Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, este não é mais um dos inúmeros pastiches de horror produzidos pela produtora inglesa Hammer. Na verdade, O Caçador de Bruxas é basicamente tudo o que qualquer filme da Hammer deveria ter sido em sua época áurea, o que não ocorria devido ao formato meio quadrado e carente de ousadia que não deixava que suas criações fossem muito além do regular em produções de baixo orçamento. O filme em questão é uma pequena gema que deve ser descoberta por todos os fãs de obras de horror com pano de fundo histórico.
A história se passa no meio do século XVII, período em que a Inglaterra se via dividida entre dois governantes que almejavam o controle do reino. Nesse mundo sem lei, o advogado Matthew Hopkins (Vincent Price) leva a cabo seu trabalho "santo" de identificar, interrogar e executar as bruxas e bruxos que infestavam as planícies inglesas. Sempre acompanhado de seu cruel ajudante (Robert Russell), Hopkins segue seu caminho de vila em vila, recebendo o ouro dos homens mais ricos para expurgar seus desafetos com requintes desumanos. Quando a cruzada de Hopkins atinge a família da bela Sarah Lowes (Hilary Heath), seu noivo e membro do exército Richard (Ian Ogilvy) jura pôr um fim à insanidade do auto-proclamado "general caçador de bruxas", nem que para isso tenha que virar as costas às leis que sempre defendeu durante toda a sua vida.
Embora as falhas técnicas do longa sejam extremamente evidentes, há um bocado de razões para se elogiar essa obra do jovem diretor Michael Reeves, que infelizmente viria a falecer alguns anos depois desse seu trabalho de estréia. Em poucos filmes Vincent Price esteve tão maligno, cruel e sádico. Aliás, uma das coisas que mais impressionam na película é seu nível de sadismo e violência gráfica, muitos anos adiante de seu tempo. A boa dose de nudez feminina também é um indicativo primordial que diferencia esta obra das criações da Hammer, sempre puritanas apesar dos temas mórbidos. Há inúmeras cenas de tortura, mortes por enforcamento, mortes na fogueira, mortes por afogamento, execuções por tiros à queima-roupa. Uma cena em especial é deveras perturbadora: a seqüência em que o caçador de bruxas, como que regendo sua sinfonia de morte, ordena a descida de três condenados num rio imundo à beira de uma ponte, todos com as mãos e os pés fortemente amarrados. Se afogar, é inocente. Se boiar ou gritar, é sinal de que o diabo está presente em seu corpo. Sinistro.
A música carregada de teclados parece não se encaixar sempre, e problemas crônicos com a fotografia (muito escura em certos trechos) aparecem aqui e ali. Apesar disso, o estilo do todo é absorvente, interessante e capaz de despertar reações genuinamente angustiantes. Um poema de Edgar Allan Poe declamado por Price abre e fecha o filme (Conqueror Worm, o título original) com eficientes requintes de bizarrice e insanidade. A história, dizem, é baseada em fatos reais. Outro dos acertos de O Caçador de Bruxas é o tratamento dado aos personagens, em especial ao sidekick sádico de Price. Talvez seja o sidekick mais valorizado de todos os filmes de terror que já vi. Ian Ogilvy, como a personificação do bem e da vingança, em determinados momentos remete à imagem futura do Luke Skywalker de Mark Hamill. Pelo menos até pouco antes do clímax, isso é certo.
Infelizmente, a pobre seção de extras do DVD só tem biografias magras dos atores principais, Vincent Price e Ian Ogilvy.
Texto postado por Kollision em 8/Dezembro/2005