Se por algum motivo você tiver gostado do primeiro O Grito, a principal coisa a se dizer sobre o segundo é que ele vale muito a pena, e agrada ainda mais que o primeiro. Ainda sob as asas da produção executiva de Sam Raimi, o japonês Takashi Shimizu retoma as rédeas de sua criação macabra e investe de forma mais ambiciosa na fórmula nipo-americanizada criada por ele mesmo. Os personagens ganham um pouco mais de profundidade e os sustos mantêm praticamente o mesmo nível, sendo que não dá para reclamar nem um pouco das adições feitas ao elenco liderado por Sarah Michelle Gellar.
Sendo curto e grosso, é o quintessencial horror com origem japonesa ao qual os fãs se acostumaram desde que os filmes de Hideo Nakata explodiram no ocidente e abriram as portas para muitos outros filmes de apelo diferenciado. Obviamente, a mão da máquina hollywoodiana está lá, mas Shimizu não se deixa dominar por ela, e sim se aproveita muito bem do melhor que a produção americana poderia lhe oferecer. Começando pelo fenomenal trabalho de Christopher Young (definitivamente um dos melhores compositores para filmes de terror e suspense) na trilha sonora, e indo até efeitos especiais que não chegam a ser tão intrusivos quanto no primeiro filme.
Não há intervalo entre uma história e outra. Ou melhor, há sim, pois o roteiro vem com uma ousada mescla de três linhas narrativas. A primeira delas vem exatamente após o final do filme original: hospitalizada e assombrada pelos fantasmas da casa onde trabalhou, Karen (Sarah Michelle Gellar) recebe a visita da irmã preocupada Aubrey (Amber Tamblyn). Outra historieta envolve três amigas de colégio que se aventuram a entrar na casa mal-assombrada e são consumidas pela devastadora maldição. E a última trama se passa nos Estados Unidos ao invés de Tóquio: um garoto (Matthew Knight) é o único que parece notar que algo muito errado passa a acontecer com sua família e com todos os moradores do prédio onde mora, principalmente após a chegada de uma estranha vizinha encapuzada no apartamento ao lado.
O roteiro não perde tempo em explicar porque os fantasmas da mulher de cabelos escorridos e do moleque pálido insistem em aparecer para suas vítimas, já que todas as "explicações" já foram dadas no primeiro O Grito. O termo "explicações" está entre aspas porque ele se refere apenas à origem do mal, e não ao motivo de sua inexplicável propagação entre aqueles que se aventuram a entrar na casa mal-assombrada. Esta sim, é alçada à verdadeira fonte das transformações, e acaba fazendo o papel de ponte narrativa entre as três histórias, que em determinado momento se conectam. Não há nada de extraordinário no modo como isso acontece, mas pelo menos o filme não ofende a inteligência do espectador com reviravoltas malucas.
O único clichê que incomoda um pouco é a investigação empreendida pela personagem de Amber Tamblyn, que encontra pela frente uma anciã japonesa (o tipo de personagem que aparece em quase todos os filmes do estilo) que fala inglês fluente! A apetitosa Tamblyn fecha um ciclo próprio de participações em refilmagens de obras de horror japonesas, já que ela foi a primeira a morrer no insuperável O Chamado (Gore Verbinski, 2002). Pelo menos no que diz respeito a continuações, no entanto, O Grito 2 fica bem à frente de O Chamado 2 (Hideo Nakata, 2005). Shimizu ocupou-se em empreender uma evolução, ao contrário de Nakata, que praticamente destruiu as esperanças de uma terceira entrada na série estrelada por Naomi Watts.
A série continua em O Grito 3 (2009).
Visto no cinema em 23-OUT, Segunda-feira, sala 5 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 27-OUT-2006