Cinema

Almas Reencarnadas

Almas Reencarnadas
Título original: Rinne
Ano: 2005
País: Japão
Duração: 96 min.
Gênero: Terror
Diretor: Takashi Shimizu (Ju-on, O Grito, O Grito 2)
Trilha Sonora: Kenji Kawai
Elenco: Yûka, Karina, Kippei Shiina, Tetta Sugimoto, Shun Oguri, Marika Matsumoto, Mantarô Koichi, Atsushi Haruta, Miki Sanjo, Takako Fuji, Yasutoki Furuya, Hiroto Itô, Tomoko Mochizuki, Hiroshi Okazaki
Distribuidora do DVD: Top Tape
Avaliação: 6

Revisto em DVD em 26-ABR-2008, Sábado

Uma coisa que só ao rever este filme eu finalmente pude notar é que, como em muitos outros longas de terror orientais da mesma laia, a base para todo o conflito que permeia a história de Almas Reencarnadas é a maldade humana, pura e simplesmente. Alguém faz uma coisa muito ruim a outra pessoa, e alguém paga o pato ou se ferra sem conseguir solucionar nada. Peguem os maiores sucessos dos últimos anos, por exemplo: O Chamado, O Grito, Espíritos e por aí vai... Almas reencarnadas é ambicioso porque contém uma história de personagens que convergem para um foco sobrenatural originado por um assassinato em massa ocorrido décadas no passado. A garotinha da capa do DVD foi uma das vítimas. Confuso a princípio e talvez contido demais dentro da cultura nipônica, o filme perde a força na tela pequena mas ainda incomoda com seu desfecho trágico.

Os extras do DVD consistem de uma coletânea de trailers, que incluem o do próprio filme e também de Os Supremos 2, A Terrível História de Haeckel, A Presa, Dead Fish - Um Dia de Cão, Bubble, Menina Má.com, A Perseguição e do documentário Favela Rising. Durante a inicialização do disco, são exibidos ainda os trailers de O Grito 2 e de uma pousada em Paraty (!).

Visto no cinema em 21-AGO, Segunda-feira, sala 8 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 25-AGO-2006

Um dos diretores mais badalados da onda de horror oriental é Takashi Shimizu, responsável pela criação da mitologia de O Grito, aproveitada em nada menos que seis filmes (dois para vídeo, depois mais dois para o cinema - no Japão - e então mais dois nos Estados Unidos - O Grito 2 deve estrear mais para o final de 2006). Só fiquei sabendo disso recentemente... Como é que se pode construir tamanha reputação reaproveitando a mesma idéia à exaustão? Só mesmo as barreiras comerciais entre oriente e ocidente podem justificar tamanha reciclagem sem sentido, num espaço tão curto de tempo.

A boa notícia é que, graças a esse Almas Reencarnadas, pode-se dizer que Shimizu talvez tenha algo mais a mostrar além de um moleque pálido que fica de cócoras numa escada fazendo barulhos esquisitos. A história do filme foi escrita pelo próprio, com todos os aspectos e nuances já bastante conhecidos do público que tem acompanhado o reconhecimento que o cinema de horror japonês tem colhido ao redor do mundo. Assim como no caso de O Grito, o calcanhar de Aquiles do roteiro é a tão essencial plausibilidade esperada pela platéia ocidental, numa forma pseudo-padronizada que dita como mesmo as histórias mais sobrenaturais "deveriam" ser contadas. Quebrar a fôrma é o que Shimizu mais uma vez tenta fazer, com resultados medianos.

No centro deste conto macabro está uma atriz iniciante (Yûka) que acaba de ser selecionada para a produção de um filme de horror baseado nos brutais homicídios ocorridos num hotel, onde um pai de família assassinou seus dois filhos pequenos e mais uma dezena de pessoas e depois se suicidou. Nem bem a produção tem início e ela já está vendo aparições sinistras de uma menina segurando uma boneca. Paralelamente à sua paranóia, a investigação de uma adolescente (Karina), em cujos sonhos o hotel dos assassinatos aparece, parece conduzí-las de encontro uma à outra. O desaparecimento macabro de várias outras pessoas está também misteriosamente ligado ao destino da atriz assombrada.

O trecho mórbido em que o diretor do filme (Kippei Shiina) vai ao hotel onde os assassinatos ocorreram e faz todo o seu elenco assumir as posições em que os corpos foram encontrados é um achado. Como há sempre aquele tom bizarro que cerca japoneses com o cabelo caindo sobre o rosto e fazendo cara feia (danado esse Hideo Nakata por ter inserido tal idéia na cultura ocidental com Ring - O Chamado), toda a seqüência acaba ganhando um aspecto mais macabro que o normal. É uma pena que a atriz principal seja tão inexpressiva. Nem adianta ela ser figurinha tarimbada da TV japonesa, a garota parece uma tábua em cena.

De qualquer lado que se olhe, a essência do filme recai na mesma de O Grito: espíritos vingativos engendram um meio de se vingar dos vivos. No caso de Almas Reencarnadas, pulando uma geração. Não obstante alguns bons momentos de tensão construídos, como o cadáver enforcado que cai sobre a heroína debilitada, a reviravolta final é de fato inesperada, e sugere uma crueldade impiedosa associada a um lado extremamente desagradável dos preceitos espíritas que costumam nortear tais histórias. Praticamente toda a sensação de terror que o longa suscita vem daí. Somando-se ao clima etéreo-tétrico e à excelente edição de som (sempre um dos pontos altos do cinema de horror oriental), é tal sensação que ajuda a suplantar o estilo desconexo da história.