Numa trajetória de sucesso talvez única para um artista brasileiro na área cinematográfica de animação, o carioca Carlos Saldanha entra definitivamente para o seleto rol de grandes nomes atualmente associados a esta indústria ao assumir a direção deste filme, continuação de uma das grandes surpresas de 2002. Apadrinhado de Chris Wedge, o principal nome por trás do primeiro episódio, Saldanha continua o bom trabalho desenvolvido por ambos em A Era do Gelo e consegue até mesmo ir além em alguns quesitos, entregando mais uma pequena pérola do entretenimento animado.
O estranho grupo formado pelo mamute Manfred (voz de Ray Romano), pelo tigre dentes-de-sabre Diego (voz de Denis Leary) e pelo bicho-preguiça Sid (voz de John Leguizamo) continua unido e se vê às voltas com uma ameaça de proporções bíblicas: o fim da gelada era glacial, marcado pelo derretimento das montanhas e pela ameaça de inundação do precioso vale que eles chamam de lar. Seguindo o imenso fluxo de animais que rumam para uma espécie de arca de Noé pré-histórica, os três encontram pelo caminho a mamute Ellie (voz de Queen Latifah), que dá a Manfred a esperança de que ele não seja, de fato, o último de sua espécie na face da Terra. O problema é que ela pensa que é um gambá, graças à influência dos seus dois minúsculos companheiros fedorentos, Crash e Eddie (vozes de Seann William Scott e Josh Peck). Correndo por fora novamente aparece o esquilo roedor Scrat, mais do que nunca obcecado por sua castanha.
Ganhando levemente em dinamismo em relação ao primeiro filme, A Era do Gelo 2 cumpre a tarefa básica de ser tão ou mais engraçado que antes, sem no entanto bater novamente na mesma tecla. Desta vez não há nenhum vestígio de qualquer tribo humana em meio à variada fauna que povoa a história, e as adições ao grupo ganham a simpatia da platéia graças a duas coisas: a anarquia dos gambás e o súbito interesse amoroso do ranzinza Manfred. A dupla de fedorentos que gosta de se fingir de morta é uma metralhadora anárquica que parece saída de algum desenho mais desvairado do Pernalonga, depois de um curso completo de pentelhação com o próprio. A influência das animações de Chuck Jones é visível e inegável também na trajetória de Scrat, que nada mais é que uma reencarnação mais estúpida do Coiote, que deixa de perseguir um Papa-Léguas para levar baile de uma mera castanha. O bichinho é, sem dúvida, uma das melhores criações do moderno cinema de animação de entretenimento, sendo seu papel ativo no conflito do filme uma espécie de inversão daquele que ele desempenhou na primeira aventura.
Todos no grupo de desajustados pré-históricos têm seu grande desafio para superar. O mamute Manfred, por motivos óbvios, é transformado no grande herói da história, enquanto Diego precisa lidar com seu medo crônico de água. Como Sid fica sem ter muito o que fazer além de servir de alívio cômico constante, fizeram com que ele fosse confundido por um bando de preguiças com o "deus do fogo", o que até rende ótimos momentos. O número de referências a outros filmes e números musicais é maior que antes, assim como a carga de ação e suspense. O sinistro sumiço do jabuti logo no começo e a carapuça de tarado que cai sobre Manfred quando ele tenta abordar Ellie fogem um pouco da esfera infantil, mas isso é coisa com a qual a criançada nem se importa.
Com tudo de bom que os dois filmes da série trouxeram em matéria de diversão, a expectativa sempre permanece para que haja talvez um terceiro filme com os personagens, mesmo que a tal era do gelo tenha um inexorável fim no desfecho desta segunda parte.
A série continua em A Era do Gelo 3.
Texto postado por Kollision em 25/Abril/2006