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Média cinéfila anormal em Julho de 2020

Fazia alguns anos que não havia por aqui um mês tão rico em matéria de filmes assistidos. Foram 32 em Julho, ou seja, uma média de mais de um filme por dia.

Como isso aconteceu, afinal?

Vários fatores podem ser elencados, mas o principal deles é que Maria Izabel entrou numa rotina de dormir entre as 8 e 9 horas todas as noites, o que sempre deixa que papai e mamãe possam passar um tempo juntos no final do dia. Há também o fato do seriado que adotamos estar num hiato porque a Netflix ainda não liberou a última temporada dele (How to Get Away with Murder).

Tubi TV

Além disso, sempre que sobra um tempinho mais tarde depois de um pouco de jogatina, tenho assistido a alguns filmes no Tubi TV, plataforma de streaming gringa e grátis que conta com uma porrada de filmes alternativos e muito deles com legendas em inglês. Tem coisa muito boa ali (e muita porcaria também), e por mais que o serviço diga que há propagandas foi muito raro para mim ter que assistir a alguma delas. Pode ser porque eu assista pouco, mas fica aí a dica do serviço se você tem condições de assistir filmes em inglês. Existe uma demanda de muitos para que o Tubi TV coloque legendas em português, mas acho que isso ainda vai demorar para acontecer.

Como exemplo, segue abaixo a lista dos filmes que consegui ver no Tubi TV em Julho, com as críticas rasteiras de sempre. Todos eles têm legendas em inglês.

Quadrilha de Sádicos (Wes Craven, 1977) 7/10

Com: Suze Lanier-Bramlett, Robert Houston, Martin Speer, Dee Wallace, Russ Grieve

Depois de se aventurar num segundo trabalho assumidamente pornográfico, Wes Craven retorna à normalidade em Quadrilha de Sádicos, seu terceiro trabalho como diretor e hoje considerado um clássico cult. Refilmado em 2006 como Viagem Maldita (com produção do próprio), o longa foi concebido pelo cineasta como uma crítica mordaz à sociedade norteamericana, mas é lembrado por quase todos por motivos mais óbvios e mundanos. Quando o patriarca teimoso de uma família os conduz a uma área deserta e inabitada, o trailer que os leva sofre um acidente e eles ficam presos ali durante a noite. Enquanto ele e o genro saem para procurar ajuda, uma família de canibais que vive nas montanhas próximas os ataca com ferocidade animalesca. O que se segue é uma noite de violência e morte que leva todos ao limite. Ainda que suplantado em matéria de tensão e brutalidade pela refilmagem, Quadrilha de Sádicos garante seu lugar no panteão do cinema marginal por vários motivos. Foi aqui que Dee Wallace começou a se tornar uma "rainha do grito" na época, por exemplo. O carecão sinistro Michael Berryman, que encarna o marginal Pluto, encontrou o nicho perfeito para se converter num ícone do cinema de horror por anos a fio. Já a atriz Janus Blythe, que faz a única mulher entre os desajustados, é visivelmente muito bonita para ter passado a vida sob condições desumanas em pleno deserto. Embora o trabalho de caracterização dos canibais deixe um pouco a desejar, no geral o elenco é um dos fatores determinantes para o sucesso do filme.

Dolemite (D'Urville Martin, 1975) 4/10

Com: Rudy Ray Moore, Lady Reed, D'Urville Martin, Jerry Jones, Hy Pyke

Pequeno clássico cult e ponto crucial no sucesso dos longas da vertente do blaxpoitation, Dolemite é o primeiro de uma série de filmes que retratam as peripécias do personagem-título. O cafetão cheio de ginga (Rudy Ray Mooore) começa a história preso, tendo sido injustamente incriminado por policiais corruptos. Graças à insistência de uma ex-associada (Lady Reed), Dolemite volta às ruas com o aval do delegado para que juntos eles possam desmascarar os policiais corruptos e os marginais que infestaram a cidade desde que ele foi preso. Ao mesmo tempo, o cafetão planeja a retomada de sua antiga boate de um desafeto (o próprio diretor D'Urville Martin) enquanto suas garotas treinam kung-fu para um eventual combate final contra os marginais. Dolemite foi o primeiro trabalho de Rudy Ray Moore como ator, e apesar de fora de forma e de já estar se aproximando dos cinquenta anos o cara foi alçado à fama instantânea. O que mais chama a atenção no filme é seu timing cômico para contar piadas em rimas, a maioria delas carregadas de palavrões e conotações sexuais. Tirando isso, o longa tem alguns coadjuvantes marcantes mas no geral é bem mediano, sofrendo com atuações ruins, roteiro e direção preguiçosos e edição deficiente.

Prazer a Três (William Tyler Smith, 2006) 6/10

Com: Jeremy London, Katheryn Winnick, Mirelly Taylor, Elisa Donovan, Siri Baruc

O drama intimista de Prazer a Três apresenta um jovem e feliz casal que decide trazer para dentro do relacionamento uma terceira pessoa, mas o que inicialmente se mostra algo prazeroso logo evolui para uma situação nada agradável. As circunstâncias e amizades ao redor de um jovem professor universitário (Jeremy London) fazem com que ele proponha à bela esposa (Katheryn Winnick) que eles enveredem pela experiência. A pessoa que eles escolhem, porém, é uma das alunas do marido, uma estudante espanhola (Mirelly Taylor) que também se sente atraída por ele. A construção dos personagens centrais do filme depende bastante de algumas coisas que soam estranhas depois de algum tempo, como o fato do casal dividir um apartamento com uma amiga lésbica (Elisa Donovan) que mostra grande influência sobre um deles. A austeridade de alguns diálogos ajuda a construir o drama, cujos valores humildes são disfarçados pela boa atuação do elenco principal. Só faltou mesmo a ousadia visual que um tema como esse desperta, uma vez que o filme não envereda por nenhum momento em cenas tórridas que evoquem qualquer espécie de erotismo. Muito pelo contrário, a execução está mais para uma telenovela com censura bastante branda. Embora o desenrolar da história não seja o mesmo, a ideia soa similar ao que Woody Allen faria com mais competência um ano mais tarde em Vicky Cristina Barcelona.

Desastre da Terra (Nick Lyon, 2016) 3/10

Com: Andrew J Katers, Brian Krause, Alexa Mansour, Tonya Kay, Evan Sloan

Produção televisiva extremamente ambiciosa e confusa, Desastre da Terra não perde tempo em mostrar o fenômeno que é a origem do tal desastre: num feixe de luz, a lua desaparece e todo o planeta é sacudido por uma destruição avassaladora. Depois que a poeira baixa os sobreviventes percebem que há dois sóis e cinco luas no céu. O que teria acontecido só começa a ficar evidente quando um homem amnésico (Andrew J Katers) recobra a consciência um ano após o evento fatídico. Em meio a encontros com outros sobreviventes e vários flashes de memória que o fazem ficar inconsciente, ele começa a entender seu papel no fenômeno e como poderia ajudar a revertê-lo. Eu fico tentando imaginar qual foi o propósito do roteirista, do diretor e do editor em bombardear o espectador com a quantidade absurda de flashbacks que domina a primeira metade da história, como se ela já não fosse confusa o suficiente. Num dado momento dá-se a entender que o protagonista tem uma família, mas tão rapidamente quanto a lua sumiu essa e outras ideias são abandonadas. Efeitos especiais de fundo de quintal são esperados em produções deste nível, mas o que dizer de nuvens de fumaça eletrificadas perseguindo as pessoas como se tivessem vida própria? O único aspecto técnico que funciona a contento é a trilha sonora de ação, que consegue transmitir certa empolgação de maneira genuína.

Conflito Fatal (Lloyd A. Simandl, 2000) 6/10

Com: Kari Wuhrer, Leo Rossi, Jennifer Rubin, Miles O'Keeffe, David Fisher

O conflito realmente é fatal para o planeta Terra no ano de 2029. Um terrorista maluco (Leo Rossi) é capturado pela polícia graças à atuação de uma habilidosa agente infiltrada (Kari Wuhrer), sendo em seguida enviado para uma colônia espacial juntamente com sua irmã igualmente megalomaníaca (Jennifer Rubin). Quando eles dão um jeito de escapar, tomar conta de uma nave de carga e rumar de volta à Terra com o objetivo de explodir Los Angeles, a agente volta a ser convocada para impedi-lo. O mais interessante é que para que possa fazer isso ela precisa dar uma paradinha providencial numa prisão feminina onde todas as detentas são marcadas como gado nas nádegas e possuem um alto padrão de beleza. Este é somente um dos detalhes que faz de Conflito Fatal uma ficção científica fora da curva mesmo em se tratando de produções de baixíssimo orçamento. Além de inserir passagens de apelo fetichista sem qualquer necessidade narrativa (porém sem nudez), o filme abusa da câmera lenta em cenas de luta enquanto a trilha sonora praticamente não pára (raros são os momentos de silêncio musical). As lutas, por sinal, são um desastre em matéria de ritmo e edição, e servem de complemento aos efeitos especiais de fundo de quintal e às várias situações simplesmente absurdas. A sorte é que ao vestir a carapuça da canastrice com louvor o elenco liderado por Kari Wuhrer jamais deixa que o filme fique desinteressante.

A Noiva do Re-Animator (Brian Yuzna, 1990) 7/10

Com: Jeffrey Combs, Bruce Abbott, Claude Earl Jones, Fabiana Udenio, David Gale

Em vista do sucesso relativamente inesperado do hoje clássico Re-Animator o lançamento de uma continuação era somente uma questão de tempo, e nesse sentido até que A Noiva do Re-Animator demorou um pouco para ver a luz do dia. A espera vale a pena porque a sequência não só mantém o tom de loucura megalomaníaca do filme original, mas vai além ao fazer uma espécie de homenagem-paródia ao clássico A Noiva de Frankenstein. Após a apoteose de sangue que encerrou a primeira história, Herbert West (Jeffrey Combs) e seu melhor amigo Dan (Bruce Abbot) continuam a trabalhar ao redor de muitos corpos decepados em solo estrangeiro, porém pouco tempo depois eles acabam retornando ao hospital onde tudo aconteceu. West não sossega o facho nem quando passa a ser investigado por um detetive de fala mansa (Claude Earl Jones), prosseguindo em suas pesquisas com o intuito de conceber um ser humano a partir de partes de corpos e do coração da namorada falecida do amigo, recuperado sorrateiramente da galeria de provas do hospital. A maluquice maior desta vez fica por conta da cabeça voadora de um dos personagens zumbificados no primeiro filme. E dá-lhe toneis e seringas com o soro verde capaz de reanimar cadáveres (ou pedaços deles), enquanto um interesse amoroso do doutor Dan (Fabiana Udenio) aparece para bagunçar os objetivos da dupla.

Texto postado por Edward em 11 de Agosto de 2020

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