Este filme é baseado em fatos reais, ocorridos com uma jovem alemã nos anos 70. Para a ficção em celulóide, seu nome foi mudado para Emily Rose, e os fatos obviamente revistos para propósitos cinematográficos. Deixando-se esta origem de lado, ou mesmo desconsiderando-a, o que se vê na tela é um drama de terror com teor digno dos bons exemplares do gênero. Desde o sucesso de O Exorcista (William Friedkin, 1973), poucos foram os filmes que se atreveram a trilhar um caminho semelhante de forma consistente.
Numa manhã de névoa qualquer, uma casa recebe a visita de um investigador médico que declara a morte de uma de suas residentes, a jovem Emily Rose (Jennifer Carpenter). Diante de todos os membros da família, o pároco local (Tom Wilkinson) é acusado de ser o responsável pela morte da garota e imediatamente levado sob custódia. Uma advogada agnóstica (Laura Linney) é contratada pela arquidiocese para defender o padre contra a acusação de negligência e culpa pela morte da moça, ocorrida durante as atividades de exorcismo conduzidas pelo religioso com o intuito de eliminar de seu corpo uma alegada possessão demoníaca. O ceticismo da advogada é colocado à prova à medida em que os eventos que os conduziram até ali são relembrados no julgamento, e a terrível sina de Emily Rose se descortina diante do corpo de jurados responsável pelo destino do padre Moore.
Apesar das mudanças em relação aos fatos verídicos sobre o caso, a atmosfera de realismo almejada pelo filme não é corrompida por contorcionismos sobrenaturais gratuitos, e jamais envereda pelo fanatismo, ocultismo ou simbolismo religioso barato, o que é um ponto definitivamente a favor do longa. Na visão tecida em parte pelo diretor Derrickson, o desespero da jovem Emily Rose permeia praticamente todas as tomadas do filme com uma tensão constante, existente pelo simples fato da história começar com a moça já morta! A sensação de derrota e a incapacidade diante do mal é algo que transpira desconforto, em se tratando da expectativa criada em torno da narrativa em si. Pois o fato está consumado, e só resta à platéia participar do todo passivamente, como se fosse um integrante do júri.
Como se o próprio tema já não fosse bastante polêmico, o suspense que aflora das situações narradas no tribunal (e ferrenhamente combatidas pelo cético promotor feito por Campbell Scott) consegue ser bastante eficiente em vários momentos, sem apelar para solavancos audiovisuais ou sustos fáceis. Uma das coisas mais intrigantes é a capacidade natural do diretor em transformar simples corredores em ambientes genuinamente assustadores. Na maior parte das vezes o medo aflora do que é mostrado na tela sem que haja qualquer atividade real, detalhe para o qual colabora com uma qualidade impressionante a trilha sonora sufocante de Christopher Young.
Uma grande parte de todo o mérito da produção deve-se ao tremendo esforço cênico de Jennifer Carpenter, a intérprete da jovem possuída. A força da película, que pode causar um certo desapontamento pelo final religiosamente conciliador, reside neste e em vários outros fatores que convergem para o que muitos já mencionaram a respeito do filme: o aspecto originalíssimo de se tratar de um "terror de tribunal". O resultado é ótimo de se ver, mas é preciso torcer para que isso não se torne moda corriqueira em Hollywood.
Texto postado por Kollision em 30/Dezembro/2005