Este film noir foi o segundo longa-metragem de Stanley Kubrick, precedido pelo desconhecido e ignorado (inclusive pelo próprio) Fear and Desire. Como o primeiro filme, este foi marcado pela escassez de recursos do cineasta em começo de carreira, o que o obrigou a praticamente assumir todos os aspectos técnicos da produção, como fotografia, edição e direção. Mesmo com todas as dificuldades e a quase total falta de recursos, ainda assim o filme foi terminado e distribuído mundialmente, um feito para a época.
Curto e bem fotografado em preto-e-branco pelo iniciante Kubrick, A Morte Passou por Perto tem a estrutura clássica do filme policial. O personagem principal aqui é Davey, um boxeador decadente que se vê numa grande enrascada. Percebe-se logo que ele pode vir a sair dela ileso, pois a história é contada em flashback pelo próprio. O gatilho da trama é sua vizinha, uma bela e misteriosa mulher que aos poucos fará sua vida correr risco de morte nas mãos de um gângster que a quer para si.
A história é fluida, e prende a atenção pela forma intimista como é contada, pelo ponto de vista do personagem principal. No entanto, alguns problemas aparecem na edição de algumas cenas (o diretor tinha 26 anos quando fez o filme), e uma passagem em particular acaba infelizmente ferindo a narrativa de forma muito evidente (Davey olhando as pessoas em seu apartamento pela janela do outro prédio e ouvindo toda a conversa, como se tivesse uma super-audição). Ainda assim, o mérito do filme não é diminuído. Estes detalhes pequenos não chegam a sacrificar o resultado final da obra, que é muito interessante e vale a pena ser vista.
O espectador mais atento poderá notar aspectos latentes no filme que remetem a futuras obras do mestre Kubrick. Travellings, narrativa fragmentada em capítulos e cenários singulares que, mesmo em preto-e-branco, passam a impressão de possuírem cores berrantes e marcantes.
A Cinemagia, distribuidora do DVD, incluiu no disco o trailer original do filme, fotos da produção e alguns artigos com conteúdo interessante. O porém é que a visualização desses artigos é um pouco irritante, com a tela se movendo sozinha e obrigando o espectador a fazer verdadeiros milagres de sincronização com o controle remoto.
Texto postado por Kollision em 18/Junho/2004