Quem já jogou diz que é bom. Tudo o que eu conheço de Resident Evil, o jogo, é a personagem Jill, e somente através de games de briga onde ela aparece como convidada (agora faz sentido o porquê do poder especial dela ser um zumbi conjurado do nada). A adaptação para o cinema chegou a passar pelas mãos – acreditem se quiserem – do mestre do filmes de zumbi, George Romero. Diferenças criativas fizeram deste sonho algo impossível, mas até que o diretor Paul Anderson, já calejado por ter feito outra adaptação de um jogo famosíssimo (Mortal Kombat), não faz feio. Ele não revoluciona o gênero, mas fez um trabalho de conversão aparentemente decente do universo dos games para as telas de cinema.
O desastre biológico que ocorre dentro da sede subterrânea de uma corporação que faz pesquisas altamente questionáveis deixa um saldo enorme de mortos quando o computador que controla tudo pira na batatinha e tranca as portas do complexo, conhecido como a "Colméia". Uma equipe militar é enviada para investigar e corrigir o problema. No caminho, a agente de segurança do lugar (Milla Jovovich) é resgatada sem memória, juntamente com outro agente desmemoriado (James Purefoy) e um policial enxerido (Eric Mabius). A verdade sobre o efeito desvastador de um cobiçado vírus se esconde atrás de inúmeras salas e corredores, onde zumbis e mutantes circulam a esmo prontos para atacar qualquer um que ouse cruzar seu caminho. As lembranças da moça sem memória retornam devagar, à medida em que o grupo diminui e a esperança de escapar com vida fica cada vez mais distante.
Há algo estranhamente sedutor no diferencial de interesse que surge a partir do absurdo contraste entre a beleza de Milla Jovovich e a natureza hedionda das criaturas que tomam conta do filme em sua segunda metade. Ela é como um bibelô de luxo levado a tira-colo pelos militares, sempre em trajes sumários, sempre com aquele olhar perdido de heroína inocente inconsciente de seu destino. Um convite a um tipo especial de voyeurismo que só encontra sua razão de ser em filmes com este tema, onde a qualidade surge do contraste entre o feio e o belo, e os dotes da protagonista contam muitos pontos na apreciação do filme. Michelle Rodriguez não conta, pois só faz cara de macho e passa o tempo todo de uniforme militar.
Mas chega de encher a bola das moças. Naquilo que realmente interessa, que são os mortos-vivos, Resident Evil cumpre o dever de casa. Sem nada de espetacular, sem muito suspense e sem um gore de cunho mais agressivo. Isso me faz imaginar o que George Romero poderia ter feito com tal material em mãos... Com cara de pastiche de ficção científica e cheio de referências a Alice no País das Maravilhas, a versão concebida por Paul Anderson é somente correta, com um ótimo trabalho de maquiagem e efeitos especiais decentes. O roteiro não vai muito longe em alguns pontos obviamente por restrições de orçamento (a quantidade reduzida de monstros mutantes que saem dos inúmeros casulos quando a energia do complexo é desligada é um exemplo). A opção em se manter o mistério em torno de sua protagonista, no entanto, é acertada, nublando qualquer suposição sobre sua real origem e pavimentando o caminho para eventuais reincidências de "Milla contra os monstros". Afinal, não é todo dia que se vê uma modelo loira de olhos azuis detonando seres putrefatos.
Como adaptação de um vídeo-game, o longa entra facilmente na categoria das boas transposições para o cinema, daquelas que conseguem pelo menos honrar o material original. Bem diferente, por exemplo, de porcarias como o recente Terror em Silent Hill (Christophe Gans, 2006).
O pacote de extras da edição de luxo em DVD inclui duas faixas de comentários, ambas capitaneadas por Paul Anderson: a primeira delas tem Milla Jovovich, Michelle Rodriguez e o produtor Jeremy Bolt como convidados, e a segunda se concentra nos efeitos especiais de Richard Yuricich. Há ainda um making-of de 15 minutos e vários especiais de até 10 minutos sobre a trilha sonora, os cenários, storyboards e figurinos, um final alternativo com comentários do diretor, seis featurettes detalhando cenas cruciais com efeitos especiais e maquiagem pútrida, uma apresentação curta da continuação Resident Evil 2 - Apocalipse, trailers dos dois filmes e também os trailers de Hellboy e da mini-série Kingdom Hospital de Stephen King.
Visto em DVD em 10-JAN-2007, Quarta-feira - Texto postado por Kollision em 15-JAN-2007