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Há alguns anos atrás, mais precisamente 2009, o que era impensável aconteceu. A maior banda de todos os tempos voltou à ativa e se lançou numa turnê de shows ao redor do mundo. Tive a honra a oportunidade de assistir aos shows de retorno em duas ocasiões, ambas em 2009: Download Festival (Inglaterra) e Maquinaria Festival (São Paulo).
Passado um tempo, tudo apontava para o fim da reunião e novo fim da banda quando, em 2014, eles anunciaram que estavam trabalhando secretamente num novo disco. Produzido nos estúdios do baixista sem nenhuma influência de gravadoras externas e lançado em Maio deste ano de forma completamente independente, Sol Invictus chegou para suceder Album of the Year após nada menos que 18 anos.
Quem é fã de rock'n'roll ou de um artista sabe muito bem, ou deveria saber, como são as expectativas de se escutar material novo, inédito, após 20 anos. Eu evitei ouvir qualquer coisa sobre Sol Invictus e me recusei a assistir aos shows via Youtube até que o disco estivesse em minhas mãos. No dia em que recebi o CD eu estava doente, gripado e com a garganta praticamente fechada. Ouvi pela primeira vez no carro, e depois uma vez mais em meu quarto.
E afinal, o que dizer daquelas primeiras impressões?
UM DESASTRE
Simples assim. Decepção profunda, extrema. A ideia que tive era que Sol Invictus não continha nada do que era tão marcante no som que o Faith No More produzira nos discos anteriores. Não havia uma única música que saltasse aos ouvidos como um hit, como algo que pudesse ser instantaneamente reconhecido entre aqueles que apreciam a sonoridade dos caras. Minha esposa disse que a arte do disco, composta por fotografias antigas do que parecem ser de crianças em ritual de Halloween, parecia coisa de "filme de horror". Obviamente, eu não pude discordar dela.
E o disco ficou encostado em algum lugar da minha casa por três semanas ou algo assim.
Certa noite, porém, resolvi dar outra chance a ele. E uma fagulha meio que saltou das caixas de som. Havia algo ali que não estava certo (ou estava?), que me deu uma coceira auditiva danada. No dia seguinte ouvi o disco de novo, no carro, com o volume estourado. Baixei as letras à tarde. Cheguei em casa curioso, fui ao Youtube e assisti uns quatro ou cinco shows recentes em que eles tocaram as músicas de Sol Invictus.
E então eu compreendi. E me arrependi instantaneamente de meu comportamento até então vergonhoso diante da majestade de Sol Invictus, que em nada deve aos álbuns anteriores e, em sua singularidade, se estabelece como mais uma amostra de música à frente de seu tempo. Apesar de inúmeras tentativas toscas já feitas no mundo jornalístico, rotular o som do Faith No More nunca foi algo fácil, e isso é especialmente verdade no disco novo. Da mesma forma que Angel Dust em nada sucedeu tudo o que diz respeito a The Real Thing, Sol Invictus se recusa a soar como um sucessor fácil de Album of the Year. Acima de tudo, trata-se de um disco elaborado por cinco músicos que se mantiveram afastados uns dos outros por mais uma década, trabalhando em projetos diferentes e evoluindo isoladamente. Ao colocarem as rusgas de lado e se lançarem numa turnê que se mostrou mais bem-sucedida do que tudo o que haviam feito enquanto ainda estavam em atividade, eles não só resgataram uma base de fãs que nem mesmo sabiam que tinham, como também se ajustaram de tal forma que novas músicas vieram a surgir naturalmente.
O resultado é um trabalho sonoramente desafiador, e sob vários pontos de vista tão multifacetado quanto Angel Dust. Extremamente enxuto em suas 10 músicas e carregado de camadas e mais camadas do estilo que consagrou a banda, porém sem incorrer em repetição de fórmulas.
Acredito que boa parte do que faz esse disco tão bom deve-se ao longo período de shows iniciado em 2009. Afinal, um dos aspectos que marca as novas músicas é a força que cada uma delas possui quando tocada ao vivo. Graças à nova fase da banda, Sol Invictus parece ter sido produzido com essa mentalidade, com material composto e testado ao vivo enquanto eles estavam na estrada, num processo completamente contrário ao que a maioria dos artistas fazem: termina turnê e corre para o estúdio para diluir a criatividade no próximo disco – clean, rinse, repeat.
Em geral, o que mais chama a atenção nas novas músicas é a adição de camadas vocais adicionais, com backing vocals dos demais membros da banda. Superhero, em especial, é fantástica. Sunny Side Up não existiria sem a colaboração vocal do resto da banda. E Roddy assume papel principal nos vocais de Motherfucker. A mistura de ritmos e estilos, letras crípticas, vales sonoros, guitarras mais limpas, catarses rítmicas e percussão mais acentuada mantêm a identidade intocada do Faith No More de uma maneira que somente os fãs de longa data são capazes de perceber.
Vamos à impressão pessoal de cada faixa:
O disco todo é perfeitamente audível do início ao fim, mas neste momento minhas faixas prediletas são Superhero, Rise of the Fall e Matador.
E porque a bondade tocou o coração da minha esposa, informo que estarei em São Paulo em Setembro para ver o show ao vivo!
Texto postado por Edward em 5 de Agosto de 2015