Mortuária (Tobe Hooper, 2005)
Com: Dan Byrd, Denise Crosby, Stephanie Patton, Rocky Marquette, Lee Garlington
Assim como a própria carreira de Tobe Hooper, Mortuária é um festival de altos e baixos. O filme é ambientado num necrotério, e começa muito bem ao mostrar a chegada da nova administradora do local (Denise Crosby, de O Cemitério Maldito) e dos dois filhos. O adolescente (Dan Byrd, de Viagem Maldita) arranja um emprego numa lanchonete e junto com alguns novos amigos se envolve no mistério sobre os antigos donos do necrotério, supostamente assassinados por um filho deformado que alguns alegam ainda estar vivo. No mais, basta dizer que lá pelas tantas uma perseguição de zumbis tem início, o que acaba descambando num desfecho completamente fora dos eixos e num epílogo desprezivelmente previsível. Apesar disso, Mortuária vale a pena pelas ótimas tiradas de humor negro e pelo bom clima de horror suscitado pelo ambiente mórbido da funerária. O elenco está estranhamente bem, dado o tom bizarro da história, e pelo menos o trabalho de maquiagem compensa o baixo nível dos efeitos especiais presentes no final da história.
And remember... No more graveyard babies!!!
A Carruagem Fantasma (Victor Sjöström, 1921)
Com: Victor Sjöström, Hilda Borgström, Astrid Holm, Tore Svennberg, Concordia Selander
Véspera de ano novo. Uma enfermeira do exército da salvação (Astrid Holm) está à beira da morte, e pede pela presença de um tal David (Victor Sjöström). Ficamos sabendo que David é um bêbado inveterado, um infeliz que se torna vítima do próprio conto que relata aos amigos bebuns num cemitério: na virada do ano, a última pessoa a morrer se torna um arauto da morte, o cocheiro encarregado de conduzir a carruagem fantasma responsável por levar as almas dos que se foram para o outro mundo.
A Carruagem Fantasma é um filme à frente de seu tempo, de estrutura narrativa ousada e realização impecável para a época. O tema fantástico é ao mesmo tempo mórbido, dramático e enaltecedor, e ecos óbvios podem ser percebidos em trabalhos posteriores de cineastas como Frank Capra, Stanley Kubrick e Ingmar Bergman, este último admirador confesso de Victor Sjöström, com o qual realizaria bem mais tarde a obra-prima Morangos Silvestres (numa época em que Sjöström se limitava a atuar somente). O tratamento de cor aplicado à película quase faz a gente esquecer que se trata de um trabalho em P&B, e a trilha sonora atmosférica e minimalista do duo KTL termina por estabelecer o clima de sonho que todos os bons filmes da época são capazes de suscitar. Obrigatório para quem quer conhecer o melhor do cinema fantástico da década de 20, que obviamente se estende além do dominante movimento expressionista alemão.
O Livro de Eli (Albert Hughes e Allen Hughes, 2010)
Com: Denzel Washington, Gary Oldman, Mila Kunis, Ray Stevenson, Jennifer Beals
O fotografia desbotada de O Livro de Eli reflete as consequências de um apocalipse nuclear que dizimou quase toda a humanidade e regrediu a civilização a níveis bárbaros. Não se precisa em que ano se passa a história, mas sim quantas décadas se passaram desde que o desastre ocorreu. É nesse ambiente de desolação que um homem solitário (Denzel Washington) segue um caminho aparentemente sem rumo, até que ele chega a uma cidadezinha dominada por um megalomaníaco fascinado por livros (Gary Oldman). Este, ao saber que o livro que mais procura está em posse do andarilho, inicia uma violenta e sádica perseguição. Bebendo livremente da estética original criada por Mad Max 2, O Livro de Eli não é tão focado nas lutas de arte marcial quanto seu trailer dá a entender. Denzel Washington tem seus momentos de Bruce Lee, mas as lutas são coreografadas sem qualquer ímpeto de inserir o filme na categoria de imitadores de Matrix - está mais do que certo quem já comparou o estilo àquele popularizado pelo personagem japonês Zatoichi. Desta forma, sobra ênfase na história, nos personagens e no impasse político e religioso que o filme invariavelmente provoca. Como era de se esperar, Washington e Oldman se complementam em cena, mas Mila Kunis não está nada mal como a moça inocente que se envolve na trajetória suicida do misterioso Eli.
Caso 39 (Christian Alvart, 2009)
Com: Renée Zellweger, Jodelle Ferland, Ian McShane, Bradley Cooper, Callum Keith Rennie
Os filmes de horror que se apoiam em crianças de aspecto demoníaco ganham mais um exemplar de peso com Caso 39. O peso, no caso, se deve à atriz mirim Jodelle Ferland e ao modo acertado em como o filme transforma uma menina de rosto inocente numa criança extremamente sinistra. Infelizmente, o mesma transformação brusca é percebida nos demais personagens principais da história, o que realmente não deveria ter acontecido e representa a maior fraqueza de um roteiro que, no final das contas, ao menos consegue o intento básico de retratar um conto de terror razoavelmente decente. Renée "bochechuda" Zellweger é uma assistente social responsável por apaziguar problemas familiares envolvendo crianças. Ao se envolver no caso de uma menina que escapa de ser assassinada pelos próprios pais, o mundo da moça começa a ruir com desgraça após desgraça. E logo ela se vê na mesma situação mental em que os pais homicidas estavam no começo do filme. Há vários bons sustos e um pouco de suspense genuíno (apesar de certas bobagens óbvias), o que deve manter os fãs do gênero satisfeitos desde que eles não sejam muito exigentes.
Gincho Wataridori (Kazuhiko Yamaguchi, 1971)
Com: Meiko Kaji, Tsunehiko Watase, Tatsuo Umemiya, Koji Nanbara, Akiko Koyama
A.K.A. Wandering Ginza Butterfly — O cinema japonês da década de 60 foi extremamente rico em filmes envolvendo a Yakuza e conceitos tão típicos à cultura japonesa quanto honra e vingança. Meu conhecimento sobre o período é praticamente nulo, mas fico entusiasmado por saber que Gincho Wataridori, mesmo sendo produzido já nos anos 70, é tido como uma rebarba em estilo e forma da primeira onda dos filmes sobre o crime japonês. Porque Gincho Wataridori, na realidade, é muito bom. A produção não é nada suntuosa, mas fiquei verdadeiramente surpreso com a história, com os personagens e com a elevada classe do suspense obtido pelo diretor Kazuhiko Yamaguchi. Nami (Meiko Kaji) é uma ex-detenta que retorna ao distrito de Ginza, em Tóquio, para reconstruir a vida com o apoio do tio. Ao fazer amizade com um de seus funcionários (Tsunehiko Watase), ela consegue emprego como hostess numa das casas noturnas da região. Que mistério está por trás dos seus atos de benevolência para com uma senhora com a qual aparentemente não tem vínculo algum? O que acontecerá quando seus empregadores descobrirem que ela passou um tempo na cadeia? O que fará Nami quando as garras do chefão do submundo local chegarem até ela?
Pode ser que minha familiaridade prévia com a série Female Prisoner Scorpion tenha contribuído para minha surpresa ao ver Meiko Kaji atuando na maior parte do tempo como uma moça normal, que sorri e dialoga bastante durante todo o filme. Mesmo assim, em certas partes ela continua a exibir aquele olhar de gelar a espinha de qualquer marmanjo perdido em beco escuro. Kaji é obviamente a estrela do longa, mas isso não significa que o restante do elenco atue em função dela. Atenção para a educativa e tensa cena do duelo na mesa de bilhar, um dos pontos altos deste ótimo e desconhecido filme.
Cativeiro (Roland Joffé, 2007)
Com: Elisha Cuthbert, Daniel Gillies, Pruitt Taylor Vince, Michael Harney, Laz Alonso
Fala sério... Como resistir a um filme dirigido por um cara de certo renome, com uma chamada irresistível ao fetiche por ter Elisha Cuthbert no papel de vítima de um lunático discípulo de Jigsaw? Sabem o que isso significa? Que, mais uma vez, fui tapeado pelas aparências!
O filme é só isso mesmo. Super modelo é raptada por um maluco e confinada num quarto que sobrou de um dos filmes da série Jogos Mortais. A cada vez que a moça tenta escapar ela sofre os piores tipos possíveis de tortura, e dali a pouco ela descobre que um homem (Daniel Gillies) também está aprisionado no quarto ao lado. O propósito de toda essa baboseira, se é que existe algum, é soterrado por uma enxurrada de atrocidades lógicas e narrativas de dar medo. O que será que os envolvidos no filme estavam pensando? Será que é tão difícil para certos roteiristas se colocarem no lugar de seus personagens e fazer uma análise de bom senso antes de escreverem coisas desse tipo? Em matéria de torture porn, Cativeiro é um desastre quase completo. E para quem já assistiu a Jogos Mortais, este aqui é outro filme que já nasceu morto.
Divagações postadas por Edward de 15 a 20 de Abril de 2010