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Filmes Vistos em Janeiro - Parte 2

La Momia Azteca (Rafael Portillo, 1957) 5/10

Com: Ramón Gay, Rosa Arenas, Jorge Mondragón, Crox Alvarado, Luis Aceves Castañeda

A.K.A. Attack of the Aztec Mummy — A versão mexicana mais famosa para um dos monstros clássicos é formada por uma trilogia, da qual La Momia Azteca é somente o primeiro capítulo. Seguindo uma linha bastante diferente do que era feito na época, este pastiche não se preocupa nem um pouco em jogar a múmia rapidamente dentro da história. Durante a maior parte do filme, quem manda em cena é um cientista obstinado (Ramón Gay) que deseja provar sua teoria sobre hipnose e vidas passadas. Sua namorada (Rosa Arenas) se oferece para participar da sua experiência, trazendo à tona recordações de um templo azteca onde um guerreiro foi punido e mumificado. La Momia Azteca em DVD é um caso triste onde a má qualidade do disco interfere de forma destrutiva na apreciação do filme, devido a uma transposição digital escura demais. Enxergar a múmia satisfatoriamente dentro do breu das catacumbas é praticamente impossível. O elenco em si faz um bom trabalho para uma obra desta estirpe, que infelizmente sofre com os vícios mais comuns dos filmes de monstro medianos (a ausência de lógica espacial e o final apressado são os aspectos mais notórios neste caso). A trilha sonora é boa e constrói um bom clima, e o personagem medroso é relativamente engraçado. Não há nada mais, porém, que seja digno de nota.

Sete Vidas (Gabriele Muccino, 2008) 7/10

Com: Will Smith, Rosario Dawson, Woody Harrelson, Barry Pepper, Michael Ealy

Dramas anormais como este vêm e vão, e é fácil gostar deles pelo que são: histórias com o claro objetivo de inspirar e, entre uma cena e outra, trazer lágrimas aos olhos da plateia nele absorvida. Will Smith é um investigador da receita que age de forma estranha, primeiro destratando alguns de seus investigados para depois lhes fazer coisas boas. Os motivos de sua benfeitoria são explicados aos poucos e podem ser adivinhados bem antes do final, mas aí a história já mudou de rumo e estacionou num romance cruel: depressivo e abatido, o cara se apega a uma moça com doença terminal (Rosario Dawson), sem saber muito bem como lidar com a situação. Smith e Dawson brilham em seus respectivos papéis (ela está particularmente radiante), e compensam a quebra de ritmo para quem estiver num estado de espírito propício a um pouco de romance. Não achei que o apelo às lágrimas é tão grande como algumas fontes propalaram, e gostei da mensagem que a história – por mais falha que seja – tenta passar. As pretensões de Sete Vidas podem não ser altas, mas o filme ganha nossa simpatia por uma sinceridade algo ingênua.

Império dos Sentidos (Nagisa Oshima, 1976) 5/10

Com: Eiko Matsuda, Tatsuya Fuji, Aoi Nakajima, Kyôji Kokonoe, Yasuko Matsui

Quando eu era moleque este era um dos filmes-tabus sobre o qual todos os adultos comentavam. Já adulto – quero dizer, com mais de 18 anos – finalmente tive a chance de vê-lo e, bem, concordo que Império dos Sentidos não é mesmo um filme para crianças. Para escapar da censura japonesa, o diretor Nagisa Oshima deu um jeito de transformar o longa numa co-produção francesa, conseguindo total liberdade para filmar o que queria e como queria. Baseado em fatos reais, o roteiro se debruça sobre a relação obsessivamente apaixonada de uma prostituta (Eiko Matsuda) e seu senhorio (Tatsuya Fuji), que lentamente atinge os limites de um sadomasoquismo perigoso e os conduz a um beco sem saída. A verdade é que os enquadramentos que retratam sexo explícito jamais descambam para o estritamente pornográfico, mas a história não consegue corresponder à expectativa criada pela fama do filme. Há um grande vazio no desenvolvimento dos personagens, em especial do protagonista, e o desaparecimento gradual dos coadjuvantes vai criando um vácuo que o sexo doentio entre os dois não consegue preencher dramaticamente. A cena mais marcante é aquela em que a moça "bota um ovo", e faz o filme valer a pena nem que seja pela bizarrice inerente.

Quarentena (John Erick Dowdle, 2008) 6/10

Com: Jennifer Carpenter, Jay Hernandez, Steve Harris, Johnathon Schaech, Rade Serbedzija

A audácia do cinema norte-americano não conhece mesmo limites, e coisas como Quarentena somente pioram a ideia de que esse povo só tem olhos mesmo para o próprio umbigo. Refilmagem quase instantânea de um filme de terror espanhol de relativo sucesso, esta obra não passa de uma cópia-carbono borrada e levemente amassada. Em outras palavras, é um filme redudante, desnecessário e, por isso mesmo, estúpido em sua razão de ser, já que tal razão simplesmente não existe. A história é a mesma: repórter noturna (Jennifer Carpenter) e equipe de bombeiros fica presa num prédio com seus moradores enquanto uma infestação de zumbis toma conta da construção. Algumas cenas foram refeitas de forma absolutamente porca, enquanto outras coisinhas foram adicionadas para que os espectadores que assistiram aos dois filmes pudessem brincar de jogo dos 7 erros. Nesta versão americana, a melhor coisa é a nova cena do elevador. A explicação final para o mistério é diferente e clichezenta, e a competência técnica típica destes novos pastiches hollywoodianos não permite que o filme seja destruído nos departamentos técnicos. Enfim, só assista se você ainda não tiver visto o original.

Império dos Sonhos (David Lynch, 2006) 6/10

Com: Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Theroux, Harry Dean Stanton, Julia Ormond

Vocês estão vendo a cara da Laura Dern na capa do DVD brasileiro de Império dos Sonhos? Imaginem então a minha cara tentando entender o filme depois que ele terminou, já que ela é que é praticamente idêntica à da Sra. Dern! “Mas que diabos!” é a expressão mais aplicável, e quem é familiarizado com o trabalho de David Lynch faz uma boa noção do porquê desta minha reação.

Linearmente falando, pelo menos até o ponto em que a redoma surreal não cobriu toda a história, Império dos Sonhos conta o episódio em que a atriz Nikki (Laura Dern) começa a trabalhar num longa-metragem. Depois de saber por seu diretor (Jeremy Irons) que trata-se da refilmagem de um filme polonês inacabado porque os atores foram assassinados durante a produção, Nikki se envolve com seu colega de cena (Justin Theroux) e começa a confundir realidade com ficção. Como a história se passa em Los Angeles, e muito do estilo remete ao anterior Cidade dos Sonhos, Império pode ser encarado como uma espécie de continuação deste último. A principal diferença é que Império foi todo filmado em meio digital, resultando em imagens bem mais escuras que o normal (esteja atento para aumentar o ajuste de brilho da TV em pelo menos 20%).

Dito isso, declaro que não consegui interpretar o filme de forma satisfatória. Talvez o que mais tenha feito sentido para mim seja a ideia de que o termo Inland Empire defina, de fato, o drama de sua protagonista.

Tanto você quanto eu sabemos que o cinema de Lynch não é para qualquer um. Eu mesmo admito que a reação mais comum e plausível neste caso é revolta, pois são afinal nada menos que três horas assistindo a uma aparente colagem de cenas desconexas que por coincidência têm alguns atores/atrizes que aparecem na maioria delas. O maior anacronismo, no entanto, ocorre um dia depois que você assistiu ao filme. Você se pega pensando naquilo que viu, talvez até inconscientemente esteja tentando juntar as peças do quebra-cabeças. Então você lê alguma coisa que escreveram sobre ele em algum lugar. Assiste aos extras do DVD. E se vê irremediavelmente fisgado, pelos motivos mais improváveis possíveis, por um trabalho que aparentemente não fazia sentido algum, mas que por algum motivo inexplicável passou a lhe apetecer artisticamente. E você chega à conclusão de que, algum dia, terá que revê-lo, tendo a certeza de que o nível de compreensão poderá ser então um pouco melhor – não pleno, apenas um pouco melhor.

O Curioso Caso de Benjamin Button (David Fincher, 2008) 10/10

Com: Brad Pitt, Cate Blanchett, Jason Flemyng, Tilda Swinton, Taraji P. Henson

É preciso saber muito pouco para se apreciar esta obra-prima de David Fincher. No início, Benjamin Button (Brad Pitt) é um bebê deformado, um ser humano que já nasce velho, como se tivesse 80 anos, e com o passar dos anos rejuvenesce ao invés de envelhecer. Ele faz o caminho inverso de todos os seus iguais, vendo aqueles que conhece definharem e morrerem. A mágica é mantida durante todo o tempo, do início dos anos 20 até dias muito recentes, que viram o furacão Katrina devastar Nova Orleans. O filme é, sim, uma fábula, um conto de fadas que se entrelaça com a realidade com grande eficiência porém em nenhum momento entra em tecnicalidades sobre o fenômeno que acomete seu protagonista (não há um médico sequer que ouse investigar o porquê do caso). Todos ao redor de Benjamin encaram sua condição com uma naturalidade que desconcerta, enquanto ele segue um rumo determinado quase que exclusivamente pelo desejo de viver e pela paixão incondicional que nutre por Daisy (Cate Blanchett), numa encruzilhada emocional como há muito tempo não se via. O Curioso Caso de Benjamin Button é um primor de sutis efeitos especiais, mas o mais importante é notar como a realização técnica fica completamente submissa diante de uma história fantástica, cativante, dotada de um ponto de vista nada menos que surpreendente para o sentido da vida.

O Dia em que a Terra Parou (Scott Derrickson, 2008) 5/10

Com: Keanu Reeves, Jennifer Connelly, Kathy Bates, Jaden Smith, John Cleese

Os puristas foram unânimes em declarar esta refilmagem um sacrilégio. Não sou tão radical assim, até mesmo porque lá se vão mais de 50 anos desde que o espetacular filme original foi feito, e o tema cai bem dentro do óbvio conceito de atualização tecnológica da história do alienígena (Keanu Reeves) que vem à Terra, é hostilizado pela humanidade e depois demonstra ter uma misteriosa missão a cumprir em nosso planeta. Esta nova versão começa até bem, com um apurado senso de suspense e grandiosidade. Infelizmente, a lógica sofre sucessivas e dolorosas afrontas a partir do momento em que o alien decide escapar da base militar onde foi aprisionado pela implacável chefe de estado norte-americana (Kathy Bates). Jennifer Connelly é um colírio muito bem-vindo dentro da história, que peca por não saber muito bem para onde ir em seu momento decisivo e por não conseguir transmitir com a necessária eficiência o conflito interno do alienígena. Tudo acaba perigosamente dentro da média e nem mesmo como bom entretenimento o filme se paga, muito embora a mensagem pacifista e ecológica seja extremamente válida.

La Maldición de la Momia Azteca (Rafael Portillo, 1957) 5/10

Com: Ramón Gay, Luis Aceves Castañeda, Rosa Arenas, Crox Alvarado, Arturo Martínez

A.K.A. Curse of the Aztec Mummy — Curtíssimo e realizado praticamente ao mesmo tempo, esta continuação de La Momia Azteca bem que poderia ter sido condensada com o primeiro filme num único longa-metragem, principalmente quando se contabiliza o tempo em cena da tal múmia azteca. A história começa com o desmascarado vilão "Morcego" (Luis Aceves Castañeda) escapando da prisão e colocando em ação um plano maligno para obter o tesouro azteca, que envolve raptar a namorada (Rosa Arenas) do Dr. Almada (Ramón Gay), o cientista que começou toda a tragédia envolvendo a múmia. O toque de bizarrice fica por conta da aparição constante do vingador mascadado Ángel – o típico clone do popular Santo – na melhor tradição mexicana dos lutadores de luta livre que combatem o crime. A atmosfera durante a maior parte do tempo remete aos seriados norte-americanos clássicos das décadas de 30 e 40, o que rende um certo deleite saudosista em meio ao baixo orçamento que emana de todo o projeto. Além do clímax responsável por inserir a película dentro do gênero do horror, é notável o quanto os protagonistas desta vez põem a mão na massa para enfrentar os bandidos, em especial o Dr. Almada de Ramón Gay.

Austrália (Baz Luhrmann, 2008) 8/10

Com: Nicole Kidman, Hugh Jackman, David Wenham, Brandon Walters, Bryan Brown

Com um dos trailers mais chamativos dos últimos tempos, Austrália soava como um convite aos órfãos dos épicos dramáticos e românticos à la E o Vento Levou. De fato, do primeiro ao último frame o filme exala o desejo de pertencer a tal categoria, seja na grandiosidade de algumas tomadas, na tipografia de seu título, na boa caracterização de mais um vilão clássico (David Wenham, em ótima atuação) ou na relação que floresce entre um vaqueiro local (Hugh Jackman) e uma lady inglesa que, em 1939, vai à Austrália cuidar da propriedade do falecido marido e a encontra ameaçada por um rico industrial local. Quem relata os eventos é um garoto aborígene (Brandon Walters) que fica sob a tutela da nova e inexperiente fazendeira, desde o momento em que ela chega até o momento em que a Segunda Guerra Mundial bate às suas portas. Com arcos dramáticos bem definidos, posso dizer que Austrália consegue seu intento épico, raramente caindo no marasmo que às vezes acomete este tipo de obra. O início exagera um pouco na dose de humor mas logo depois Baz Luhrman abraça o romance com vontade, incluindo na história ousados arroubos de ação e faroeste, os únicos pontos em que a influência dos efeitos especiais fica infelizmente evidente. O mais importante é que o elenco, todo australiano, foi muito bem escolhido e ajuda a estabelecer a autenticidade que o filme precisa.

Divagações postadas por Kollision de 24-JAN a 1-FEV de 2009