Cinema

Vôo United 93

Vôo United 93
Título original: United 93
Ano: 2006
País: Estados Unidos, França, Inglaterra
Duração: 111 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Paul Greengrass (Domingo Sangrento, A Supremacia Bourne, O Ultimato Bourne)
Trilha Sonora: John Powell (X-Men - O Confronto Final, Happy Feet - O Pinguim, P.S. Eu Te Amo)
Elenco: Christian Clemenson, Trish Gates, David Alan Basche, Cheyenne Jackson, Opal Alladin, Starla Benford, J.J. Johnson, Nancy McDoniel, Polly Adams, Richard Bekins, Susan Blommaert, Ray Charleson, Khalid Abdalla, Lewis Alsamari, Omar Berdouni, Jamie Harding, Ben Sliney, Tobin Miller, Rich Sullivan, Tony Smith, James Fox, Shawna Fox, Jeremy Powell, Curt Applegate
Avaliação: 9

Em vista dos recentes eventos que marcaram a história da aviação brasileira (o desastre do vôo 1907 da Gol, e principalmente o caos no sistema aéreo provocado pela crise dos controladores de vôo), este filme assume um aspecto ainda mais interessante para quem o tenha assistido recentemente. A representação do que pode ter acontecido no dia dos atentados ao World Trade Center dentro do vôo 93 da United Airlines pode ser chamada de muitas coisas: de homenagem àqueles que perderam as vidas numa situação de terror extremo, de apologia precoce e doentia a uma ferida ainda não cicatrizada, de caça-níqueis exploratório calcado num desastre cujas conseqüências por incrível que pareça ainda são discutidas de forma meio velada...

Independente do que digam, e eu acredito em parte na primeira das opções que acabo de escrever, é preciso dizer que o diretor Paul Greengrass aplica à tragédia de 11 de setembro de 2001 uma visão que sob qualquer ponto de vista é perturbadora, que ao tentar aproximar a ficção da realidade o máximo possível oferece uma janela de inestimável importância para muitas facetas da tragédia, das piores conseqüências de diferenças culturais alimentadas negativamente, do impacto mais hediondo que o fanatismo religioso é capaz de gerar e, surpreendente o bastante para quem tem acompanhado os recentes reveses da aviação brasileira, da estressante realidade dos profissionais responsáveis pelo controle do tráfego aéreo no mundo.

Com exceção de um dos passageiros do qual não consigo me lembrar o nome, praticamente todo o elenco do filme é composto de rostos desconhecidos. E praticamente todas as pessoas que representam o drama no solo, nas várias salas de controle aéreo retratadas pelo filme, são profissionais de verdade, que estiveram presentes naquele fatídico dia e se ofereceram de bom grado para participar do projeto. O grau de aprovação dos envolvidos vai mais além, já que os parentes dos passageiros mortos no vôo forneceram de livre e espontânea vontade informações valiosas para a construção do roteiro e para a caracterização correta das pessoas retratadas no filme como personagens de um drama real. O grau de autenticidade das interpretações obtidas pelo diretor é considerável, sendo um dos principais motivos da tensão absurda que o longa emana do início ao fim.

A tensão alcança um ápice entre o momento em que os controladores de vôo, estupefatos, se dão conta de que algo muito errado, talvez o início de uma guerra internacional, possa estar em andamento com a queda do segundo avião na torre remanescente do World Trade Center. E os terroristas, dominados pelo medo e pela apreensão, decidem levar adiante seu plano santo de pilotar o avião seqüestrado e jogá-lo sobre Washington. O mais interessante, sobretudo, é notar que a tensão é maior quando a violência ainda não tomou conta da tela. Por algum motivo mais profundo do que a mera apreciação de um filme possa indicar (algo enraizado em nossa cultura, que muitas vezes tende a glorificar a violência de forma errônea), parece que o nervosismo tende a diminuir após o momento em que os terroristas se revelam e iniciam seu plano. Como em muitas outras ocasiões, a antecipação é mais terrível que a consumação do fato.

Depois de algum tempo acompanhando o desespero crescente das pessoas em terra, que não sabem quais vôos da United, American ou Delta foram realmente comprometidos, o entendimento do que está acontecendo torna-se quase impossível, refletindo o estado de confusão que paralisou os céus dos Estados Unidos naquele dia. Então o filme passa a se concentrar na aflição dos passageiros, em suas terríveis despedidas ao telefone e em como eles decidem reaver o controle da aeronave, enfrentando quatro terroristas desarmados e tão desesperados quanto eles.

Há quem discorde do que é mostrado no filme. Porém, mais cedo ou mais tarde o cinema iria exorcizar as chagas de um dos piores capítulos da recente história do mundo. Sob um ponto de vista estritamente técnico, Vôo United 93, além de representar um retrato extremamente válido da tragédia, termina sendo um terreno bastante apropriado ao estilo documental e aos maneirismos de câmera do diretor Paul Greengrass.

Visto no cinema em 3-NOV, Sexta-feira, sala Cinemais 3 do Shopping 3 Américas - Texto postado por Kollision em 8-NOV-2006