Cinema

Psicose (1960)

Psicose (1960)
Título original: Psycho
Ano: 1960
País: Estados Unidos
Duração: 109 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Alfred Hitchcock (Um Corpo Que Cai, Os Pássaros, Topázio)
Trilha Sonora: Bernard Herrmann (As Viagens de Gulliver [1960], A Ilha Misteriosa, Jasão e os Argonautas)
Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam, John McIntire, Simon Oakland, Vaughn Taylor, Frank Albertson, Lurene Tuttle, Patricia Hitchcock, John Anderson, Mort Mills
Distribuidora do DVD: Universal
Avaliação: 10/10

Contam as várias fontes técnicas que Alfred Hitchcock se aventurou na realização de Psicose por estar um pouco saturado dos grandes projetos e orçamentos na casa dos milhões de dólares. Feito por menos de 1 milhão, o filme contou com um elenco sem nenhuma estrela estabelecida e foi rodado praticamente com a mesma equipe com a qual Hitch trabalhava na televisão, o que também reduziu consideravelmente os custos da produção. Ninguém poderia, portanto, imaginar que a obra resultante seria futuramente mencionada como um dos melhores filmes de suspense da história do cinema.

A história deste clássico começa quando a secretária Marion Crane (Janet Leigh) cede às tentações e pressões de sua vida e decide surrupiar do chefe uma quantia de 40.000 dólares, sumindo do mapa com o dinheiro. Durante sua escapada, o mau tempo faz com que ela se hospede num motel de beira de estrada para passar a noite. Recepcionada por Norman Bates (Anthony Perkins), o solícito gerente do lugar, Marion não deixa de notar uma certa estranheza sobre o rapaz, que também passa por problemas pessoais com sua mãe senil. Quando a moça finalmente é dada por desaparecida, uma busca é iniciada por seu amante (John Gavin), por sua irmã (Vera Miles) e por um detetive contratado para encontrá-la (Martin Balsam).

Filmado em preto-e-branco, porque fazê-lo em cores seria muito chocante (palavras do próprio Hitch), Psicose tornou-se logo um fenômeno de público, contrariando as críticas mal-intencionadas que pipocaram após a sua estréia. Um detalhe da campanha de divulgação ajudou a garantir o mistério em torno do filme: não era permitida a entrada de mais nenhum espectador após o início de cada sessão nos cinemas, fosse quem fosse. Hitchcock chegou ao cúmulo de comprar o máximo possível de cópias do livro de Robert Bloch, no qual o filme de baseava, para evitar que a platéia se inteirasse das revelações e eventos cruciais do filme. A inspiração de Bloch, por sua vez, vinha dos eventos aterradores relacionados ao assassino serial Ed Gein, ponto de partida de várias outras obras relacionadas com serial killers.

Acredito que um dos fatores cruciais por trás do sucesso do filme é a natureza dúbia de seus dois personagens principais. Enquanto a bela Marion revela-se, além de uma mulher apaixonada, também uma ladra, cria-se automaticamente um ambiente de fatalidade acerca de sua pessoa e seu destino. Norman Bates, por sua vez, poderia muito bem ser o vizinho boa-praça do estabelecimento ao lado, não fossem os estranhos desvios de comportamento sempre que a figura de sua mãe estivesse presente, fisicamente ou não. Os breves momentos em que estes dois compartilham o mesmo enquadramento de cena são alguns dos mais tensos de toda a película, que fisga o espectador pelo pescoço assim que o primeiro e chocante assassinato ocorre. Não é segredo para ninguém que me refiro à famosa cena do chuveiro, aquela que imortalizou a imagem de Janet Leigh para sempre nas mentes dos cinéfilos ao redor do mundo.

As cenas de assassinato propriamente ditas podem muito bem ter envelhecido um pouco ao longo de mais de 40 anos de evolução gráfica da violência no cinema, mas o que mais assusta, e mantém o interesse intacto na história de Psicose, são as nuances de loucura associadas ao personagem de Norman Bates, que em determinados momentos ostentam aspectos quase oníricos devido à fotografia em preto-e-branco do filme. Para Anthony Perkins, Psicose pode muito bem ter representado tanto o estrelato instantâneo quanto uma maldição da qual ele jamais escaparia. Afinal, seu desempenho como Norman é um dos mais contundentes retratos de uma mente perturbada em toda a história do cinema. Graças ao filme de Hitchcock, sua figura longilínea e de sorriso nervoso é hoje automaticamente associada ao termo 'psycho' (psicopata) por qualquer pessoa que já tenha posto os olhos nesta obra-prima.

O primeiro DVD da edição dupla contém, além do filme, um making-of de uma hora e meia, notas de produção, biografias de Hitchcock e do elenco, o singular trailer do filme, os trailers de seu relançamento, uma reportagem da época mostrando seu lançamento nos cinemas, uma espécie de dissecação da famosa cena do chuveiro (com os storyboards de Saul Bass e uma comparação da cena com e sem trilha sonora) e várias galerias de fotos e pôsteres. O DVD adicional vem com a homenagem da AFI (American Film Institute) a Alfred Hitchcock, que dura cerca de 15 minutos, e uma entrevista com o diretor de pouco mais de meia hora.

Texto postado por Kollision em 2/Janeiro/2006