Fonte da Vida (Darren Aronofsky, 2006)
Com: Hugh Jackman, Rachel Weisz, Ellen Burstyn, Sean Patrick Thomas, Cliff Curtis
As atribulações pelas quais Darren Aronofsky passou para concluir este projeto não foram poucas. Após inúmeras rusgas com Brad Pitt, um set inteiro na Austrália perdido e um corte violento no budget, é possível que muito do que ele tenha envisionado originalmente se perdeu, e acredito que o que mais foi sacrificado foi exatamente aquilo que dava o ar de ficção científica que alguns ainda insistem enxergar em Fonte da Vida. Porque de ficção o filme não tem nada – a não ser que as abstrações envolvendo o passado e o futuro de um médico obcecado em encontrar a cura para o câncer da esposa possam assim ser chamadas.
O ritmo irregular e uma ambiciosa verve poética que tende à arrogância ferem a empatia que os personagens deveriam transmitir enquanto a história se desenvolve. Rachel Weisz parece estar em cena com o propósito maior de ter seu rosto capturado em closes de beleza desconcertante pela câmera de Aronofsky, mas é Hugh Jackman quem praticamente carrega o filme nas costas. Aqui é possível ver que o cara é um ótimo ator. Sua performance e a trilha sonora de Clint Mansell (que compôs um tema merecedor de Oscar para os créditos finais) são o que fazem o filme valer a pena, quer a reação da platéia seja positiva ou não.
Minha opinião fica em cima do muro. Sinal de que uma revisão é bem-vinda num futuro próximo.
A Hora do Rush 3 (Brett Ratner, 2007)
Com: Jackie Chan, Chris Tucker, Hiroyuki Sanada, Yvan Attal, Noémie Lenoir
O sentido do título "A Hora do Rush" eu nunca consegui entender muito bem, mas ver a dupla Jackie Chan e Chris Tucker fazendo graça de novo jamais será motivo de desdém para quem não deixa passar uma comédia rasteira. Leve e descompromissada como no primeiro filme, a trama desta vez aproveita para tirar sarro dos próprios americanos em solo parisiense: é para lá que a dupla vai para investigar mais uma ramificação malvada da máfia chinesa. O personagem do taxista é um achado, e Roman Polanski no papel de um policial abusado não tem preço. A insistência em fazer os heróis lutarem em alturas elevadas no final de todos os filmes da série vai um pouco longe no desfecho deste, mas aí tudo já virou festa.
A pergunta que fica é: será que Brett Ratner e seu elenco teriam gás para mais um filme? Mais ou menos como Richard Donner e sua trupe de Máquina Mortífera? É possível que sim, se depender do taxista George – a versão parisiense do matraca Leo Getz (papel de Joe Pesci), um dos coadjuvantes que mais respeito recebeu nos filmes da década de 80 e 90.
O Vidente (Lee Tamahori, 2007)
Com: Nicolas Cage, Julianne Moore, Jessica Biel, Thomas Kretschmann, José Zúñiga
Boa idéia de Philip K. Dick, um dos novos recém-descobertos papas da ficção científica, porém tratada com extrema falta de bom senso. Um mágico que na realidade é um vidente com o poder de enxergar seu próprio futuro no espaço de dois minutos (Nicolas Cage) torna-se a peça fundamental para uma agente do FBI (Julianne Moore) impedir a detonação de uma bomba nuclear no centro de Los Angeles. Em sua fuga, o cara acaba conhecendo a mulher da sua vida (Jessica Biel). Lee Tamahori é um diretor que entende do riscado em matéria de thrillers com alguma ação. Infelizmente, aqui ele trabalha sobre um roteiro absurdo, que não sabe o que fazer com seus vilões (ou o que eles fazem durante todo o filme) e desrespeita as próprias regras que criou para sair da bagunça para a qual a obra evolui em seu final.
Rogue - O Assassino (Philip G. Atwell, 2007)
Com: Jason Statham, Jet Li, John Lone, Devon Aoki, Ryo Ishibashi
Bastava um tratamento um pouco mais cuidadoso do roteiro deste pastiche de ação, e o resultado teria sido um exemplar bombástico capaz de integrar com louvor a melhor fase dos filmes de John Woo. A narrativa, contudo, sofre com uma panca exagerada para pouca ação em sua primeira metade, e sucumbe aos maneirismos de edição que destroem cenas que deveriam atrair adrenalina, como a da perseguição de carro pelas ruas da cidade. Jason Statham é o agente policial durão que quer vingar a morte do parceiro nas mãos do misterioso Rogue (Jet Li), um assassino traiçoeiro que atua dos dois lados das máfias japonesa e chinesa (Yakuza × Tríade). O filme melhora consideravelmente à medida em que o final se aproxima, mas aí já é tarde demais para que ele possa causar a impressão pretendida no início.
Os Mensageiros (Oxide Pang Chun e Danny Pang, 2007)
Com: Kristen Stewart, Dylan McDermott, Penelope Ann Miller, John Corbett, William B. Davis
Primeiro filme de produção ocidental dos irmãos Pang, figurinhas fáceis do horror oriental, Os Mensageiros tem um gosto de decepção cuja culpa maior é dos clichês, que eclipsam completamente a sua história quando se analisa, por exemplo, outras obras americanas recentes e mais eficientes (Maldição e A Chave Mestra imediatamente vêm à mente). Família em crise muda-se para uma fazenda assombrada por espíritos agressivos, que insistem em aparecer somente para a filha adolescente (Kristen Stewart) e para seu irmãozinho incapaz de falar. Alguns bons momentos de suspense não são suficientes para compensar a espera pela reviravolta do desfecho, que nem é tão espetacular e força demais a barra com o poço de areia movediça.
Anita - Ur en Tonårsflickas Dagbok (Torgny Wickman, 1973)
Com: Christina Lindberg, Stellan Skarsgård, Danièle Vlaminck, Michel David, Per Mattsson
Este drama relativamente inocente (ao contrário do que sugere a convidativa capa do DVD) pertence única e exclusivamente a Christina Lindberg, a Anita, um rostinho de menina num corpo de mulherão. A história é simples, filmada de modo quase banal e abstém-se de investir um pouco mais no lado escandaloso da aflição da personagem-título, uma ninfomaníaca que relata seus encontros com estranhos a um estudante de psicologia (Stellan Skarsgård) genuinamente disposto a ajudá-la. A seriedade imbuída no roteiro exclui associações com o exploitation puro, mesmo com as várias cenas em que há nudez, e a direção resvala às vezes num tom quase documental. O resultado é um filme de status cult que merece ser visto – senão por suas qualidades como cinema, ao menos por sua atriz principal.
Os Incompreendidos (François Truffaut, 1959)
Com: Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Guy Decomble, Patrick Auffay
Antoine Doinel aparenta ser um pré-adolescente inteligente, porém incapaz de se expressar adequadamente devido à letargia de um sistema educacional moribundo e à apatia crônica dos pais, incapazes de sequer tentar compreendê-lo como deveriam. As pequenas transgressões do garoto permeiam o drama deste clássico do cinema francês, o primeiro longa-metragem de François Truffaut, e alimentam um retrato intimista e semi-autobiográfico do rito de passagem para a adolescência. Acredito que o grande apelo do filme reside na honestidade atribuída ao personagem de Doinel. Não que ele seja certinho (muito pelo contrário), mas porque suas reações diante dos obstáculos são pautadas por uma sinceridade que aflora somente quando ele se vê livre das principais influências de sua vida: a família e a escola.
O garoto Jean-Pierre Léaud retorna ao seu papel em mais três entradas na filmografia de Truffaut, o que oferece uma oportunidade interessante para se acompanhar a evolução tanto do personagem quanto do próprio estilo do diretor.
El Topo (Alejandro Jodorowsky, 1970)
Com: Alejandro Jodorowsky, Mara Lorenzio, Robert John, Paula Romo, Jacqueline Luis
Eis uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema underground de qualidade.
A "toupeira" (tradução da palavra topo) é o alter-ego máximo do cineasta, ator, escritor e pretenso místico Alejandro Jodorowsky. O personagem é o pivô de um dos faroestes mais estranhos da história do cinema, que atrai o espectador com uma sucessão de imagens desconcertantes para depois jogá-lo dentro de uma alegoria surrealista que dificilmente será esquecida. A jornada se concentra primeiramente em vingança, sofrendo uma guinada no meio do caminho que transforma completamente o protagonista. A arrogância dá lugar à humildade, acompanhada de inúmeras camadas de significado e crítica religiosa. Mais do que um western, este filme representa de fato uma experiência única, que com o tempo ganhou um merecido ar cult. Há inúmeras passagens memoráveis, sempre filmadas com um esmero estético que impressiona. Como o resultado desastroso da cena que envolve uma roleta russa numa igreja, o desespero de um pistoleiro com a arma no coldre porém sem braços para poder usá-la, o ataque das matronas a um pobre escravo ou o desenlace da fuga do povo subterrâneo, já no final do filme.
Homem-Aranha 3 (Sam Raimi, 2007)
Com: Tobey Maguire, Kirsten Dunst, James Franco, Thomas Haden Church, Topher Grace
Numa primeira revisão, o que fica mais evidente no terceiro capítulo da saga dirigida por Sam Raimi é o quanto uma certa infantilização afeta o desenvolvimento da história. O resultado é um grupo de personagens com motivação rala, como o Venom (praticamente jogado dentro da bagunça) e o próprio Homem-Areia (se ele não é de fato um criminoso, porque a sua conivência junto com Venom em partir com tudo pra cima do Homem-Aranha no clímax?). A sorte é que o carisma do universo criado por Stan Lee é mais do que suficiente para garantir que ninguém consiga tirar os olhos enquanto qualquer um dos filmes do Homem-Aranha estiver passando numa tela de TV ou de cinema.
Sindicato de Ladrões (Elia Kazan, 1954)
Com: Marlon Brando, Karl Malden, Eva Marie Saint, Rod Steiger, Lee J. Cobb
Os valores e a consciência de um ex-pugilista e trabalhador dos portos (Marlon Brando) são postos à prova quando o sindicato liderado por um mafioso (Lee J. Cobb) mata um de seus amigos operários que ameaçava delatar as atrocidades cometidas contra a classe. Ajudando-o rumo à redenção estão o irmão (Rod Steiger), que é também o braço direito do chefão, o preocupado padre local (Karl Maden) e a irmã do rapaz assassinado (Eva Marie Saint), por quem ele passa a nutrir sentimentos. O pano de fundo político-trabalhista pode ter envelhecido um pouco, mas a história e a performance de Marlon Brando são de fato marcantes, num filme que ganhou nada menos que 8 Oscars e veio com o tempo a ser considerado um dos maiores clássicos do cinema norte-americano.
Nude... Si Muore (Antonio Margheriti, 1968)
Com: Vivian Stapleton, Eleonora Brown, Sally Smith, Ludmila Lvova, Mark Damon
A.K.A. Naked You Die – Começando com um assassinato, o filme conduz o corpo até um colégio feminino de alto nível, juntamente com a nova e recém-chegada turma de professores. O que o corpo foi fazer lá, dentro de um baú, é algo que só o desenlace do mistério dos assassinatos das moças poderá responder. A solução de mais este roteiro whodunnit tem um quê de engenhosa, mas o meio de campo exagera nas mortes não justificadas. A sede de sangue do assassino vai, obviamente, além daquela que deveria ser sua vítima principal. O elenco de moças é carismático, em especial a investigadora amadora e enxerida feita por Sally Smith. A direção competente evita a nudez com ângulos espertinhos e imprime um ar de leve sofisticação à história (o filme não chega a ser um giallo propriamente dito, pois a violência e o sangue são mínimos), divertindo sem grandes expectativas.
Menina Má.com (David Slade, 2005)
Com: Patrick Wilson, Ellen Page, Sandra Oh, Odessa Rae, Gilbert John
Minimalista na cenografia concentrada, este filme de infame título em português é pródigo em close-ups, principalmente enquanto seus dois personagens representam um para o outro. Patrick Wilson é o fotógrafo profissional que gosta de mocinhas bem novas, e Ellen Page a garotinha de 14 anos que aceita encontrá-lo após um papo caliente pela Internet. Ela é novinha, mas não inocente, como o garanhão acaba descobrindo da pior maneira possível. O que começa muito bem e evolui para um fenomenal confronto psicológico acaba descambando, em seu trecho final, numa sucessão de impossibilidades que põe a perder o que poderia ter sido uma obra bombástica. Ainda assim, a tensão construída e as performances dos protagonistas justificam a sessão com folga.
Johnny English (Peter Howitt, 2003)
Com: Rowan Atkinson, Natalie Imbruglia, Ben Miller, John Malkovich, Greg Wise
Constatação rasteira na revisão desta (medianamente) divertida farsa sobre os agentes secretos britânicos: Natalie Imbruglia deveria tentar mais vezes se aventurar nas telas de cinema – principalmente por ela ter sumido do cenário musical depois de um excelente disco de estréia (Left of the Middle, 1998) e de outro disco não tão bom assim (White Lilies Island, 2002).
Heróis Fora de Órbita (Dean Parisot, 1999)
Com: Tim Allen, Sigourney Weaver, Alan Rickman, Tony Shalhoub, Sam Rockwell
Ótima idéia aproveitada numa comédia super-afinada, digna do ótimo elenco e virtualmente irretocável em sua sátira ao universo de Star Trek. A turma do seriado "Galaxy Quest" vive de dar autógrafos em convenções de fãs, anos após a glória do programa que lhes deu fama. Até o dia em que um grupo de extra-terrestres de verdade os procura pedindo ajuda, acreditando que as transmissões do show de TV recebidas em outra galáxia são documentos históricos de seus feitos heróicos. Os personagens são estereótipos que emulam as figuras conhecidas de Jornada nas Estrelas, incluindo uma indefectível cópia do capitão Kirk (Tim Allen) e de Spock (Alan Rickman, impagável). Além do ótimo timing cômico que o roteiro demonstra, o filme esbanja competência no departamento de efeitos especiais.
Divagações postadas por Kollision entre 6 e 16 de Outubro de 2007