Cinema

Nascido para Matar

Nascido para Matar
Título original: Full Metal Jacket
Ano: 1987
País: Estados Unidos
Duração: 116 min.
Gênero: Guerra
Diretor: Stanley Kubrick (A Morte Passou por Perto, Lolita, O Iluminado)
Trilha Sonora: Vivian Kubrick (a.k.a. Abigail Mead)
Elenco: R. Lee Ermey, Matthew Modine, Vincent D'Onofrio, Adam Baldwin, Dorian Harewood, Kevyn Major Howard, Arliss Howard, Ed O'Ross, John Terry, Kieron Jecchinis, Kirk Taylor, Tim Colceri, Bruce Boa, Papillon Soo, Peter Edmund, Ngoc Le
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 7

A escala pretendida por Stanley Kubrick em Nascido para Matar não é muito clara. Muito da força do filme havia sido perdida antes mesmo dele ser lançado, devido ao enorme sucesso artístico do imediatamente anterior Platoon (Oliver Stone, 1986), que traçou um olhar decisivo sobre a guerra do Vietnã e viria a gerar inevitáveis comparações entre os dois filmes. Essencialmente, tratam-se de obras de estrutura bastante distinta entre si. As falhas do filme de Kubrick, no entanto, são mais evidentes e colaboraram para a pouca atenção que a película obteve na época de seu lançamento.

O filme consiste de dois atos. O primeiro deles é o treinamento de um pelotão de marines americanos em preparação para a luta na guerra do Vietnã. Através da econômica narração em off do soldado Joker (Matthew Modine), a tirania do sargento Hartman (R. Lee Ermey) é retratada enquanto ele conduz um treinamento autoritário e quase desumano, tratando todos os cadetes como vermes. Em especial o obeso Leonard/"Gomer Pyle" (Vincent D'Onofrio), cujo desempenho na equipe acaba por colocá-lo contra seus próprios companheiros de infantaria. O segundo ato acompanha a trajetória cada vez mais caótica de Joker no campo de Da Nang, em meio ao inferno de fogo e explosões do sudeste asiático.

O que mais fica na mente de qualquer platéia após uma sessão de Nascido para Matar é o retrato implacável do nível mais baixo da máquina militar, sob a forma da figura ameaçadora do sargento feito por R. Lee Ermey na primeira parte do filme. A segunda parte da película empalidece diante da primeira, coalhada de linhas de diálogo que, de tão ofensivas, chegam a trazer em certos momentos uma inevitável conotação humorística. O lento desenvolvimento da raiva e da revolta de Gomer Pyle contra o sistema é a melhor coisa do filme. E também a sua maior falha, já que a importância dada ao seu personagem nesta primeira parte obscurece completamente o foco no personagem de Matthew Modine e deixa o segundo ato à deriva, com um protagonista sem empatia alguma com a audiência. Por melhor que seja a jornada de Joker como um repórter do exército que é forçado a pegar em armas, sua conexão emocional demora demais para ser obtida. Para agravar a situação, Modine não possui o carisma que seu personagem exige.

Tecnicamente, a produção é muito boa. Há inúmeras histórias acerca de como R. Lee Ermey, além de ser contratado como consultor técnico da parte sobre o treinamento militar, impressionou Stanley Kubrick a ponto de conseguir o papel do sargento Hartman. O bom uso das canções da trilha sonora, empregadas neste filme com uma freqüência maior que em qualquer outra obra anterior do diretor, complementa bem o trabalho como compositora de sua filha Vivian, creditada sob o pseudônimo Abigail Mead.

A seção de extras do DVD contém somente o trailer do filme, infelizmente.

Texto postado por Kollision em 9/Janeiro/2006