Continuação de uma adaptação relativamente bem-sucedida de um vídeo-game de sucesso, este filme de estréia do diretor Alexander Witt, veterano atrás das câmeras e em segundas unidades de filmes hollywoodianos, infelizmente vai de encontro à parede em sua ambição de melhorar o que já havia sido mostrado. Em algum ponto do caminho o conceito se desvirtuou, o pouco terror genuíno que existia foi extirpado e se esvaiu a mágica existente em torno da protagonista da história. Os produtores se esqueceram de que para um jogo ou filme de terror funcionar a contento, deve haver suspense e gore. O problema de Resident Evil - Apocalipse é que não há suspense, e nem mesmo no gore o filme consegue empolgar.
A onipresente corporação Umbrella definitivamente não aprendeu a lição após o desastre mostrado no filme anterior. Disposta a reativar o complexo subterrâneo em Racoon City apenas algumas semanas depois do incidente, ela acaba liberando o vírus maligno e infectando os civis na superfície. É exatamente após esta nova contaminação que Alice (Milla Jovovich) escapa – ou é libertada – do cativeiro em que vinha sendo mantida, conforme mostrado no pessimista epílogo do longa anterior. Num cenário de desolação urbana provocado por hordas de mortos-vivos, Alice se une à mercenária Jill Valentine (Sienna Guillory), ao policial Carlos (Oded Fehr) e a dois civis numa busca pela filha do criador do vírus (Jared Harris), o único que pode tirá-los da cidade com vida. Em seu encalço aparece uma super-criatura mutante, libertada e controlada pelo frio líder da corporação (Thomas Kretschmann).
Assimilando as características mais aborrecidas de games que não primam pela originalidade, o filme peca pela repetição de situações e inimigos do primeiro longa, muitas vezes sem fundamento cabível. Assim, voltam os cães zumbis e mais três das criaturas mutantes do clímax anterior (denominada de licker, e muito parecida com o Venom, um dos arqui-inimigos do Homem-Aranha). O reaparecimento destas criaturas proporciona enchimento para uma boa parte da narrativa, que vem adornada por cenas de ação que, de tão exageradas, soam patéticas, como a peripécia de Milla Jovovich com a motocicleta dentro da igreja. Um pastiche de ação, aliás, é exatamente o que o filme tenta ser, o que com certeza deve ter desapontado muita gente que gostava do vídeo-game.
Uma coisa que seria louvável é o fato do roteiro, escrito pelo diretor do filme anterior, colocar na história alguns dos principais personagens do jogo. A maior contribuição de Jill Valentine, a heroína original, é que ela coloca no filme uma sensação de humanidade perdida com a transformação de Milla Jovovich numa espécie de versão feminina de Robocop. Alçada a uma posição de morosa e insossa invencibilidade, a personagem Alice perde a vulnerabilidade e, por conseguinte, o encanto que possuía. A concepção do vilão principal é um tiro que saiu pela culatra, apesar da reviravolta final que marca a sua presença na história. O bicho, com corpo de gente, cara de Alien e aparência de um manequim bombado, pode causar risadas nas primeiras vezes em que aparece.
E terror, que é bom... Nada. Tudo é muito cheio de explosões, centrado na ação desenfreada e numa ênfase corporativa e militar que encobre quase por completo a idéia de que os zumbis deveriam ser um dos pivôs da história. Talvez eles tenham melhor sorte no próximo capítulo, programado para estrear no meio de 2007.
O carro-chefe da seção de extras do DVD é um making-of de 50 minutos. Há ainda nada menos que três faixas de comentários em áudio (diretor e produtores, escritor e produtor, Milla Jovovich + Sienna Guillory + Oded Fehr – todas legendadas em português!), três featurettes curtos sobre as mulheres e os conceitos do filme, pouco mais de 10 minutos de cenas excluídas/estendidas, uma galeria de pôsteres, três minutos de erros de gravação e dois trailers de cinema.
Visto em DVD em 13-JAN-2007, Sábado - Texto postado por Kollision em 17-JAN-2007