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Filmes Vistos em Novembro - Parte 2

Entrando Numa Fria (Jay Roach, 2000) 5/10

Com: Ben Stiller, Robert De Niro, Teri Polo, Blythe Danner, Owen Wilson

Esta é mais uma releitura do conto do peixe fora d'água, exageradíssima por sinal. Ben Stiller empresta sua típica cara de palerma para o personagem que vai conhecer a família da noiva, com a intenção de pedir sua mão em casamento ao patriarca (Robert De Niro). Segue-se situações que até têm alguma graça, porém tropeçam numa representação desbalanceada demais do território inimigo – ninguém em sã consciência agüentaria os desaforos aos quais o peixe fora d'água é submetido, principalmente quando eles vêm até dos pais do concunhado (!). Faltou uma daquelas cenas de devaneio em que um parafuso se solta na cabeça do cara maltratado e ele detona todo mundo com requintes bizarros (como a protagonizada por Todd Louiso em Alta Fidelidade).

Hairspray - Em Busca da Fama (Adam Shankman, 2007) 8/10

Com: Nikki Blonsky, John Travolta, Michelle Pfeiffer, Christopher Walken, Zac Efron

Readaptado de um musical dos palcos e de um filme que já fôra anteriormente feito, Hairspray é uma viagem non-stop de adrenalina contagiante que pode, sim, capturar a atenção até de quem não tem muita afinidade com musicais. Sem contar o chamariz fora dos eixos em que transformaram John Travolta, que faz o papel de uma mulher enorme casada com Christopher Walken! Há vários outros nomes conhecidos no elenco, dividindo a tela com iniciantes que mandam ver muito bem. Em especial a rechonchuda Nikki Blonsky, novata de presença radiante e de longe a detentora das melhores seqüências musicais. Seu desejo é fazer parte de um famoso programa de dança na TV (a história se passa no início dos anos 60), o que a leva a bater de frente com o racismo ainda muito forte existente entre brancos e negros americanos.

El Hombre y el Monstruo (Rafael Baledón, 1959) 3/10

Com: Enrique Rambal, Abel Salazar, Martha Roth, Ofelia Guilmáin, Ana Laura Baledón

A.K.A. The Man and the Monster – O início deste filme é corajosamente promissor. O que vem a seguir, um amálgama do famoso conto do médico e do monstro com a lenda do lobisomem, sucumbe ante a fragilidade de um roteiro forçado demais, até mesmo para um pastiche de horror de baixo orçamento. A motivação do repórter (Abel Salazar) e seus "métodos" de dedução são uma afronta ao bom senso, assim como algumas passagens sem nexo do roteiro. Eu não vejo lá grande coisa, mas há quem ache qualidades na história do músico (Enrique Rambal) que vendeu a alma ao diabo e acaba amaldiçoado, transformando-se numa criatura horrenda pelo simples fato de tocar piano. Como não podia deixar de ser, também há uma donzela envolvida na tragédia. O que mais sobressai mesmo é a maquiagem do monstro, muito mais motivo de risada do que de espanto. Que narigão aquele, hein?

Superbad - É Hoje (Greg Mottola, 2007) 7/10

Com: Jonah Hill, Michael Cera, Christopher Mintz-Plasse, Bill Hader, Seth Rogen

Encabeçando a nova geração de comédias adolescentes que versam sobre sexo de forma um pouco mais aberta (como o foram no passado Porky's e American Pie), Superbad é uma espécie de Depois de Horas californiano com moleques que lembram Beavis e Butt-head, só que de carne e osso. Desesperados para conseguirem uma transa, três amigos se unem para conseguir bebidas e um passe mais livre com as garotas na última festa da escola antes de irem para a faculdade. Um deles só pensa em putaria 24 horas, o outro é mais responsável e comedido e o terceiro é um nerd com uma identidade falsa ridícula. Para dificultar a sua "missão", os três acabam tropeçando numa dupla de policiais nada convencionais.

Dentro daquilo que o filme se propõe a mostrar, ele funciona bem. Não há nudez alguma, mas os diálogos comandam o humor de forma bastante despojada. Ao contrário de muitas de várias situações que simplesmente beiram o absurdo, alguns diálogos entre os adolescentes são verdadeiras pérolas da ebulição típica da idade. O gorducho Jonah Hill está um pouco histérico, porém cumpre seu papel estereotipador com excelência, sendo que no final é até bom ver que nem tudo é putaria nas vidas dessa turma tão representativa da atual geração jovem.

Jogos Mortais IV (Darren Lynn Bousman, 2007) 5/10

Com: Tobin Bell, Costas Mandylor, Scott Patterson, Lyriq Bent, Athena Karkanis

Jigsaw está morto. Mas a série Jogos Mortais passa a partir do quarto episódio a tirar água de pedra com seu famoso assassino. Mesmo do além, ele volta a atormentar as vidas dos policiais envolvidos na tarefa ingrata de derrotá-lo em suas tramóias psicóticas. Por um lado, a história agrada porque mostra muito do passado de Jigsaw e da origem de sua motivação, resgatando em maior ou menor escala muitos dos personagens que já deram as caras na série. Por outro, ela faz com que seja IMPRESCINDÍVEL que o espectador esteja com as histórias dos três filmes anteriores frescas na cabeça, ou ele correrá o sério risco – perdoem-me pelo chavão, mas não há expressão mais apropriada – de se sentir mais perdido que cego em tiroteio.

Estranhamente, depois que os primeiros quinze minutos se vão, as tripas características das armadilhas mortais de Jigsaw são deixadas de lado. Uma das deficiências do roteiro é a presença da ex-mulher do maníaco em cena, já que ela não tem nenhum outro propósito senão narrar as primeiras desventuras do cara em sua rotina doentia. Detalhes à parte, pelo menos a gente fica sabendo de onde é que vem a sua fixação por porcos.

O Professor Aloprado (Jerry Lewis, 1963) 10/10

Com: Jerry Lewis, Stella Stevens, Del Moore, Kathleen Freeman, Howard Morris

O charme deste clássico, uma comédia de autor imbatível em sua caracterização do cientista nerd, é atemporal e atesta a genialidade de um dos maiores artistas da história do cinema. A história é simples porém divertida, romântica e contém até uma passagem digna do livro que a inspirou (a famosa cena da transformação no laboratório e a consumação do tema de O Médico e o Monstro). Jerry Lewis é Julius Kelp, o professor de Química cansado de ser uma vítima dos grandalhões e palerma completo. Ele desenvolve uma fórmula que o transforma temporariamente em Buddy Love, um conquistador arrogante, porém charmoso, talentoso e irresistível aos olhos de sua mais bela aluna (Stella Stevens). Nem mesmo algumas exageradas gags visuais diminuem o encanto de um filme feito por um Jerry Lewis no pico da criatividade, numa época em que as comédias ostentavam uma pompa que hoje em dia o cinema norte-americano do gênero desconhece completamente.

1408 (Mikael Håfström, 2007) 5/10

Com: John Cusack, Samuel L. Jackson, Mary McCormack, Tony Shalhoub, Jasmine Jessica Anthony

Entrar no quarto 1408 de um hotel novaiorquino e ficar lá por mais de uma hora é algo que ninguém nos últimos anos conseguiu fazer. Todos, sem exceção, ou se jogaram da janela ou se suicidaram de forma trágica dentro do aposento. Um desafio intrigante para um escritor que publica livros sobre fantasmas mas nunca chegou a ver nenhum ao vivo. A fonte é um conto de Stephen King, e a execução lembra vagamente outra adaptação de uma obra sua (O Iluminado). A descida do protagonista aos píncaros da loucura e do medo tem toques surreais e conta com alguns sustos, enquanto uma tragédia pessoal se descortina diante do espectador. Há um excesso de efeitos especiais que soam desnecessários, mas o resultado pelo menos fica na média.

Confidence - O Golpe Perfeito (James Foley, 2003) 7/10

Com: Edward Burns, Rachel Weisz, Paul Giamatti, Andy Garcia, Dustin Hoffman

Dentro do sub-gênero dos con-movies (atenção para o trocadilho no título original do filme), Confidence com certeza figura entre o grupo que fica acima da média. O filme só não é melhor porque Edward Burns é péssimo, e deveria se limitar somente às suas incursões atrás das câmeras. Para a alegria de quem gosta deste tipo de filme, lá estão Dustin Hoffman, Andy Garcia, Paul Giamatti e uma radiante Rachel Weisz. Burns é o líder de uma gangue de golpistas que morde um osso maior do que o previsto e precisa rebolar para não pipocar nas mãos do chefão Hoffman, conduzindo um golpe ainda mais ambicioso para o novo "patrão". O golpe em si também não é nada mirabolante (conseguir um empréstimo astronômico no banco da vítima), mas o roteiro é enxuto e a execução é eficiente, o que garante uma sessão leve e divertida.

Cidade dos Anjos (Brad Silberling, 1998) 8/10

Com: Nicolas Cage, Meg Ryan, Dennis Franz, Andre Braugher, Colm Feore

Creio já ter assistido a este filme umas três vezes. Em cada uma delas o meu apreço por Cidade dos Anjos aumentou um pouco, ao ponto de eu considerá-lo hoje um dos produtos de entretenimento mais bem acabados do cinema norte-americano da década de 90. Não tive a chance de assistir ao original de Wim Wenders (não resisti ao sono de uma tarde calorenta, há muitos anos atrás), mas sei muito bem que as ambientações de ambas as histórias são bastante diferentes. A versão americana tem Nicolas Cage como o anjo que anseia por humanidade quando cai de amores por Meg Ryan, uma cirurgiã que entra em crise após perder um paciente para os entes celestiais de plantão. O filme não se faz de rogado ao entregar de bandeja tudo o que a platéia espera de um romance tão delicadamente impossível, mas o faz de maneira enternecedora.

Fale com Ela (Pedro Almodóvar, 2002) 10/10

Com: Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores, Geraldine Chaplin

Todo mundo sabe que a esmagadora maioria dos filmes de Almodóvar é pródiga em personagens femininas fortes, ardentes ou neuróticas. É por isso que este trabalho soa como uma gema em sua filmografia, não somente por ser excelente, mas por concentrar-se basicamente em dois homens cuja amizade floresce enquanto eles cuidam das mulheres de suas vidas, ambas catatônicas e sem esperança de sair do coma. O roteiro vai lentamente saindo de uma inércia que evolui para um interessante conflito que versa sobre a solidão, a sensibilidade e a verdadeira amizade com efeitos sutilmente avassaladores. Das nuances de câmera ao espetacular uso da trilha sonora, a direção do espanhol é possivelmente a mais inspirada de toda a sua carreira.

Antes Só do que Mal Casado (Peter Farrelly e Bobby Farrelly, 2007) 6/10

Com: Ben Stiller, Michelle Monaghan, Malin Akerman, Jerry Stiller, Carlos Mencia

A combinação de humor grotesco com algum tipo de mensagem parece ser algo do qual os irmãos Farrelly não conseguem se desvencilhar desde que fizeram O Amor é Cego. Por um momento Antes Só do que Mal Casado parece querer voltar à irreverência do início da carreira dos caras, mas tem algo que não clica dentro da história do solteirão que (1) decide se casar por pressão do pai e do melhor amigo, (2) descobre que a bela esposa é insuportável já na lua-de-mel e (3) apaixona-se por uma turista durante essa mesma lua-de-mel. Talvez o que pese mesmo seja a naturalidade com que o personagem de Ben Stiller embarca em sua tardia auto-descoberta, o que lhe confere um leve ranço de antipatia. Traços de caráter dos personagens à parte, há momentos e tiradas que beiram o hilariante. São estes lampejos que conseguem nos lembrar porque os Farrelly ainda podem ser considerados dignos de alguma nota dentro da atual comédia americana.

Os Donos da Noite (James Gray, 2007) 7/10

Com: Joaquin Phoenix, Mark Wahlberg, Robert Duvall, Eva Mendes, Alex Veadov

Os Donos da Noite não é bem o que o seu pôster estiloso evoca. Denso, violento e fatalista, o filme lida com a máfia do tráfico de drogas enquanto desenvolve um conflito em família que muitos já chegaram a comparar a O Poderoso Chefão – ou até mesmo a Tropa de Elite, por mais incrível que pareça. A história começa com o gerente de um clube popular (Phoenix) cujas atividades acabam indo contra os objetivos do seu irmão (Wahlberg), um policial à caça de um traficante russo que não sai de dentro do clube. Gravitam em torno dos dois seu pai (Duvall), condecorado chefão da polícia, e a namorada boazuda do primeiro (Eva Mendes). Os choques entre os personagens jamais deixam de levar em conta os lados profissional e pessoal do conflito, num roteiro que demora um pouco para engrenar mas em última instância agrada, apesar das liberdades temporais tomadas em sua última metade. Há ótimas cenas de ação, como a seqüência da perseguição de carro sob a chuva, um primor de crueza carregado de tensão.

Quatro Irmãos (John Singleton, 2005) 9/10

Com: Mark Wahlberg, Tyrese Gibson, André Benjamin, Garrett Hedlund, Chiwetel Ejiofor

Quatro irmãos de adoção já adultos retornam a Detroit para o enterro da mãe, brutalmente assassinada durante um assalto a uma loja de conveniência. Ex-delinqüentes praticamente regenerados pela boa velhinha, eles decidem em determinado momento investigar quem foram os responsáveis pela tragédia.

Há várias coisas que ficam bem claras após uma sessão deste filme. Uma delas é que John Singleton é, sem sombra de dúvida, um ótimo diretor. Outra é que é sempre possível fazer um filme sobre "manos" sem toda essa tosqueira de música hip-hop impregnando a trilha sonora. O resultado é um longa de ação interessante, bem ambientado, bem interpretado e, acima de tudo, inteligente. Como declarado pelo próprio Singleton, a história de vingança é construída com estrutura de western, o que é muito bem verdade. Um dos melhores exemplos disso é o tiroteio na casa dos irmãos, simplesmente de tirar o fôlego.

Divagações postadas por Kollision entre 8 e 21 de Novembro de 2007