh

Apesar dos pesares e de todos os problemas envolvendo a produção de Operação Valquíria, é de se admirar que o filme não tenha saído uma porcaria completa. Indo contra o estabelecido para obras sobre a Segunda Guerra Mundial, este não é um filme de guerra, e sim um thriller tenso que a meu ver se mostra bastante simplificado. O máximo de fogos e explosões é visto logo na introdução, que mostra como o tenente Claus Stauffenberg (Tom Cruise) quase perde a vida na África e abraça de vez suas crenças anti-Hitler. Pouco depois ele é recrutado no grupo que planeja derrubar o ditador, vindo a liderar uma missão final que envolve a tal operação "Valquíria": uma série de procedimentos militares de restabelecimento da ordem no país diante de uma situação de caos. Cruise parece definitivamente gostar de interpretar tipos ruins que vêm a luz e lutam pelo bem (vide Jerry Maguire e O Último Samurai), e não faz feio na pele de Stauffenberg, com quem de fato compartilha uma semelhança assombrosa. Há uma atmosfera inerente dentro do filme que tenta suavizar todos os personagens, o que aliado à natureza algo superficial da história impede que o longa se torne pesado. Quem mais se destaca no elenco é Bill Nighy, talvez por este ser o primeiro papel em que o vejo completamente sério. Apesar de não atingir todo o potencial prometido, Bryan Singer parece ter entregue um thriller pelo menos interessante e válido como reconstituição histórica, e atenção ao corte em que o sangue de Stauffenberg deixa seu corpo e atinge o solo alemão que ele tanto amava – uma seqüência aparecentemente simples mas muito bela e, a meu ver, carregada de simbolismo.

Anna - Quel Particolare Piacere (Giuliano Carnimeo, 1973) 7/10

Com: Edwige Fenech, Corrado Pani, Richard Conte, John Richardson, Ettore Manni

A.K.A. Secrets of a Call Girl — O título norte-americano é injusto, pois passa a impressão de que este é mais um dos inúmeros sexploitations italianos feitos na década de 70. Na verdade, trata-se de uma amálgama de romance, máfia e melodrama que, mesmo que não consiga se destacar como uma obra de peso, mostra-se relativamente bem feito e teve a grande importância de mostrar ao mundo que Edwige Fenech podia ir muito além como atriz do que nos filmes que fizera até então, em sua maioria comédias e thrillers eróticos. E Fenech está simplesmente maravilhosa neste filme. Estonteante mesmo. Desde já ela passa a integrar minha lista de beldades máximas do cinema – da década de 70, junta-se a monumentos como Jane Fonda, Rita Calderoni, Soledad Miranda, Christina Lindberg e Joëlle Cœur. Aqui ela é Anna, uma jovem interiorana ingênua que se envolve com um mafioso traficante de drogas (Corrado Pani). Ela o acompanha até Milão e é iniciada numa vida desregrada, tornando-se uma prostituta de luxo. A relação entre os dois se deteriora com o tempo, principalmente depois que ela anuncia estar grávida.

Pode-se dizer que o roteiro deste filme é até ambicioso, à medida em que os cortes passam a representar lapsos de tempo maiores e a história envereda por um caminho radicalmente distinto daquele traçado em seu início. O ritmo é movimentado e se beneficia demais dos quadros hipnotizantes de Edwige Fenech, seja nos momentos em que ela tira a roupa ou em closes de uma beleza quase divina. De todas as ressalvas do filme, a única que vale a pena comentar é o período em que Anna se dedica à prostituição, que se mostra truncado demais. Não dá para saber se isso foi uma decisão deliberada por parte do diretor, mas várias fotos de divulgação dão a entender que algumas cenas foram cortadas na versão lançada pela NoShame Films. O que não tira em nada o mérito da película, que definitivamente vale a pena nem que seja por Fenech (vista recentemente como a professora de arte no início de O Albergue 2).

Divagações postadas por Kollision de 27-FEV a 2-MAR de 2009