Cinema

O Iluminado

O Iluminado
Título original: The Shining
Ano: 1980
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 120 min.
Gênero: Terror
Diretor: Stanley Kubrick (A Morte Passou por Perto, Glória Feita de Sangue, Barry Lyndon)
Trilha Sonora: Wendy Carlos (Tron - Uma Odisseia Eletrônica), Rachel Elkind
Elenco: Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Barry Nelson, Philip Stone, Joe Turkel, Anne Jackson, Tony Burton, Lia Beldam, Billie Gibson, Lisa Burns, Louise Burns
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 9

Contribuição inestimável de Stanley Kubrick para o gênero do horror, O Iluminado ajudou a redefinir a forma como as histórias de fantasmas deveriam ser contadas. Uma das melhores adaptações de uma obra de Stephen King, o filme tem lá suas diferenças em relação ao livro ao retratar a tenebrosa jornada de loucura que pavimentou a aura de lunático associada às atuações de Jack Nicholson.

A história se passa num hotel encravado numa das regiões montanhosas com um dos invernos mais rigorosos dos Estados Unidos. O escritor Jack Torrance (Nicholson) aceita um emprego temporário de cinco meses como zelador do hotel, com a obrigação de manter tudo em ordem durante o período morto de inverno. Nem mesmo a menção a um episódio horrível ocorrido no local anos antes, em que o então zelador, enlouquecido pelo isolamento, assassinou a esposa e as duas filhas com um machado e suicidou-se em seguida, faz com que ele sequer pense em mudar de idéia. Aproveitando a oportunidade para escrever seu livro, Jack muda-se para o enorme hotel com a esposa (Shelley Duvall) e o filho pequeno (Danny Lloyd). Pouco a pouco, a desolação, o isolamento e a nevasca, associados a enigmáticas aparições fantasmagóricas, fazem com que Jack enverede por uma espiral de loucura e passe a ameaçar o bem-estar de sua própria família.

Mais do que qualquer nuance literária ou narrativa de vulto, toda a aura de perfeccionismo que sempre cercou a figura de Kubrick transparece na cinematografia, no design de produção e na edição atípica que ele imprimiu ao filme, sem dúvida uma das sessões essenciais de toda a história do cinema de horror. Poder-se-ia dizer que o diretor chegou a atingir aqui as raias da demência, como comprovam a sua exigência para que Shelley Duvall repetisse uma tomada carregada de tensão mais de uma centena de vezes, ou o desespero de Scatman Crothers ao representar à exaustão várias de suas cenas. A tensão sempre onipresente da película pode muito bem ter sido herdada do set, num trabalho que com certeza deve ter esgotado todos os envolvidos no elenco.

O que resulta de bom de toda essa pressão é que a mão pesada do diretor transforma-se num espetáculo cinemático único, que se dá ao luxo de colocar um imenso ponto de interrogação no desfecho da história, um conto de fantasmas em sua essência. A leve sensação de que algo está fora do lugar conduz logo a uma idéia de desconforto que se instala com o ritmo lento, com o abuso de travellings em tomadas longas, com as cores berrantes que decoram os enormes cômodos do hotel e com a cadência opressiva de uma trilha sonora perfeita. É horror feito com cuidado, classe, estilo, espetáculo que influenciou todos os filmes do gênero vindos depois dele e recusa-se a perder a força. Quase não dá para acreditar na fria recepção que a crítica da época deu ao lançamento do filme, uma realização magistral cujo único pecado talvez esteja na seqüência final algo clichê de perseguição na neve.

A continuação Doutor Sono, lançada quase 40 anos mais tarde, se concentra sobre a figura do filho de Jack, então interpretado por Ewan McGregor.

Além do trailer de cinema, o DVD tem como extras um making-of de pouco mais de meia hora feito pela filha do diretor Vivian, na época com 17 anos, incluindo seus comentários pessoais para as raras cenas capturadas durante as filmagens.

Texto postado por Kollision em 16/Janeiro/2006