Extraordinária recuperação da divisão de animação da Fox, cujo último trabalho tinha sido o desastre de público e crítica Titan A.E. (Don Bluth e Gary Goldman, 2000), A Era do Gelo foi o primeiro longa-metragem concebido pela produtora Blue Sky Films, que já há algum tempo vinha desenvolvendo curtas-metragens e material animado para longas. Chris Wedge, o diretor, já havia ganho o Oscar de melhor curta na categoria com Bunny, em 1998. Co-dirigindo está o animador brasileiro Carlos Saldanha, talvez o nome brazuca mais proeminente nesta categoria no exterior. O filme foi um arrasador sucesso na época de seu lançamento, graças a uma combinação certeira de bons personagens, humor, suspense e drama, que agradaram tanto ao seu público-alvo, as crianças, quanto aos adultos em geral.
Scrat, uma mistura de esquilo com rato pré-histórico, é uma criaturazinha curiosa obcecada por nozes. Sua obsessão é o que acaba desencadeando uma nova era glacial há 20.000 anos atrás, resultando num fenômeno que provoca a migração em massa de todos os animais em direção ao sul. Indo contra a corrente da migração está um estranho grupo formado pelo tagarela bicho-preguiça Sid (voz de John Leguizamo), o mamute ranzinza Manfred (voz de Ray Romano) e o traiçoeiro tigre dentes-de-sabre Diego (voz de Denis Leary). Eles acabam encontrando no meio do caminho um bebê humano desgarrado e decidem, relutantemente, levá-lo de volta à sua tribo, sem saber que Diego é o responsável pela situação do bebê e deseja, secretamente, levar ele e os companheiros para uma terrível emboscada preparada pelos tigres dentes-de-sabre.
Sim, é claro que a cada vez em que Scrat aparece para fazer das suas, o fator comédia atinge picos dignos dos melhores momentos dos desenhos de Chuck Jones e da turma do Pernalonga. Porém, mesmo com a absoluta preferência de todo mundo por Scrat e sua síndrome de TOC, não há porque não se divertir com as estripulias dos três companheiros de migração glacial. Os personagens são muito bem caracterizados e funcionam: o destaque vai para a patetice verborrágica de John Leguizamo como Sid, numa performance bastante próxima à metralhadora cômica que Eddie Murphy popularizou, principalmente quando este entrou na pele do burro de Shrek (Andrew Adamson e Vicky Jenson, 2001).
Muito da apreciação das platéias em relação aos desenhos animados vem do humor nonsense aliado a uma sutileza leve, que geralmente encanta pelos detalhes, coisa em que A Era do Gelo chega muito perto da perfeição. Wedge e cia arranjam até espaço para gracinhas, como a saudação vulcana que o bebê faz ao passar por uma espaçonave congelada numa caverna gelada. É óbvio que, sendo este um trabalho infantil, o lado dramático do confronto entre os humanos (que não falam) e o bando de tigres dentes-de-sabre, por exemplo, não tem nada de muito violento. A história tem lá a sua carga de mensagem enaltecedora, que aqui embala um conto sobre a amizade verdadeira de forma bastante agradável, e o que é melhor, sem forçar demais a barra no sentimentalismo barato. A trilha sonora de David Newman capricha nas seqüências de ação mas, se há um departamento no qual o filme poderia ter sido mais ousado, ele está no uso de canções, que praticamente inexistem, com exceção de uma bem bacana inserida no meio da história.
A série continua em A Era do Gelo 2.
A edição simples do DVD lançado pela Fox vem com uma faixa de comentários de Chris Wedge e Carlos Saldanha, um making-of de 20 minutos acompanhado de 6 featurettes curtinhos sobre os aspectos técnicos da produção, 6 cenas excluídas (acompanhadas de comentário), o curta Gone Nutty (dirigido por Saldanha, estrelado por Scrat e produzido exclusivamente para o lançamento do DVD), o premiado curta Bunny (dirigido e introduzido no DVD por Chris Wedge), três apresentações de Scrat para o logo da Fox, um extrato curto do filme com dublagens em diferentes línguas, uma galeria de arte com perfis dos personagens pré-históricos, apresentações multi-ângulo de três cenas do filme e três trailers da produção.
Texto postado por Kollision em 11/Abril/2006