Cinema

O Grito

O Grito
Título original: The Grudge
Ano: 2004
País: Estados Unidos, Japão
Duração: 96 min.
Gênero: Terror
Diretor: Takashi Shimizu (Ju-on, Almas Reencarnadas, O Grito 2)
Trilha Sonora: Christopher Young (Um Salão do Barulho, O Exorcismo de Emily Rose)
Elenco: Sarah Michelle Gellar, Jason Behr, William Mapother, Clea DuVall, KaDee Strickland, Ted Raimi, Ryo Ishibashi, Grace Zabriskie, Bill Pullman, Rosa Blasi, Yoko Maki, Yuya Ozeki, Takako Fuji, Takashi Matsuyama
Distribuidora do DVD: Europa Filmes
Avaliação: 6

Seguindo a cartilha das refilmagens de filmes japoneses de horror capitaneados pelo sucesso recente de O Chamado, O Grito também é um remake de um filme não mais velho que cinco anos, só que desta vez comandado pelo próprio diretor do original, o japonês Takashi Shimizu. O filme original, intitulado e conhecido por aqui simplesmente como Ju-on, era declaradamente B e carecia de uma produção mais caprichada, regalia que Shimizu veio a conseguir no ocidente, sob as asas de ninguém menos que o produtor Sam Raimi. Jogada esperta do homem por trás do clássico A Morte do Demônio e hoje peixe grande dentro da máquina hollywoodiana, que assim tentou manter a fidelidade máxima a uma cultura e mitologia que só agora começam a ganhar definitivo terreno dentro do cinema mainstream americano.

Participando de um programa de intercâmbio no Japão, a jovem Karen (Sarah Michelle Gellar) precisa certo dia substituir a colega num serviço de assistência social da agência onde trabalha. Porém, tanto a casa quanto sua única ocupante, uma senhora que sofre de um distúrbio nervoso, parecem de imediato carregar algo de anormal. Impressionada por presenças e visões estranhas, Karen recorre à ajuda do chefe (Ted Raimi) e do namorado (Jason Behr), enquanto o mistério se aprofunda cada vez mais e ela começa a investigar a história das pessoas que viveram (e morreram) dentro da casa.

A clássica história de fantasmas assume aqui uma roupagem típica, determinada por uma mitologia que soa definitivamente estranha a olhos ocidentais. O mais recomendável seria, em qualquer caso, assistir ao filme original e, só depois, conferir esta refilmagem. Portanto, está fora de questão estabelecer um paralelo entre os dois filmes sem ter visto ambos.

O termo 'grudge' traduz-se literalmente como 'rancor' ou 'ressentimento', título que seria mais adequado ao filme, mas que não teria punch algum. Neste sentido, alguns bons sustos esperam a platéia em O Grito, apesar da incoerência de um roteiro que não se preocupa em esclarecer porque algumas pessoas são mais afetadas que outras ao entrarem na casa, ou porque somente alguns dos mortos insistem em retornar à vida para assombrar os vivos. Shimizu mostra competência ao extrair de Sarah Michelle Gellar uma interpretação que pelo menos não chega a comprometer o filme, tornando-o uma espécie de 'Buffy contra os fantasmas'. Uma boa sacada foi ambientar a história no próprio Japão, o que ajuda sobremaneira no estabelecimento do mito fantasmagórico que impregna a casa e atormenta os vivos que nela se aventuram. A concepção das assombrações é eficiente, e nota-se claramente a influência de O Chamado na aparência do fantasma da mãe.

Uma das coisas que logo se percebe, em se tratando do cinema japonês de horror, é que muito do que se vê na tela não encontra explicação ao longo do filme. Assume-se que o mal existe, e que combatê-lo é extremamente difícil ou mesmo impossível. A ênfase no terror implícito e no pavor daquilo que não se pode ver, característica tipicamente oriental, é incrementada no remake por efeitos especiais que algumas vezes funcionam, outras não. Tome a seqüência da mandíbula, por exemplo. Ela destoa do cerne da história, mas é tétrica e aterradora o suficiente (e como) para fazer o filme valer a pena. Por mais desconfortável que isso deixe o espectador ávido por lógica, não há como ficar impassível diante das aparições fantasmagóricas e dos cadáveres constantemente vislumbrados pelos cantos da casa.

Extras do primeiro disco da edição dupla do DVD: biografias curtas sobre o diretor, o produtor e o elenco, entrevistas breves com todos eles, um making-of de cerca de 50 minutos, 20 min. de cenas variadas de bastidores e, além de trailers do filme, os trailers de O Pesadelo, Amaldiçoados e Old Boy. Extras do segundo DVD: 15 cenas excluídas/estendidas com comentários do diretor e equipe, onde é possível notar bem claramente as diferenças entre o modos de pensar oriental e ocidental dos cineastas e produtores (inclusive com bastante tiração de sarro), diários em vídeo de Sarah Michelle Gellar e KaDee Strickland de cerca de 10 minutos cada, apresentação da seqüência final em storyboard desenhado pelo próprio diretor, featurettes curtos sobre a casa mal-assombrada e os esboços do designer de produção e dois curtas feitos em vídeo caseiro sobre o universo de Ju-on, intitulados 4444444444 e In the Corner.

Texto postado por Kollision em 13/Janeiro/2005 - Revisto em 1/Novembro/2005