Está aqui um colosso de filme facilmente subestimável. Porque tenho essa impressão talvez esteja no fato de eu já ter visto uma de suas mais famosas cenas várias vezes em documentários e antologias de ficção científica, antes de realmente pôr os olhos pela primeira vez neste excelente trabalho do diretor Robert Wise. Passa a ser fácil, depois disso, entender porque o filme se mantém ainda hoje uma das maiores inspirações para cineastas dentro e fora de seu gênero. Quem ainda não o viu não precisa ter medo: todos aqueles que colocam este filme entre as maiores obras de ficção científica de todos os tempos sabem do que estão falando.
Disco voador cruza os céus de todo o mundo e desperta a curiosidade de todas as nações até aterrissar num parque em plena Washington, a capital dos Estados Unidos. Diante dos olhares estupefatos dos curiosos e da mira de um grande número de armas, tanques e morteiros, um robô enorme (Lock Martin) sai da nave, seguido de um alienígena de aspecto humanóide vestido num traje espacial. O nervosismo de um dos homens armados faz com que o alienígena visitante Klaatu (Michael Rennie) seja baleado. Ele é levado a um hospital, enquanto seu companheiro robô fica imóvel ao lado da espaçonave, que é logo sitiada e analisada pelas forças armadas. Ajudado por um cientista (Sam Jaffe) e por uma moça (Patricia Neal), Klaatu prossegue em sua missão de alertar os seres da Terra sobre o perigo da violência e do uso da energia atômica, fugindo de seu cativeiro no hospital e se misturando aos seres humanos.
A história não poderia ser mais simples, e mais contundente. Numa época onde a competição política e armamentista fervilhava a nível global entre os Estados Unidos e a União Soviética, a extrapolação das conseqüências de um colapso nuclear graças à irracionalidade de uma humanidade estraçalhada pela guerra era uma realidade que não estava nem um pouco distante. Utilizar a tecnologia atômica para destruir não só a Terra como também outros planetas é o motivo que conduz as ações do elegante e altivo visitante do espaço, um ser de sapiência aparentemente ilimitada, um cruzado anti-belicista que não deixa de apresentar uma personalidade de nuances polêmicas, principalmente no modo como ele dá seu ultimato aos ignóbeis terrestres. Com efeitos especiais sem grandes diferenciais, mesmo para a época de sua realização, mas sustentado por um roteiro sólido e carregado de suspense, O Dia em que a Terra Parou foge do fundo de ficção científica para adquirir um tom de fábula, libelo pacifista e protesto contra o preconceito, tão logo Klaatu se torna um fugitivo e se transforma num de nós para aprender tudo sobre o planeta que veio salvar.
Obviamente, paralelos com outra figura imponente que veio dos céus para salvar os seres humanos podem ser traçados. Para dirimir a polêmica, a censura tratou de incluir uma sentença apaziguadora proferida por Klaatu no final do filme (algo sobre o "almighty spirit having power over all life and death"). Esse sapo o diretor Robert Wise teve que engolir. Felizmente, a sensacional trilha sonora de Bernard Herrman, o desempenho impecável do elenco e o modo ímpar como o diretor conduz a saga de Klaatu elevam o filme a um patamar de invejável respeito. O desfecho da história pode ser um pouco abrupto e inconclusivo, mas o discurso final do extra-terrestre é algo que não pode ser esquecido, jamais. Enquanto a humanidade mantiver sua ganância por poder e os povos terrestres não perderem essa capacidade inata de se odiarem, o filme jamais perderá seu impacto e sua força.
Os extras do DVD se resumem a uma faixa de comentários dos diretores Robert Wise e Nicholas Meyer, 6 minutos de notícias diversas envolvendo tratados de paz posteriores ao lançamento do filme, trailer e uma comparação rápida das várias fases do processo de reconstituição da obra para sua edição digital definitiva.
Texto postado por Kollision em 21/Junho/2006