Se aquela sala 8 do recém-inaugurado complexo de cinemas do Shopping 3 Américas for realmente uma sala Vip, a comunidade cinéfila (será que existe alguma?) da cidade de Cuiabá está a um passo da perdição absoluta.
Lembro-me até hoje de quando assisti à última sessão de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (Michel Gondry, 2004), que foi exibido numa das salas antigas deste mesmo shopping (acho que foi a sala 7). Enquanto esperava para entrar, tive uma conversa com a moça que coletava os ingressos, a maior parte dela sobre a qualidade deficiente do cinema e como isso estava espantando os freqüentadores. A garota fez a maior propaganda sobre as novas salas que seriam construídas na ampliação do shopping, que haveria então uma sala Vip, que as poltronas seriam consideravelmente melhoradas, e blá-blá-blá.
O tempo passou. E praticamente toda, ou quase toda, a ampliação do shopping foi destinada às 8 novas salas, sendo que a oitava era a tal "sala Vip", aquela na qual ontem (23-JAN) eu havia decidido conferir uma sessão de A Passagem (Marc Forster, 2005) às 19h40.
Sim, as poltronas são confortáveis. Elas vêm separadas de duas em duas, são mais espaçosas, e têm cada uma dois locais para se colocar refrigerantes, devidamente suportados por uma mesinha lateral de acabamento regular. A sala em si não é grande, a tela é de tamanho mediano, mas o espaço entre as fileiras de poltronas é enorme. Sim, eu poderia dizer que o espectador ficaria com certeza confortável lá dentro.
A projeção começa. Vem então mais uma vez o trailer de Munique (Steven Spielberg, 2005), o qual estava vendo pela terceira vez, acho. Segue-se o trailer de As Loucuras de Dick & Jane (Dean Parisot, 2005), e começo a notar algo estranho. A tela está levemente fora de foco, o que é extremamente irritante em cenas filmadas com lentes médias. Exatamente o MESMO problema que as antigas salas 5, 6 e 7 tinham! Aí já comecei a pensar que os administradores desta nova era provavelmente nem se deram ao luxo de trocar o projetor de outrora. Ora bolas, talvez nem seja culpa do projetor, mas da incompetência humana mesmo... Fiquemos com esta última hipótese então. Sim, deve ser o mesmo incompetente que cuidava das projeções de antes.
O problema mais grave, no entanto, estava por vir. Não sou nenhum expert nos aspectos técnicos de manipulação de projetores, mas não sou tão burro a ponto de não perceber que aproximadamente 15% do enquadramento estava faltando na parte superior do telão. Eu já estava me revirando de desgosto de tanto ver Jim Carrey e Téa Leoni somente da testa para baixo no trailer e, quando começou de fato o filme principal, tive certeza absoluta de que algo estava errado.
Foi com muita dor no coração que abandonei a sala, procurei o encarregado e relatei o problema. Depois de uns 20 segundos olhando a projeção comigo, o cara remoeu algumas sentenças com o projetista projecionista pelo rádio e teve a capacidade de dizer que "esse é o formato normal do filme, senhor".
Formato o escambau, isso sim. Muito a contragosto, tive que pegar meu dinheiro de volta e perder a sessão, pois o filme não está sendo exibido nas salas do cinema concorrente, o Multiplex Pantanal. Que, por sinal, jamais me decepcionou desde que abriu as portas, há mais ou menos um ano.
Fica registrada uma dica então, pessoal:
Corram da sala 8, a tal "sala Vip" do novo Cinemais do Shopping 3 Américas.
A probabilidade de vocês passarem raiva é muito grande.
Últimos filmes vistos:
Tudo em Família (2005) - Visto no cinema em 15-JAN, Domingo, sala Cinemais 1 do Shopping 3 Américas
Filme de reunião familiar estereotipado, mas simpático o bastante para garantir a sessão.
Soldado Anônimo (2005) - Visto no cinema em 17-JAN, Terça-feira, sala Cinemais 3 do Shopping 3 Américas
Belo retrato de uma guerra recente, com uma história que não prima pela pirotecnia. É aí que talvez resida seu diferencial.
Baratas Assassinas (1998) - Visto em DVD em 18-JAN, Quarta-feira
Inominável besteira que tem George Takei e Randy Quaid pagando mico em vergonhosa decadência.
Um Dia de Fúria (1993) - Revisto em DVD em 21-JAN, Sábado
Um dos melhores filmes de Joel Schumacher, senão o melhor. Tenso e divertido, com uma crítica óbvia porém cinicamente incisiva.
Texto postado por Kollision em 24/Janeiro/2006