Na época em que o seriado Miami Vice era veiculado, acredito que era no SBT, eu nem sequer passava perto de dar-lhe uma chance. Tinha coisa muito melhor passando no canal, como Chaves e Chapolin Colorado. Ou as séries da saudosa Sessão Aventura nos finais de tarde da Rede Globo. As propagandas não chamavam a atenção o suficiente e, para mim, o que muitos hoje falam da série eu já achava na época: o negócio tinha cara, e jeito, de ser bem brega.
Mente por trás do programa televisivo e mais tarde um cineasta de raro sucesso tanto junto ao público quanto junto à crítica especializada, o diretor Michael Mann teve a pachorra (que muita gente achava que ele não teria) de retornar ao universo do seriado e render-lhe uma versão para o cinema. Obviamente, com a devida atualização temporal e tudo o que a atual tecnologia de filmagem digital tem a oferecer. Basta dizer que o estilo do longa dá continuidade ao que ele já mostrara em Colateral (2004).
Trata-se de um bom filme. Violento na medida certa para uma investigação barra-pesada, carregado de tensão em várias passagens e com uma boa simbiose entre a dupla central de astros. Porém (sempre há um porém para os insatisfeitos, não é mesmo?), a impressão geral é que o resultado poderia ter sido melhor. As razões para tal estão estritamente relacionadas à caracterização de personagens e a certas decisões do roteiro, já que, no âmbito técnico, o filme é um show de cinematografia e movimentações de câmera, no estilo já consagrado por Michael Mann em trabalhos anteriores.
Enquanto história policial, a ambientação não poderia ser melhor, e mesmo o trabalho de equipe entre Sonny (Colin Farrell) e Tubbs (Jamie Foxx) e seus times de investigadores é surpreendentemente bem caracterizado. O atravancamento fica por conta da seriedade exacerbada com que tudo é conduzido. Parece que os caras estão à beira do colapso nervoso, o que só ganha reflexo nas atitudes de Tubbs mais adiante no filme, quando ele se ressente da vida policial após uma ação devastadora conduzida pelos bandidos. O Sonny de Colin Farrell é que destoa do ideal, principalmente porque seu romance com a chinesa Gong Li, namorada do chefão dos traficantes, começa de forma completamente fria e não tem força suficiente para sustentar o desfecho da história dos dois. A frieza e a panca séria do cara afundam a simpatia por seu personagem, o que não ocorre com Jamie Foxx, que protagoniza o único momento de alívio cômico na cena em que faz amor com a namorada. Ironicamente, é a única cena de todo o filme em que parece que ele está prestes a atingir todo o seu potencial.
É claro que a história não precisava descambar para a linha de um Máquina Mortífera, por exemplo. Mas um pouco de descontração não teria feito mal algum ao longa, que também peca por ser um pouco confuso em todo o trecho da reviravolta que coloca mocinhos e bandidos na reta final do conflito armado.
Visto no cinema em 27-AGO, Domingo, sala 2 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 1-SET-2006