Uma série de escolhas sensatas teria que ser feita pelos realizadores deste filme, a fim de preencher suas desejadas duas horas de duração e apresentar algo além de uma premissa simples: dois assassinos casados que não sabem da vida secreta um do outro, descobrindo a verdade após cinco anos (ou seriam seis?) de convivência. Com o versátil Doug Liman na direção (o responsável pelos razoáveis Vamos Nessa e A Identidade Bourne), o projeto ganhou vida após uma incontável série de sensatas revisões do roteiro. E o resultado é de uma eficiência que surpreende em praticamente todos os detalhes.
Ambos atrativos indiscutíveis a ambos os sexos, Angelina Jolie (Sra. Smith) e Brad Pitt (Sr. Smith) protagonizam uma montanha-russa de desconfiança, humor, tiros e pirotecnia na história dos dois agentes que se casam sem saber da vida secreta um do outro. Atravessando um período tedioso no casamento, os dois passam por terapia e só tarde demais percebem que foram ambos enviados para executar a missão de eliminar um prisioneiro em trânsito (Adam Brody). O choque de técnicas logo descamba para um silencioso jogo de gato e rato, já que cada um recebe 48 horas para eliminar o desafeto da agência concorrente.
O filme deixa claro logo no início que qualquer aspecto de verossimilhança deve ser abandonado para que a diversão aconteça. Excelentes naquilo que fazem, cada um dos pombinhos tem um mini-arsenal em casa (ela no micro-ondas, ele numa casamata). Ela pensa que ele trabalha numa empreiteira, ele acredita que ela é expert em computadores. Contrariando o equívoco que o trailer de divulgação dá a entender, o reconhecimento mútuo de que ambos estão diante de seu alvo não é instantâneo, tomando um bem-vindo e engraçadíssimo tempo de reconhecimento. O humor, inclusive, é algo cujo tom Liman conseguiu acertar em cheio. Toda a seqüência de perseguição e tiros ao som de Making Love (Out of Nothing at All), do Air Supply, é um dos melhores exemplos disso.
Não há julgamentos morais sobre qualquer um dos personagens da história. Se os Smith são simples assassinos profissionais ou agentes secretos a serviço de uma CIA da vida, não dá para ter certeza (se bem que a primeira opção é a mais provável). O charme do duo central consegue desviar a atenção da platéia sobre o assunto com facilidade, sustentando um misto de comédia romântica, trama à la James Bond e ação desenfreada da mais pura estirpe hollywoodiana. Algumas das melhores seqüências remetem imediatamente a sucessos como A Outra Face e Matrix Reloaded, sem dever nada aos filmes citados em matéria de adrenalina.
O roteiro é absurdo, mas a química entre Jolie e Pitt compensa quase todas as falhas. Uma delas é uma certa ambigüidade sobre o objetivo da missão que coloca os dois frente a frente. O final completamente fora da realidade é outro ponto baixo a se considerar, mas é claro que, em filmes de ação como este, o desfecho não poderia ser diferente. O ritmo do filme é tão bom e as performances tão adequadas, que a garantia de diversão é certa. Cinema-pipoca da melhor qualidade.
Texto postado por Kollision em 21/Junho/2005