Paula-Paula (Jesus Franco, 2010)
Com: Carmen Montes, Paula Davis, Lina Romay
Na tradição bastante familiar aos admiradores do cinema de Jesus Franco, Paula-Paula foi concebido com o mínimo de orçamento e recursos. Infelizmente, também seguindo a linha dos piores trabalhos do octogenário diretor espanhol, o filme é praticamente inassistível. Descrito pelo próprio Franco como uma "experiência audiovisual", Paula-Paula é na verdade uma tortura. Fotografado diretamente em mídia digital, o resultado é de uma pobreza narrativa que chega a ser desconcertante. Depois de algum tempo, o arremedo de história deixa de existir: Paula (Carmen Montes) é presa sob a acusação de ter assassinado sua colega dançarina Paula (Paula Davis). E só. O restante do filme é uma colagem de cenas em câmera lenta da dançarina espelhadas por uma linha divisória no meio da tela (Franco aparentemente estava deslumbrado pelo efeito) e um esfrega-esfrega interminável entre as duas Paulas, cujo senso erótico se esvai em menos de 5 minutos. O desleixo com a cenografia e a falta de um mínimo cuidado de produção são escabrosos, com holofotes perdidos em meio à cena e uma única sala que é reorganizada de forma porca para todas as tomadas do filme. Sinceramente, nem os mais fanáticos admiradores de Franco irão suportar esta "obra".
À Espera do Mal (Steven R. Monroe, 2005)
Com: Cerina Vincent, Dominic Zamprogna, Greg Kean, Eric Schweig, Matt Jordon
Mesmo com aquela aura escancarada de produção de baixo orçamento, o início de À Espera do Mal é promissor: criatura infernal é libertada de uma caverna secular por grupo de exploradores, transformando a vida de uma guarda florestal transtornada por um trauma recente (Cerina Vincent) numa jornada de terror. O aspecto mais espantoso do filme é o modo como alguns diálogos promissores são entrecortados por passagens estúpidas, além do uso totalmente inapropriado de canções românticas mesmo quando a pilha de corpos começa a se amontoar. Gostei do modo como o monstro gosta de brincar com corpos para assustar suas vítimas, mesmo que isso não tenha sentido algum dentro do contexto da história. O conceito físico da criatura, por sinal, lembra muito o do monstro de Olhos Famintos. Se o filme não usasse de subterfúgios tão manjados para expor a história (como o pesquisador que aparece do nada no meio da história para explicar como a mocinha deve lidar com o monstro), talvez o resultado fosse menos barato e rançoso, já que alguns efeitos da criatura são bem feitos e o elenco não compromete.
Liquid Sky (Slava Tsukerman , 1982)
Com: Anne Carlisle, Paula E. Sheppard, Susan Doukas, Otto von Wernherr, Bob Brady
Liquid Sky é um filme estranho. Tão estranho que apesar de todas as suas falhas é impossível não se sentir atraído por ele. Tudo em Liquid Sky é bizarro, da atmosfera totalmente fora da realidade ao modo com que o diretor/roteirista russo Slava Tsukerman conduz a história, que bebe da linguagem narrativa de Stanley Kubrick e representa um lado negro para a estética noir de Blade Runner, lançado no mesmo ano. Trata-se de um trabalho completamente independente e de baixo orçamento, considerado por alguns como o primeiro grande filme independente da história, e pode ser resumido sem medo como uma experiência única, imperdível para todos os que curtem cinema de mente aberta. De estrutura fragmentada, após algum tempo entende-se que a história envolve um disco voador que desce em Nova York à procura de drogas (liquid sky, uma gíria norteamericana para heroína). No entanto, as criaturas etéreas logo mudam o foco para uma substância que é produzida no cérebro humano quando as pessoas fazem sexo, e uma modelo que vive dentro do universo punk (Anne Carlisle) torna-se o epicentro do fenômeno.
Acreditem, Liquid Sky é bem mais fora dos eixos do que essa breve sinopse é capaz de indicar. Há inúmeras ideias malucas acerca dos ETs, dos personagens e do mundo da moda, que obviamente não vou colocar por aqui para não estragar a graça de quem ainda não assistiu ao filme. Há uma ênfase grande no uso de drogas e na sexualização da sociedade, com ecos críticos mais do que evidentes e algumas linhas de diálogo que impressionam pelo tom provocador, quase épico-apocalíptico. A direção de arte é um achado para um trabalho de baixo orçamento, tal qual a trilha sonora eletrônica e opressiva. Seria esse o resultado do choque cultural de se ter toda uma equipe russa filmando nos EUA? Vistas de forma isolada, as interpretações soam mecânicas, frias e sem vida, mas elas casam perfeitamente com o ambiente do filme. E se eu tive dúvidas sobre o talento do elenco, elas foram totalmente dissipadas assim que subiram os créditos finais. Fui pego completamente de surpresa! A melhor dica que posso dar é que não leiam nada mais sobre Liquid Sky antes de assisti-lo.
O Besouro Verde (Michel Gondry, 2011)
Com: Seth Rogen, Jay Chou, Christoph Waltz, Tom Wilkinson, Cameron Diaz
Dos programas de rádio da década de 30 até O Besouro Verde, o filme, várias foram as mídias onde o vingador mascarado que dá nome a este longa-metragem apareceu. Eu só não consegui identificar quem foi o iluminado que decidiu nomeá-lo no Brasil como "besouro", sendo que o inseto original é na verdade uma vespa (hornet). A mudança é plenamente apropriada, óbvio, tanto pelo gênero linguístico quanto pelo punch relacionado ao nome. Sobre o filme, que não tem vergonha nenhuma de se mostrar uma comédia escancarada, ele tira sarro do próprio protagonista e se recusa a tratá-lo sob qualquer ótica pré-estabelecida pelo subgênero de super-heróis. O Besouro Verde é o alter-ego de um ricaço mimado (Seth Rogen, também co-autor do roteiro) que se vê responsável por um império jornalístico após a morte súbita do pai. Ele inicia sua carreira de justiceiro às avessas depois de conhecer Kato (Jay Chou), ex-empregado do velho e expert em tecnologia e artes marciais, e juntos eles se tornam a pedra no sapato do maior chefão do crime organizado de Los Angeles (Christoph Waltz). Quando se entra no clima da história é difícil não se divertir, seja com a completa inaptidão física do Besouro ou com o virtuosismo cênico das cenas de ação. O filme poderia ter tido uma caracterização mais profunda para o carateca Kato e passar sem a presença da cara-de-ameixa Cameron Diaz, mas nem tudo pode ser perfeito num trabalho de super-herói que não se leva a sério. Do jeito que está, é uma excelente diversão e eu não reclamaria nada se uma sequência fosse anunciada daqui a alguns anos.
Bruna Surfistinha (Marcus Baldini, 2011)
Com: Deborah Secco, Drica Moraes, Cássio Gabus Mendes, Cristina Lago, Fabíula Nascimento
Sinceramente, o que se pode esperar da cinebiografia da mais famosa prostituta brasileira de todos os tempos? Sacanagem, óbvio, pois é disso que o povo gosta, e é isso que o povo quer. Infelizmente, a nova era não mais se apoia na pornochanchada escancarada dos tempos de outrora. Autora de blog e mais tarde escritora "de sucesso" de uma autobiografia, a tal Bruna ganhou os holofotes da mídia há um tempo atrás. O filme foca o período que vai de sua adolescência numa família de classe média alta até a fase final de sua experiência no ramo, passando por altos e baixos relacionados a problemas com drogas. Em nenhum momento isso deveria ser exemplo de vida, e mais uma vez o aspecto mais preocupante nesse trabalho é a ideia de que existe glamour no mundo da prostituição. Dito isso, Bruna Surfistinha, o filme, não faz esforço para ir além de uma estrutura linear e sem surpresas, abusando um pouco do formato episódico da mídia original. A introdução peca por não caracterizar a protagonista de forma mais incisiva, o que deixa Deborah Secco perdida na primeira metade do filme. Na segunda metade ela parece se sentir (e se mostra, se é que vocês me entendem) bem mais à vontade, mas é uma pena que a superficialidade predomine - como no trecho em que ela milagrosamente se "livra" do vício das drogas. Visualmente Deborah Secco não convence na parte em que é uma mocinha de 18 anos (faltou um trabalho de maquiagem), mas a produção pelo menos é caprichada e o senso estético do diretor denota bom gosto nas cenas de nudez.
The Toolbox Murders (Dennis Donnelly, 1978)
Com: Cameron Mitchell, Pamelyn Ferdin, Wesley Eure, Nicolas Beauvy, Tim Donnelly
Mais um filme controverso, The Toolbox Murders ganhou fama depois de ter sido proibido em alguns países. Sua característica mais marcante, desconsiderando a polêmica, é que o filme consiste num giallo produzido em solo norteamericano, ou seja, o idioma é o inglês, mas a atmosfera é muito parecida com os trabalhos de suspense surgidos na Itália na década de 60. As maiores semelhanças incluem a ênfase na violência e uma certa profusão de nudez feminina. E a diferença mais marcante fica por conta da resolução do mistério, que é feita bem antes do final e faz com que a história se desenvolva um pouco além do esperado. Tudo começa quando um estranho invade um conjunto de apartamentos e mata várias mulheres utilizando itens diversos de sua caixa de ferramentas: furadeira, martelo, chave de fenda, pregos, e por aí vai. Uma garota de 15 anos é raptada, e como a polícia se mostra incompetente na tarefa de encontrá-la seu irmão decide investigar por conta própria. O roteiro é de uma simplicidade meio decepcionante, pois não exige da plateia esforço algum de raciocínio. Em contrapartida, o uso que o filme faz de um punhado de canções é marcante, já que elas acabam por criar um contraponto bizarro ao serem tocadas enquanto o assassino executa suas vítimas. The Toolbox Murders perde a força à medida em que se aproxima do final, mas não deixa de ser uma boa pedida para os fãs de giallos menos intrincados e ambiciosos. Detalhe: o diretor, Dennis Donnelly, nunca comandou nenhum outro filme na vida, somente inúmeras séries de TV.
Texto postado por Edward em 4 de Março de 2011