Mesmo com uma boa experiência dentro do mundo do jornalismo e da propaganda, o diretor Cameron Crowe lançou mão ainda de quatro anos de pesquisa e desenvolvimento para conceber o roteiro de um filme que viria a se tornar a síntese do jeito yuppie de ser na década de 90. Surpreendente dentro de seu próprio universo aparentemente pueril, o concorrente ao Oscar de melhor filme de 1997 Jerry Maguire mascara, sob a história batida da queda e ascensão de um agente de esportes, um conteúdo impressionante, de sutileza avassaladora e humor finíssimo.
Jerry Maguire (Tom Cruise) é um agente de esportes que, consumido pelo lado mais obscuro de uma profissão cuja motivação original ele há tempos parece ter esquecido, decide da noite para o dia escrever um memorando especial e distribuí-lo para todos os colegas da grande firma de publicidade onde trabalha. Conclamando todos os agentes a enfocarem o lado humano de suas relações com os clientes, entre outras observações enaltecedoras, Maguire logo torna-se motivo de chacota e acaba despedido. Acompanhado pela secretária Dorothy (Renée Zellweger) e por Rod Tidwell (Cuba Gooding Jr.), um problemático jogador de futebol americano e único cliente que lhe resta, ele luta para dar a volta por cima num meio profissional implacável, onde altas somas em dinheiro e disputas de interesse estabelecem a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Começando ao som de The Who e abençoado com excelentes interpretações, o filme de Crowe tenta ao máximo retratar uma realidade que não é acessível a muita gente, mas com a qual é possível se identificar com facilidade. Jerry Maguire é um cara que vive em função do trabalho, não tem amigos fora de seu meio e passa por uma crise de identidade que cedo ou tarde toma de assalto as pessoas genuinamente preocupadas com as coisas à sua volta. O roteiro é hábil ao equilibrar de forma competente a pressão profissional com a vida pessoal fútil do protagonista, a qual só começa a tomar nuances diferentes quando se entrelaça à de Dorothy, representada por uma bela Renée Zellweger ainda longe da fama. Merecidamente, Cuba Gooding Jr. levou para casa o Oscar de melhor ator coadjuvante, com uma performance enérgica e engraçada. Cruise concorreu ao Oscar de melhor ator, também com mérito, mas não chegou a receber o prêmio.
Um meio de se quantificar um dos aspectos que faz o filme ser tão bom é a sua longa duração. Mesmo com mais de duas horas, o longa passa num piscar de olhos, tamanha é a capacidade de envolvimento do roteiro. Dotado de drama, humor e romance em dosagens ideais, com trunfos como o moleque Jonathan Lipnicki muito bem aproveitado e uma trilha sonora virtualmente perfeita, Jerry Maguire não deixa a peteca cair em nenhum momento. Êxito tanto de crítica quando de bilheteria na época de seu lançamento, mantém-se firme como um dos melhores filmes da década de 90.
O extra mais interessante do DVD duplo é uma inusitada faixa especial de comentários de Crowe, Cruise, Gooding Jr. e Zellweger, que mostra-os relaxados numa sala enquanto o filme é projetado numa tela menor. Há ainda um making-of de 7 minutos, cinco cenas excluídas, um especial curto com um verdadeiro agente de esportes descrevendo como é o seu trabalho, três cenas de ensaios, um comercial fictício de Rod Tidwell, o videoclipe de Secret Garden (bela canção-tema interpretada por Bruce Springsteen), galeria de fotos, o memorando de Jerry Maguire na íntegra e os trailers de Jerry Maguire e Melhor É Impossível.
Texto postado por Kollision em 16/Dezembro/2004