O desfecho da saga do meio humano, meio vampiro Blade chega ao seu terceiro e, de acordo com declaração do astro Wesley Snipes, derradeiro capítulo. Segunda continuação de uma aposta arriscada que deu muito certo, Blade Trinity tem na cadeira de diretor o escritor dos dois primeiros filmes, o incensado David S. Goyer. Goyer, conhecido pela boa mão para escrever histórias fantásticas, assumiu a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho (porco) de Guillermo Del Toro e (razoável) de Stephen Norrington antes dele.
Na mais pura estética MTV, o filme começa com uma violenta perseguição de Blade a mais uma corja de vampiros idiotas. Porém, algo sai errado, pois o herói é levado a matar um humano diante de uma platéia e inúmeras câmeras, o que acaba tornando-o o inimigo público número um e prioridade na lista das autoridades. Bem que ele e Whistler (Kris Kristofferson) tentam resistir ao ataque maciço do FBI em sua nova base, mas Blade acaba sendo capturado. Prestes a ser executado, ele é salvo por um estranho chamado Hannibal King (Ryan Reynolds) e pela bela Abigail (Jessica Biel), filha de Whistler. Blade junta-se aos dois Nightstalkers para formar uma equipe (a trindade Blade do título), cujo propósito principal é descobrir por que a vampirona Danica Talos (Parker Posey) tentou e conseguiu encontrar o corpo do verdadeiro Drácula (Dominic Purcell). Sim, ele mesmo, o primeiro dos vampiros e, teoricamente, o mais poderoso deles, nos novos tempos rebatizado de Drake.
Há uma sensação de alívio ao perceber-se que os vampiros voltaram a ter mandíbulas normais, e não aparelhos bucais herdados do Predador de Arnold Schwarzenegger. Com letreiros de abertura a cargo da Imaginary Forces, a mesma equipe que produziu verdadeiros shows nos momentos iniciais de filmes como Esfera, Seven e Homem-Aranha, a abertura acachapante é logo seguida por um vislumbre de como os humanos vêem e interpretam o mundo de Blade. Uma excelente idéia, que poderia ter sido melhor explorada principalmente na figura do agente feito por James Remar, mas é infelizmente jogada pelo ralo quando o herói é resgatado. Daí em diante, o filme é cartunesco como o esforço pueril de Guillermo Del Toro na seqüência anterior. Não chega a ser tão ruim quanto, mas certos aspectos dão coceira de irritação.
Como se não bastassem os diálogos bobos e nem sempre engraçados do personagem de Reynolds (que inclusive aparece bastante nas HQs) e a contradição indecente do próprio Blade na cena em que uma amiga humana é encontrada assassinada em sua base, alguém teve a idéia fora dos eixos de transformar Drácula num bad boy bombado que, em sua forma de vampiro, parece um refugo dos monstros de borracha que pululam em seriados televisivos da estirpe de Buffy e Charmed! Pelo menos Parker Posey está bem (e até mesmo sexy) como a maléfica Danica Talos, aparentemente o único ser pensante num bando de dentuços mequetrefes que inclui até mesmo alguns cachorros vampiros!
O suspense é praticamente inexistente, sendo mais uma vez suplantado pela ação desenfreada. Uma decepção em se tratando de um talento promissor como Goyer, que escreveu uma das ficções científicas mais legais do cinema recente (Cidade das Sombras). A impressão que fica é que ele tentou espremer o 'sumo' dos colegas Norrington (as transições aceleradas) e Del Toro (o gore), fechando a trilogia com algo de impacto. Infelizmente, assim como o desfecho do filme, o resultado final não convence. Ainda está para ser filmada uma história que expanda o conceito do primeiro Blade de forma competente: a idéia de um filme de terror, com sustos e suspense genuínos, mesclado a boas seqüências de ação. Talvez algum dia Wesley Snipes retorne para ensinar seu futuro pupilo.
Texto postado por Kollision em 10/Janeiro/2005