A Fraternidade é Vermelha (Krzysztof Kieslowski, 1994)
Com: Irène Jacob, Jean-Louis Trintignant, Jean-Pierre Lorit, Frédérique Feder, Samuel Le Bihan
Encerrando a "trilogia das cores", Kieslowski brinda a plateia com a mais sutil e ainda assim mais contundente das três histórias. Valentine (Irène Jacob) é uma modelo que vive em Genebra, distante do namorado neurótico e ciumento, que está em viagem na Inglaterra. Por um acaso do destino, certo dia ela conhece um juiz aposentado (Jean-Louis Trintignant), senhor ranzinza e amargo que passa seus dias a espionar os vizinhos. E o que inicialmente começa como aversão transforma-se em algo mais. Além disso, há ainda uma terceira pessoa que insiste em cruzar o caminho de Valentine, sem que ela jamais chegue a se dar conta do que está acontecendo ao seu redor. A Fraternidade é Vermelha é o melhor da trilogia, e é por este filme que ela deve ser terminada (os dois primeiros podem ser assistidos em qualquer ordem). É incrível como somos levados a nos importar pelos personagens, pessoas fascinantes cada qual a seu modo. Irène Jacob é com certeza uma das mais belas atrizes que já vi num filme, além de extremamente talentosa - ou talvez seja culpa da câmera de Kieslowski, que aqui está totalmente abençoada. A história ensina muito sobre tolerância, arrependimento e amizade verdadeira, com um desfecho que pega o espectador pelo estômago. Que esse trabalho (o último da carreira de Kieslowski) tenha perdido a palma de ouro em Cannes para Pulp Fiction é simplesmente uma lástima.
Um Lobisomem Americano em Londres (John Landis, 1981)
Com: David Naughton, Griffin Dunne, Jenny Agutter, John Woodvine, Frank Oz
John Landis foi muito feliz quando realizou Um Lobisomem Americano em Londres. Fã inveterado dos clássicos estrelados por Lon Chaney Jr., Landis revigorou o filme de lobisomem com ousadia, tendo ainda a audácia de adicionar toques de comédia que funcionam muito bem, fazendo deste um dos melhores exemplares já feitos sobre o tema. Dois amigos norteamericanos fazem um mochilão pela zona rural da Inglaterra, sendo atacados por uma criatura bestial e inumana. Um deles morre, mas o outro sobrevive e é levado a um hospital de Londres, passando a ser atormentado por pesadelos e aparições indescritíveis, prenúncio de que algo terrível irá certamente ocorrer na próxima lua cheia. A ambientação macabra, a violência crua e o excepcional trabalho de maquiagem, agraciado com o primeiro Oscar da categoria, garantem uma diversão atípica dentro do gênero, naquele que eu acredito ser um dos filmes que redefiniram a estética do horror nos anos 80. Na minha modesta opinião, nenhum filme de lobisomem foi tão eficiente de lá para cá. Obrigatório para os fãs do cinema de terror.
Cisne Negro (Darren Aronofsky, 2010)
Com: Natalie Portman, Vincent Cassel, Mila Kunis, Barbara Hershey, Winona Ryder
Ao longo de uma carreira sólida com um único deslize claro (o pretensioso e equivocado Fonte da Vida), Darren Aronofsky se especializou em filmar histórias densas, carregadas de um aspecto humano delineado em personagens dúbios, capazes de inspirar empatia verdadeira apesar de reveses pessoais de natureza sombria. Cisne Negro não foge ao estilo, aprofundando-o ainda mais com uma narrativa de cunho perturbador. Bailarina talentosa (Natalie Portman) finalmente consegue o papel que tanto desejava no novo espetáculo de sua companhia teatral, mas a pressão a que ela é submetida tanto pelo diretor da peça (Vincent Cassel) quanto por sua própria luta para entrar dentro da personagem acaba trazendo à tona uma série de neuroses pessoais. Será ela capaz de corresponder às expectativas? Opressivo como nunca antes, o estilo de Aronofsky rende um filme que nunca deixa o espectador à vontade. A sensação de que algo muito errado está acontecendo permanece o tempo todo - mérito da interpretação magistral de Natalie Portman - e dá à história uma aura de horror genuíno, que culmina num desfecho que combina música e suspense de forma fantástica. Atenção ao elenco de apoio, que inclui ainda Mila Kunis e Winona Ryder, em pequena porém valiosa participação.
Santuário (Alister Grierson, 2011)
Com: Richard Roxburgh, Ioan Gruffudd, Rhys Wakefield, Alice Parkinson, Dan Wyllie
Um dos modos de se ver Santuário, alardeado com ênfase pelo próprio James Cameron como o primeiro filho cinematográfico da revolução em 3D feita por Avatar, é que ele não passa de um suspense dentro de uma caverna lamacenta. E isso é a mais pura verdade. Não há nada essencialmente errado no filme, mas a propaganda enganosa é algo poderoso em se tratando de cinema, e neste caso ela é forte. Isso é prova de que a tecnologia 3D não faz diferença para o sucesso ou fracasso de um filme. O que há de novo na história de um grupo de exploradores que fica preso numa caverna e precisa se virar para sobreviver enquanto ela é inundada aos poucos? Provavelmente nada. A execução do suspense é razoável, com passagens verdadeiramente tensas e algumas surpresas, e a maior parte do elenco pelo menos tenta fazer um bom trabalho. Apesar de brilhar numa única cena (quando ele se dá conta de que fez uma puta cagada mas não consegue colocar isso em palavras), Ioan Gruffudd está bem mal, para não dizer irritante. No geral, não dá para enaltecer um trabalho que não está disposto a mostrar algo além do que já foi visto em inúmeras outras ocasiões, principalmente diante da expectativa criada com o 3D. Abismo do Medo, por exemplo, foi bem mais barato de se fazer e tem muito mais substância.
Caça às Bruxas (Dominic Sena, 2011)
Com: Nicolas Cage, Ron Perlman, Stephen Campbell Moore, Robert Sheehan, Claire Foy
Primeiro grande equívoco de Caça às Bruxas: apesar do título em português, neste filme há apenas uma bruxa, e ela não deve ser caçada. Segundo grande equívoco: ninguém na equipe sabia se este deveria ser um filme de ação ou de horror, e o resultado vocês já podem imaginar como ficou. Diretor de altos e baixos, Dominic Sena enfia os pés pelas mãos em sua segunda parceria com Nicolas Cage (a primeira foi em 60 Segundos), entregando um trabalho que, dizem as más línguas, teve que ser retocado na pós-produção por Brett Ratner. No século 14, Cage é um cruzado que abandona suas tarefas sagradas após se dar conta da natureza hedionda de seus atos. Vagando em companhia do melhor amigo (Ron Pearlman), ele é capturado e forçado a escoltar uma suposta bruxa (Claire Foy) até o mosteiro onde a moça deverá ser julgada, supostamente acabando com a peste que assola a humanidade. A guinada final da história até que faz sentido, mas é uma pena que a execução do desfecho seja tão clichezenta. E eu pensando que veria uma nova encarnação para o ótimo O Caçador de Bruxas... A pequena e oculta participação da lenda Christopher Lee na primeira metade do filme é provavelmente o que há de melhor no longa.
Incontrolável (Tony Scott, 2010)
Com: Denzel Washington, Chris Pine, Rosario Dawson, Kevin Dunn, Kevin Corrigan
Incontrolável é inspirado em um evento real ocorrido nos EUA em 2001. O filme, obviamente, capitaliza em torno da ação e do suspense, que são levados ao limite graças aos recursos à disposição do diretor Tony Scott, um cineasta que tem refinado seu estilo com excelência nos últimos anos - cada vez dinâmico e perfeitamente alinhado ao que há de melhor no cinema mainstream de Hollywood. Denzel Washington volta a ser seu homem de confiança, na pele de um maquinista veterano que começa mais um dia de trabalho ao lado de um condutor novato (Chris Pine), em outra tarefa de rotina nas ferrovias da Pensilvânia. Quando um funcionário da companhia faz uma cagada homérica, um trem com uma carga de vagões altamente tóxicos se desgarra e começa a acelerar ao longo dos trilhos do estado, obrigando os heroicos protagonistas a entrarem em ação para evitar a catástrofe. Um primor técnico com ótimas doses de suspense, Incontrolável é entretenimento pipoca da melhor estirpe. A historieta rasteira e confusa envolvendo a vida pessoal do condutor feito por Chris Pine nem chega a arranhar a eficiência da história, cuja essência é bem mais centrada no que diz respeito à adrenalina provocada pelo desastre anunciado. Em destaque, a excelente trilha sonora de ação a cargo de Harry Gregson-Williams.
Texto postado por Edward em 17 de Fevereiro de 2011