De nada adianta o entusiasmo. No caso, o do diretor Christophe Gans em obter os direitos para o filme baseado no jogo Silent Hill e comandar ele próprio mais esta adaptação de outra mídia. O resultado é pomposo, chama a atenção a partir dos poucos flashes vistos no trailer, mas só é capaz mesmo de satisfazer aos mais fanáticos pelo jogo. Olhem a foto do cartaz do filme aí em cima. Um título que se traduz como "Morro silencioso", uma garotinha sem boca e monstros repugnantes sedentos pelo couro de uma loira gostosinha (afinal, Radha Mitchell tem lá seus encantos) soa como uma receita infalível para um filme de horror, não?
Noooooooooo.... Resposta errada!
O filme não tem história. Quando decidem que já está na hora de criar alguma, o longa já passou da metade e a paciência do espectador já foi pro saco há muito tempo, com tanta enrolação e coisas estranhas pipocando de todos os lados sem explicação alguma. A desculpa para a protagonista ir à cidade-fantasma é ridícula, e a menina é usada porcamente como muleta, numa trama tão imbecil que chega a dar dó. Prestigiar a forma em detrimento do conteúdo é exatamente o mote de muitos bons jogos de vídeo-game, mas todo mundo envolvido na produção parece ter se esquecido que com cinema o buraco é mais embaixo.
Há muito CGI. Isso não seria problema algum, se tudo não fosse tão gratuito e não morresse dentro de seqüências carregadas de efeitos especiais, sem qualquer mínima ligação com o resto da história. A bagunça é tanta que o roteiro de Roger Avary (escritor e também diretor de filmes, como o ácido Regras da Atração) tenta consertar tudo com um final ambíguo, o que só faz coroar toda a lambança, que passa das duas horas de duração quando na realidade tinha material para ir pouco além de uma hora. Sean Bean volta a perder uma filha em seu papel de coadjuvante de luxo, neste caso um personagem completamente inócuo... Estaria essa se tornando uma de suas especialidades? A outra cria que ele perdeu foi em Escuridão (John Fawcett, 2005), que não é grande coisa mas pelo menos funciona bem melhor como obra de horror.
Salvando o filme da mediocridade total está Radha Mitchell, com um sobrenome bem abrasileirado (da Silva) e acompanhada de uma sombra facilmente confundível com ela própria: a policial feira por Laurie Holden. É possível encontrar qualidades no visual depressivo do filme e no design do monstrão com a espada gigantesca. Só que isso não deveria ser um vídeo-game, e sim um filme de terror. Nunca cheguei a pôr os olhos no jogo, mas ele com certeza deve dar de dez a zero em sua versão para o cinema.
Visto no cinema em 21-AGO, Segunda-feira, sala 4 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 28-AGO-2006