Que Tom Cruise já era há muito tempo um dos nomes mais poderosos em Hollywood antes de Colateral ninguém duvida. De promessa em filmes adolescentes (Negócio Arriscado) a astro de filmes de ação (Dias de Trovão, Missão Impossível), passando por filmes sérios e indicações ao Oscar (Nascido em 4 de Julho, Magnólia), ele já flertou com muitos estilos diferentes de interpretação. Mesmo seus detratores têm que dar o braço a torcer quanto ao seu desejo de assumir papéis difíceis e distintos. Porém, o mais próximo que ele havia chegado de fazer um vilão foi em Entrevista com o Vampiro, no papel de Lestat, que nem era tanto assim um personagem mau, dentro do contexto das histórias da escritora Anne Rice.
Desta forma, Colateral marca o primeiro papel em sua carreira onde ele é essencialmente maligno e provido de quase nenhum traço de virtude. Aqui ele é Vincent, um assassino frio, calculista e extremamente eficiente, que arrasta um incauto taxista (Jamie Foxx) para seu mundo de matança numa noite qualquer em Los Angeles. O taxista, orgulhoso de ser bom naquilo que faz, se vê de repente forçado a levar seu passageiro a diferentes lugares da cidade para que Vincent possa fazer seus serviços. O assassino entra não só em seu carro, mas também em sua vida, colocando-a em risco e criando um conflito que os levará a um inevitável confronto.
Com seus diferentes estilos de fotografia noturna e uma sensação sempre presente de caos urbano, este filme lembra em muitos aspectos Depois de Horas, de Martin Scorsese. A aventura ocorre toda durante uma única noite, e seu personagem principal envolve-se em situações completamente fora de sua esfera rotineira. Difícil é desconectar a imagem de bom moço associada à figura de Cruise, mas a tarefa torna-se um pouco mais fácil ao vê-lo em ação naquilo em que Vincent faz melhor. Cruise não faz feio, mas quem se sobressai em cena é mesmo Jamie Foxx.
O bom clima obtido pelo diretor Michael Mann e a trilha acertada de James Newton Howard fazem de Colateral um filme eficiente, com boa dose de suspense. Fica claro, porém, que o roteiro trata os personagens coadjuvantes com um certo desprezo, principalmente as forças da lei, que passam praticamente todo o filme às escuras. Há apenas um mínimo de informação sobre as vítimas de Vincent e sua ligação, sem rodeios e sem aprofundamento maior sobre mandantes, alvos, envolvimentos "colaterais" ou coisas do tipo. Daí decorre que a motivação de Vincent, sempre obscura, pode passar a impressão do matador profissional desprovido de consciência. As sutilezas da relação entre taxista e matador, contudo, denotam que as experiências de um acabam afetando a realidade e o julgamento do outro, de tal forma que a previsibilidade de seus comportamentos vai se esvaindo aos poucos, até um final tão explosivo quanto melancólico.
O primeiro disco do DVD duplo vem com uma faixa de comentários em áudio legendada de Michael Mann. No segundo DVD há um making-of de pouco mais de 40 minutos, uma cena excluída comentada pelo diretor e quatro especiais de no máximo cinco minutos: o teste em que Mann fez Tom Cruise se passar por entregador da FedEx, as locações do escritório de Jada Pinkett-Smith, os ensaios de Tom Cruise e Jamie Foxx e os efeitos especiais da seqüência no metrô.
Texto postado por Kollision em 29-AGO-2004
Filme revisto em DVD em 18-FEV-2007, Domingo - Texto revisado em 22-FEV-2007