Visto em DVD em 15-FEV-2009, Domingo
A obscuridade costuma ser cruel com alguns bons filmes, e é por isso que nós, cinéfilos, devemos nos considerar sortudos por vivermos numa época onde trabalhos ignorados como The Killing Kind podem ver a luz do dia. Vou ser logo sincero e escancarar a verdade: este talvez seja o melhor filme sobre um serial killer que eu já assisti. Não pelo virtuosismo cenográfico, pela violência esperada de algo assim ou pelo tratamento dado aos atos hediondos do assassino da vez. Em suma, trata-se do que este filme atinge em matéria de motivação psicológica, do modo como ele lentamente nos mostra porque um jovem não consegue viver socialmente e o que termina por levá-lo a rejeitar de forma extremamente agressiva os instintos de convivência mais básicos do ser humano. A adjacência emocional e a carência afetiva também desempenham papéis cruciais dentro da história, sempre de forma sutil e jamais apelativa.
Do que se trata, afinal? Liberado da cadeia após cumprir uma pena de dois anos por crime de estupro, rapaz (John Savage) retorna à casa da mãe (Ann Sothern), uma senhora super-protetora que gerencia um hotel para idosos. O contínuo isolamento dele com a mãe, a convivência forçada com alguns dos vizinhos e certos fantasmas do passado fazem com que ele exponha sua verdadeira e consolidada natureza. É impressionante como o filme consegue nos fazer ter esperança na recuperação do moço, enquanto ao mesmo tempo reafirma uma certeza que é exposta de forma bastante amarga pela personagem da mãe já na reta final da história. John Savage está muito bem como o rapaz sempre à beira do colapso, mas Ann Sothern tem uma atuação simplesmente brilhante como a mãe, numa performance digna de Oscar. Eles são peças-chave de uma pérola adormecida que merece ser mais conhecida, principalmente por cineastas que desejam filmar histórias similares com eficiência e sinceridade. Aprendam com os mestres do passado!
O único extra do disco importado (região 1, áudio e legendas em inglês) é uma interessante entrevista de pouco mais de 20 minutos com o diretor Curtis Harrington (sem legendas).